O especialista Carlos Antunes disse esta tarde, na Rádio Boa Nova, que o concelho de Oliveira do Hospital atingiu o “planalto” no que respeita à incidência de novos casos de Covid-19. No espaço semanal de análise à pandemia, o professor e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa verificou que “a incidência está a estabilizar” mas de forma “muito lenta”.
Oliveira do Hospital integra o grupo de concelho com risco extremamente elevado de contágio de Covid-19 e assim deverá continuar “nas próximas semanas”. A seguir “ao detalhe” a evolução da pandemia no concelho de onde é natural, Carlos Antunes sabe que até ao dia 11 de janeiro “existiam 218 casos acumulados a 14 dias o que corresponde a 1132 infetados por 100 mil habitantes”, situação que coloca Oliveira do Hospital “acima de 960 casos”, ou seja no nível vermelho.
“Estamos numa espécie de planalto. Houve uma ligeira diminuição no Natal. Voltou depois a subir com a inclinação verificada antes do Natal. Nota-se uma estabilização. Estamos entre os 1060 e os 1130 infetados por 100 mil habitantes. A taxa de incidência diminuiu e está agora próxima de zero”, afirmou esta tarde o especialista. Agora, Carlos Antunes acredita que “as medidas estão a surtir algum efeito, mas não o que desejaríamos”. Explicou que quando um município chega aos 960 casos, por 100 mil habitantes, “as medidas deveriam puxar a incidência para baixo”.
“Tal como a nível nacional, também vejo que em Oliveira do Hospital a evolução é muito lenta, estamos no planalto e, ao fim de duas semanas, já deveriam estar a descer”. Carlos Antunes atribui este facto “à multiplicação de contactos no Natal e surtos que tenham ocorrido no concelho”. Diante de uma incidência “em valores elevados”, o especialista nota que tal é prenuncio de que “o concelho poderá continuar no nível extremamente elevado nas próximas semanas”.
Com o país prestes a entrar num confinamento geral, onde se contam mais de meia centena de exceções, entre elas o funcionamento das escolas, Carlos Antunes disse na Rádio Boa Nova que está preocupado, porque o país poderá estar a cometer “erros do passado”. “Se temos esse conjunto de exceções, mesmo que por um mês, podemos não ter o mesmo efeito de redução e achatamento da curva que tivemos em março. Em março era diferente. Tínhamos 400 ou 500 infetados ativos quando confinámos e hoje temos 116 mil. Na altura tínhamos 150, 170 casos por dia. Hoje temos 10 mil. É uma realidade completamente diferente. Todas as regiões, todos os concelhos, quase todos, têm o vírus a circular livremente na comunidade”, comentou.
Para “uma situação excecional”, Carlos Antunes entende que deveriam ser adotadas “medidas excecionais”. “Verificamos que não”, lamentou.
Mais do que com as medidas, Carlos Antunes diz estar mais preocupado com a capacidade de testagem no país. “Provavelmente estamos a chegar ao limite da capacidade de testagem. Isso é problemático, porque se o número de contágios chegou ao nível de 10 mil e, se a nossa capacidade de testagem não consegue detetar esses 10 mil, vamos progressivamente observando um número de novos contágios que não são apanhados pelo sistema e podem criar novas cadeias de transmissão. Ou seja, aquilo que ocorreu e identificámos, que na semana do Natal, fugiram do sistema cinco mil contágios, que terão criado novas cadeias de transmissão e contribuído para o aumento exponencial após o Natal”, explicou.
“Se a nível nacional não conseguimos passar dos 60 mil testes diários e os 25 mil testes ao domingo, como é que vamos testar a população estudantil? Ouvimos relato de muita gente de que está infetado e durante 10 dias não é contactado pelos responsáveis. Isso reflete uma escassez de recursos e incapacidade de testar o que precisamos de testar”, adiantou.
Para o especialista, o país enveredou “por uma estratégia que vai fazer muito mais mal à economia do que se fosse um confinamento completo, numa semana ou 14 dias”. Mas mais do que o confinamento, Carlos Antunes diz ser “mais apologista do aumento da capacidade de testagem”. “Demonstra-se pelos dados, que em outubro começamos a desacelerar quando aumentámos significativamente a testagem e passámos dos 20 mil testes diários para os 40 mil”.
As medidas são importantes “porque reduzem o número de contágios, a velocidade de propagação de infeção”. Mas para o especialista, a testagem também. ”É uma forma de desacelerar, porque quanto mais rapidamente identificarmos os infetados e os isolarmos, menos infetados circulam na comunidade”, explicou.