«Cingir a nossa atenção aos assuntos terrestres seria limitar o espírito humano»
Stephen Hawking
Num mundo cada vez mais GLOBALIZANTE e numa Europa, a que pertencemos, cada vez mais alargada e unida, devemos refletir sobre o que representa para os europeus em geral e, em particular para a nossa região, estar no seguimento deste movimento.
As regiões diferenciam-se umas das outras por terem um conjunto de características próprias, a que se chama IDENTIDADE, em que o individuo se enquadra quase automaticamente na partilha de valores, princípios, ideias, vivências, emoções, vontades e objetivos.
Num mundo de rápidas e profundas mudanças onde as tecnologias, a Internet, a Netflix e as redes sociais contribuíram para o afastamento das populações dos antigos lugares de convívio, como tabernas, igrejas, cinemas, mercearias, festas nos bombeiros, onde as COMUNIDADES se misturavam e confraternizavam, partilhando vontades, sentimentos e emoções, pergunta-se: o que restou às comunidades para expressarem a sua Identidade?
As Comunidades de Oliveira do Hospital e de Tábua poderiam ter uma identidade desportiva comum?
É quase óbvio dizer que a principal forma de identidade para a maioria das pessoas em grande parte do mundo é realmente o futebol, que se tornou o espaço popular número um, no qual o conceito de identidade nacional (Seleção Nacional) e regional (clubes) é reproduzido, imaginado, inventado, tornando -se um lugar de convívio e partilha coletiva. O futebol é, pois, o fenómeno cultural mais popular ao serviço das nossas comunidades.
Passou a ser uma característica forte da nossa identidade e uma área que os políticos nacionais e regionais devem apoiar como indispensável para manter viva uma Comunidade ativa e reativa à polarização do individualismo, que se espalha negativamente pela juventude e pelo resto da sociedade.
Apoiar o futebol é ótimo. Termos a comunidade local no estádio e no online é ótimo. Temos os munícipes convivendo, comunicando, solidarizando-se, partilhando sentimentos e emoções, o que a tecnologia não proporciona e frequentemente impede. Parte do apelo do futebol, no século XXI, é que é um dos raros lugares onde nos sentimos parte de uma comunidade. E todos nós nos unimos por essa ideia. Em nenhum momento isso fica mais claro do que durante um grande jogo decisivo!
Na verdade, é interessante ver como as pessoas que não estão verdadeiramente envolvidas com o futebol de clubes se tornam, de repente, parte de ‘nós’. Naquele momento somos um só Concelho, uma Família retemperada e motivada para enfrentar os dias seguintes de dificuldades e preocupações, mas também de esperança e sonhos, melhorando a saúde mental tão afetada pela vertigem de acontecimentos do mundo em que agora vivemos. E isso vale para muita gente. Acho que as pessoas querem fazer parte disso.
Num mundo individualizado há uma necessidade por esse tipo de experiências coletivas, o que deve ser tido em conta. Em comunidades como a nossa, pequenas e do interior, tudo se torna mais custoso e difícil, exigindo por isso mais esforço, desde o recrutamento de recursos humanos, à constituição e implantação de empresas, à formação e inovação, até aos ganhos de dimensão nos mercados tão necessária num mundo globalizante.
As nossas comunidades têm de refletir, analisar e debater como trabalhar e se organizar para aproveitar mais e melhor as sinergias existentes no mundo do nosso futebol.
- Quando se tem um estádio como o de Tábua porquê um bairrismo serôdio que rema contra os ventos?
- Quando se tem uma equipa de futebol já com a visibilidade nacional do FCOH, porquê não lhe dar consequência e uma maior valorização nacional?
- Quando o futebol tanto contribui para a saúde mental de jovens e adultos, podendo tirar os jovens dos vícios da ociosidade e os adultos de um egoísmo individualizante e doentio dentro das comunidades, porque se pensa o futebol como apenas 11 jogadores aos pontapés na bola?
- Quando o futebol, encarado não só como fator cultural de sociabilidade e confraternidade, mas também como veículo de promoção económica e social capaz de melhorar e desenvolver nossa Comunidades, porque recusar o caminho do futuro?
Defendo que o futebol deve ficar ao serviço das NOSSAS COMUNIDADES e não entregue a SAD’s viciadoras e negociantes de sentimentos e emoções. Os nossos autarcas e munícipes, devem pensar mais além e com mais ambição, aproveitando as sinergias humanas e os meios físicos existentes para se ter um clube na primeira divisão nacional.
Este ambicioso clube será o expoente da representatividade das capacidades de trabalho, de valores e de princípios próprios das nossas empresas e gentes, beirões habituados a sacrifícios, à luta e a vencer, ousando ser diferentes. Na verdade, a popularidade universal e a centralidade social do futebol levam a que o simples comportamento desportivo de uma equipa adquira significações sociais e simbolismos de vária ordem, superando em muito o resultado de um mero jogo de futebol.
Que haja visão e inovação nos nossos pensamentos e ações de forma a deixarmos pegadas nos caminhos que percorremos!
Junho, 2024
Carlos Brito