Ilda Aleixo, utente da Sant’Ana- Residência Sénior há três anos, comemora hoje, dia 6 de março, o seu 100º Aniversário.
Refira-se que a aniversariante conviveu, com muita proximidade, com a ilustre Amália Rodrigues. Foi estilista e amiga da conhecida fadista. “Estamos perante uma pessoa que sempre possuiu um talento enorme no mundo da moda nacional e internacional”, refere a direção da instituição, em comunicado enviado à Rádio Boa Nova.
Ilda da Graça dos Santos Aleixo, nasceu em Lisboa a 6 de março de 1921 e acabou por se tornar numa das mais talentosas estilistas e cúmplices da famosa fadista Amália Rodrigues. Durante muitos anos, a sua vida profissional consistiu em Alta-Costura em alguns ateliers de renome em Portugal e, após breve passagem por Angola, foi com 43 anos de idade que Ilda consegue um emprego num atelier de estilismo na casa Anna Maravilhas, local onde a sua vida muda por completo.
No decorrer do ano de 1967, a estilista teve o privilégio de conhecer pessoalmente Amália Rodrigues e, desde o primeiro momento, ganharam muita proximidade, muito possivelmente por terem praticamente a mesma idade. Enquanto a confiança com Amália Rodrigues continuava a aumentar, Ilda já lhe desenhava e elaborava vestidos de palco, como aquele que a fadista usou na atuação em Paris, no Teatro Olympia.
Já no início da década de 70, em plena crise política com a queda do Estado Novo, o contexto laboral do país agrava-se substancialmente, tendo o Atelier de Anna Maravilhas despedir todas as funcionárias incluindo Ilda Aleixo, que acaba mais tarde por ter o seu próprio atelier na sua casa do Estoril. De entre muitas clientes que a acompanharam após a sua ligação com Anna Maravilhas, ficou também a mais importante de todas, Amália Rodrigues. A fadista tinha grande apreço pelo trabalho de Ilda e assim mantiveram a relação profissional durante alguns anos.
Para fazer as provas dos vestidos, durante um certo período, era Amália Rodrigues que se deslocava até casa de Ilda, sendo que algum tempo depois já era a D. Ilda que iria visitar Amália. A relação pessoal entre ambas continuava a crescer, assim como a nível profissional, pois os vestidos que Amália pretendia para o seu guarda roupa já ocupavam grande parte do trabalho de Ilda, não havendo, por vezes, horas fixas para fazer as provas. “Tanto podia ser às duas da tarde como às cinco da manhã, dependida da disponibilidade de ambas”, refere Ilda.
Após o falecimento dos seus pais e do seu marido, Amália Rodrigues convida-a para ir morar consigo em São Bento, onde Ilda viveu cerca de oito anos, acompanhando-a para espetáculos e viagens tornando-se, assim, a sua fiel companheira. Desde essa data e até ao fatídico dia da morte de Amália Rodrigues, foi quase sempre a estilista Ilda que esteve do lado da fadista. E foi na manhã do dia 6 de outubro de 1999 que Ilda encontrou a fadista no chão da casa de banho do seu quarto. Em aflição, Ilda pensou que estivesse desmaiada e saiu a correr para “chamar ajuda”, porém “os bombeiros tentaram reanimá-la, mas não conseguiram”.
A vida acabara por separar, assim uma amizade pura de longa data. Contudo, Ilda, juntamente com outros amigos de Amália Rodrigues, em homenagem à sua fiel amiga, criaram um livro sobre a sua vida e ainda replicou 12 vestidos miniatura da fadista estando posteriormente expostos no Museu Nacional do Traje.
Após deixar a sua profissão, Ilda Aleixo foi viver para a casa do pai em Sinde (Tábua), onde permaneceu algum tempo até perceber que precisava de apoio e companhia dia e noite. Foi então, no dia 8 de fevereiro do ano de 2018 que Ilda Aleixo veio viver para a Sant’Ana- Residência Sénior onde se encontra até à data de hoje.
Hoje, a querida Ilda continua a partilhar as bonitas histórias de vida com a instituição. Quando questionada sobre o seu segredo para a longevidade, no meio de risos responde: “Não sei, talvez por ter tido sempre cuidado com a alimentação e dediquei-me sempre ao meu trabalho. Foi um trabalho que sempre me preencheu. Outra razão é a leitura, pois ao longo destes anos sempre li muito”.
Sobre os tempos atuais em contexto de pandemia, Ilda sente-se “triste como qualquer pessoa, por não poder sair, estar com os seus familiares e de ver tanta gente que infelizmente morre”. Neste momento, os seus principais passatempos são ler. “Passo os meus dias a ler. É algo que gosto e aqui [Sant’Ana – Residência Sénior] sinto-me segura”.
Por fim, questionada sobre o seu maior sonho, com o seu espírito de eterna jovem, Ilda respondeu que gostava de “ter a possibilidade de visitar uma amiga que está na Alemanha”, que conheceu na casa de Amália Rodrigues.
“Este ano, infelizmente, não poderemos fazer a festa que a D. Ilda Aleixo merece. O dia 6 de março deveria ser celebrado em grande. Assim, e dentro das limitações vamos celebrar à nossa maneira aqui na Sant’Ana – Residência Sénior, proporcionando uma pequena festa com o seu respetivo bolo de aniversário”, conclui a instituição, dirigida pelo Grupo IG, dos irmãos oliveirenses Rui e Carlos Gonçalves.