A Universidade de Coimbra (UC), a partir de março, vai iniciar o projeto oito milhões de euros para digitalizar 30 mil livros centenários da Biblioteca Joanina.
De acordo com o comunicado enviado à Rádio Boa Nova, a construção da Biblioteca Joanina Digital (Joanina Digital Library) – que, até 2030, deverá integrar as cerca de 30 mil obras centenárias guardadas no piso nobre [principal] da biblioteca – avançará no âmbito de uma parceria com a Autoridade Literária de Sharjah (Sharjah Book Authority – SBA), que vai financiar o projeto com perto de oito milhões de euros (numa ação com o alto patrocínio do chefe de Estado de Sharjah, o Xeque Sultan bin Muhammad Al-Qasimi, distinguido em 2018 como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra).
O memorando de entendimento, que estabelece os termos do projeto de cooperação e colaboração entre a UC e a SBA, foi assinado esta quarta-feira, 21, pelo Reitor da UC, Amílcar Falcão, e pelo Presidente da SBA, Ahmed Bin Rakkad Al Ameri, numa cerimónia realizada precisamente na Biblioteca Joanina. A rodeá-los, nas estantes da biblioteca, estiveram os livros dos quatro cantos do mundo, maioritariamente editados entre inícios do século XVI e finais do século XVIII, que são o objeto principal desta parceria.
Segundo é avançado pela UC,este projeto tem como objetivo avançar progressivamente, ao longo de seis anos, com a digitalização dos cerca de 30 mil livros do piso principal da Biblioteca Joanina (que integram o catálogo de dois milhões de obras da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra) – começando, numa fase-piloto, nos primeiros 12 meses, pela coleção de publicações sobre o Médio Oriente, que será designada como “Biblioteca Sultan bin Muhammad Al-Qasimi”.
Todas estes livros – um acervo de valor incalculável, incluindo obras europeias de renome (como o De humani corporis fabrica, de Vesalius, ou a Astronomia nova, de Kepler) e muitas delas inéditas em formato digital (como o Atlante Veneto, atlas gravado por Coronelli, ou a primeira tradução portuguesa da Teoria das Marés, de Isaac Newton) – vão ficar disponíveis num repositório digital, em acesso aberto (livre e gratuito). Assim, além de ficarem acessíveis, à distância de um clique, às 500 mil pessoas que em média visitam anualmente a Biblioteca Joanina, vão também poder ser consultados por leitores e investigadores de todo o mundo.
Para lá de ficarem acessíveis online, na plataforma desenvolvida pela UC (que cuidará de todo o processo de digitalização, catalogação, arquivo e desenvolvimento das soluções tecnológicas), as coleções da Biblioteca Joanina Digital serão também disponibilizadas no portal do património cultural digital Europeana, que agrega livros, filmes e música provenientes de milhares de instituições culturais europeias.
O Reitor da Universidade de Coimbra realça a importância deste projeto, que deverá contribuir para a criação de um novo modelo de digitalização de coleções de livros antigos de bibliotecas históricas. “Este projeto constitui uma oportunidade única para a projeção, no universo digital, de uma das mais belas bibliotecas do mundo, estimulando soluções técnicas disruptivas e investigação inovadora, ao mesmo tempo que permitirá zelar pela curadoria e preservação deste acervo bibliográfico precioso e único”, declara Amílcar Falcão.
O Presidente da Autoridade Literária de Sharjah enfatiza a importância desta colaboração. “Sob a liderança visionária de Sua Alteza Xeque Dr. Sultan bin Mohammed Al Qasimi, Sharjah tornou-se um farol de iluminação. O projecto ‘Sultan bin Muhammad Al-Qasimi Libraty’ reflete isto à escala global. Aproveitando a experiência em digitalização da Universidade de Coimbra, pretendemos estabelecer uma biblioteca digital de grande importância académica. A Joanina Digital Library não só fornecerá acesso à preciosa coleção da Biblioteca Joanina, mas também funcionará como um canal para o conhecimento histórico, promovendo uma compreensão mais profunda entre continentes e épocas. Esta iniciativa solidifica ainda mais os laços entre Sharjah e Portugal, tendo em vista o intercâmbio e a preservação cultural”, afirma Ahmed Bin Rakkad Al Ameri.
Renata Veiga (Aluna Estagiária da Eptoliva)