“O inimigo do discurso filosófico é a opinião. Porque a opinião julga ter certezas e não se interroga. Por isso tanta gente dá opinião, têm certezas.” José Gil, filosofo português
Não sendo conhecedor de tecnologias, mas considerando-me possuir algum bom senso, advindo das experiências de vida, permito-me emitir uma opinião sobre a IA, mais sobre o social do que sobre o técnico.
Não tenho competência para abordar temas como o da “bolha especulativa”, o da “educação”, da “ciência”, da “saúde mental” ou da forma como os alunos aprendem pela crescente presença nas nossas vidas de todos os tipos de novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial.
Irei opinar, sabendo não ter certezas, sobre os riscos da IA na vertente da Liberdade e Independência, pois só uma pessoa independente pode dizer o que pensa, fazer o que diz, e ser o que faz.
“Todo este mundo está mudando drasticamente com a integração da IA na forma como as plataformas operam e como os indivíduos interagem com elas”, escreveu Francis Fukuyama, filósofo e economista político.
As redes sociais contribuíram significativamente para a polarização política, que assola quase todas as democracias ocidentais. Se, por um lado, elas permitem um maior e mais saudável escrutínio, por outro lado dificultam a implementação de um governo eficaz.
Em princípio, a internet e as redes sociais deveriam permitir a eliminação de informações imprecisas ou enganadoras, mas, na prática, a estrutura das plataformas de Mídia e informação levou ao resultado oposto, como o surgimento do populismo global em que se contestam não apenas valores e políticas, mas também informações factuais.
Resumindo: quem dominar a IA, domina a informação, as redes sociais, a política, a economia, a educação, as guerras, a saúde.
Indireta e diretamente perdemos autonomia e vontade próprias e não somos mais que recetores de “ordens” e “orientações” sobre o que devemos comer, estudar, aprender, fazer, votar!
Os donos da IA já nem tentam fingir o que é bom para a democracia ou para a sociedade e, a maioria de nós, consumimos todos os disparates gerados pela IA, pois eles têm o poder de decidir o que você vê, o que você silencia e o que você pensa.
É importante realçar que o propósito do OpenIA, do Anthropic, DeepMind, e de todas as outras é: AUTOMATIZAR TODO O TRABALHO HUMANO DA ECONOMIA.
A IA já contribuiu para a redução de emprego na América em 15%. Hoje qualquer escritório de advogados apenas contrata juniores, que são mais baratos, substituindo os seniores por um GPT-5 que trabalha 24 horas sem seguro de saúde, sem riscos de denúncias, sem greves nem absentismos.
Quando ouvimos encantados ou embasbacados os “donos” da IA a dizer que vão acabar com os terríveis empregos e que faremos só o que se gosta (praia, futebol, viajar) e que a IA é produtividade sem pessoas, então devemo-nos preparar para pagar aos donos da IA.
Serão os “donos” da IA que acumularão toda a riqueza do mundo trabalhando em escritórios com meia dúzia de cérebros a dominarem a economia.
Quando vejo nas TV’s do mundo liberal manifestações organizadas por sindicatos ou partidos “defensores” dos trabalhadores, a reivindicar menos horas de trabalho, mais salários, mais subsídios, mais benefícios, mais impostos às multinacionais interrogo-me se estarão a fazer a política dos Elon Musk, Peter Thiel, Larry Ellison, Mark Zuckerberg ou da sociedade, das pessoas, das empresas que apregoam defender.
O objetivo destes “donos” não é ajudar a humanidade, mas serem o próximo monarca do universo e estão a substituir a sabedoria da democracia liberal, das repúblicas ou de qualquer sistema por isto: estão a tentar colonizar toda a interação humana ao porem a nossa vida privada nos sistemas tecnológicos, que eles dominam, analisam, estudam e exploram.
A nossa intimidade está nas mãos deles!
Devemos refletir não só sobre os enormes progressos na saúde, na qualidade de vida, na melhoria das condições de trabalho, na criação de riqueza e benefícios que a sociedade em geral vai, e muito, usufruir com a IA, mas também sobre os perigos e riscos que têm de ser eliminados ou controlados.
“O desenvolvimento de uma inteligência alienígena/alheia à nossa natureza humana que nos é insondável, mina a democracia”, escreveu Harari, no seu livro Nexus.
Precisamos de um governo mundial para controlar todos os computadores, registar cada tecla pressionada, para garantir que as pessoas não programem uma IA perigosa, como defende Thiel? Não sei!
O desenvolvimento da IA está também nas mãos do partido comunista da China. Por coerência, a Europa, outra grande investidora na IA, é a única a legislar, ainda que incipientemente, sobre esta interligação da nossa vida privada e das influências e poderes da IA.
Em abril de 2021, a Comissão Europeia propôs a primeira lei da UE sobre inteligência artificial, estabelecendo um sistema de classificação de IA baseado no risco. A primeira lei abrangente do mundo sobre a IA!
Gostaria de ver a Europa a encabeçar essa liderança na investigação e legislação.
Carlos Brito
Outubro, 2025




























