O oliveirense Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), está a estudar a evolução da pandemia da COVID-19 em Portugal comparando o seu comportamento…
… com o que acontece em outros países, como a vizinha Espanha, Itália, e outros países, mas também a China, onde a pandemia teve o seu início.Pelo método de estudo que utiliza, Carlos Antunes vem apontando o período entre 8 a 15 de abril como sendo a altura do pico da pandemia em Portugal.
Esta quarta-feira, em entrevista, na Rádio Boa Nova, o professor da FCUL verificou que no início desta semana se assistiu a um decréscimo do número de novos casos de COVID-19 em Portugal, mas que, seria uma situação que estaria fora da tendência, porque seria fim de semana, e mudança da hora. “É de esperar que quando há um número muito pequeno face à média dos dias anteriores, nos dias seguintes esse número aumente. Foi o que aconteceu ontem (terça-feira), com os tais 1035 casos, muito acima da média, da tendência. Hoje (quarta-feira), com mais 808, voltou novamente à tendência”, explicou. Carlos Antunes trabalha com “uma média móvel, dos últimos 12 dias da variação diária e a média tem-se mantido de forma muito coerente e está diminuir 1,7 por cento por dia”.
“Atualmente, estamos em 19 por cento. A taxa do dia foi de 11 por cento. A taxa média de 19 por cento está num comportamento expectável e posiciona o tal pico para meados de abril, 8 a 15 de abril, altura em que o número dos novos casos vai diminuir e vai começar a desacelerar. É um método que já está bem aferido como é o caso da Itália, que já terá atingido o pico. Esta análise que é feita também para Espanha, França e Itália mostra que a metodologia é robusta e eficiente na análise do comportamento de novos casos”, especificou Carlos Antunes. Explicou que, “cada método dá períodos diferentes”. “A Direção Geral de Saúde aponta o pico para meados de Maio. São métodos muito sensíveis à taxa média diária de novos casos”, frisou.
“Atingir o pico é um sinal positivo”, mas o professor da FCUL alerta que é “preciso cautela”. “A ocorrência do pico é importante porque nos dá a ideia de que estamos a suprimir o contágio. É a chamada fase da supressão. Estamos a controlá-lo e a impedir que ele cresça. Mas, depois do pico é preciso continuar com medidas de contenção. É preciso continuar, para estagnar o contágio, para se fazer aquilo que já se fala que é a mitigação, que é tentar minimizar o contágio. Ou seja manter o contágio a um número baixo que torne possível a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde.” Segundo Carlos Antunes “temos que ganhar imunidade, até aparecer a vacina daqui a 12 a 18 meses, temos que controlar a epidemia”. Na fase seguinte “vamos aumentar o número de infetados de forma controlada, mantendo isolados os mais vulneráveis, idosos e grupos de risco, porque não podem ser contagiados porque irão sobrecarregar o sistema de saúde”.
“Mas é preciso essa disciplina, esse regime, esse rigor de levar muito a sério esse isolamento e todas as medidas sanitárias necessárias. Até lá há que manter o esforço”
Num olhar para o que está a acontecer no concelho de Oliveira do Hospital, onde há apenas registo de um caso positivo de uma utente de um lar internada no hospital em Coimbra, onde contraiu o vírus, bem como nos concelhos vizinhos, Carlos Antunes disse esperar que este território “possa estar a passar um pouco ao lado da pandemia”.
“Sabemos que o grupo etário mais idoso está mais concentrado no interior. No litoral está a faixa etária mais jovem. A faixa etária intermédia está entre o interior e o litoral. O que mostra que há um maior isolamento da parte do interior relativamente ao litoral. Claro que os dois grandes focos, são Porto e Lisboa, onde estão os dois aeroportos, de onde veio o contágio por esse meio. Desde que foi tomada a medida de supressão e contenção a partir no dia 16, isso impediu que a propagação da epidemia se pudesse dar no interior. Esperamos que seja mantida sem necessidade dos tais cordões sanitários”, referiu Carlos Antunes.
Para o professor da FCUL a quarentena obrigatória que se tem verificado no concelho e na região a quem chega de fora, e o isolamento social “são as melhores medidas”. “Quando nós nos isolamos, reduzimos a susceptibilidade de contágio. Se mantivermos isolamento e se as medidas que os autarcas estão a adotar na região e no interior se mantiverem, podemos manter o contágio longe da nossa região de forma a fazer com que a epidemia passe um bocado lado. Mas é preciso essa disciplina, esse regime, esse rigor de levar muito a sério esse isolamento e todas as medidas sanitárias necessárias. Até lá há que manter o esforço”!