A presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) afirmou, ontem, que “muito pouco mudou” em quatro anos após o grande incêndio, e mostrou-se preocupada especialmente com a floresta, onde há muito por fazer.
Pouco mudou ou muito pouco mudou de acordo com a expectativa criada. Foram tantas as promessas e olha-se para o território e para a floresta e tudo permanece igual. Há muito pouca alteração na paisagem”, afirmou à agência Lusa Dina Duarte.
Para a responsável da associação, o território “precisava de estar diferente, mas não está e precisava de estar mais seguro e não está”, sendo a grande preocupação da instituição que a tragédia de 17 de junho de 2017 “não volte a acontecer.
É a área da floresta que me preocupa. É aí que está o grande conflito de interesses que nos rodeia – é o interesse dos proprietários em permanecerem com o lucro e das empresas ligadas à economia da floresta”, frisou.
No entanto, Dina Duarte mantém a expectativa de que ainda haja uma mudança na floresta do território, dominada pela monocultura do eucalipto.
“Não fará sentido que tudo permaneça igual e nada seja feito em termos centrais ou em termos locais, em termos públicos ou privados. Quatro anos depois da tragédia, há uma floresta completamente abandonada onde muito pouco está feito e aquela que não está abandonada dificilmente os proprietários tomarão uma decisão de cortar o que agora está em crescimento e que daqui a quatro ou cinco anos dará lucro”, acrescentou, frisando não perceber porque “não há trabalho feito”.
A presidente da AVIPG notou também que, passados quatro anos, ainda há zonas de sombra no que toca às telecomunicações no território, “onde ninguém consegue falar com ninguém e onde o 112 não consegue sequer chamar”.
Na área da economia, Dina Duarte considera que não se sente grandes diferenças face a 2017, continuando o território a ser pouco atrativo, propondo uma economia não tão centrada no setor florestal e capaz de responder às necessidades dos jovens que crescem naquela região do Pinhal Interior.
Questionada sobre o julgamento relativo às responsabilidades pelas mortes e feridos no incêndio de junho de 2017, a responsável salientou que a associação pretende que “seja feita justiça e que seja consequente”.
“Possivelmente, a composição do banco dos réus não é a composição completa e total que deveria existir. Há um conjunto de coisas que falharam e não vemos lá os representantes dessas falhas. A maior parte dos arguidos terão uma ligação direta ao território e deveriam estar outros sem ligação ao território, que deveriam ser corresponsabilizados pelas falhas”, disse.
“Morreram 66 pessoas e ficou tudo igual. Tem que haver diferenças, nem que seja na consciência das pessoas, que têm que alterar procedimentos, quer em termos locais quer em termos nacionais”, asseverou.