Segunda-feira, Junho 30, 2025
  • A Rádio Boa Nova
  • Empresa
  • Editorial
  • Liga de Amigos
  • Programação
  • Contactos
Rádio Boa Nova
  • Passou na Boa Nova
  • Desporto
  • Oliveira do Hospital
  • Tábua
  • PODCASTS
  • Mais
    • Informação
    • Programas
    • Região
    • Política
    • Cultura
    • Sociedade
    • Educação
    • Nacional
    • Opinião
    • Vídeos
OUVIR EM DIRETO
No Result
View All Result
Rádio Boa Nova

Opinião: «Meia dúzia de safanões a tempo contra essas criaturas sinistras» História e memória da PIDE

redacao por redacao
1 de Setembro, 2022
em Opinião, Última Hora
Reading Time: 7 mins read
A A
Tertúlia “não tem objetivo de comemorar Fátima, mas de debater Fátima”  
148
PARTILHAS
1.6k
VISUALIZAÇÕES
PartilharTweetarEnviar

No espaço de Opinião na Rádio Boa Nova, Luís Filipe Torgal apresenta o artigo – «Meia dúzia de safanões a tempo contra essas criaturas sinistras» História e memória da PIDE.  Luís Filipe Torgal é professor de História do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, investigador colaborador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20) e autor de vários livros e artigos científicos ou de intervenção cívica.

«Meia dúzia de safanões a tempo contra essas criaturas sinistras»

História e memória da PIDE

«O fascismo nunca existiu». No seu estilo paradoxal e desconcertante, o ensaísta Eduardo Lourenço utilizou esta expressão sarcástica para demonstrar que o Estado Novo foi, afinal, um regime fascista envergonhado, camuflado, paternalista, encoberto por uma roupagem legalista.  

Um dos instrumentos repressivos do regime foi a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE, 1945). Esta descendeu, sucessivamente, das seguintes organizações: Polícias de Informações de Lisboa e do Porto (PI, 1926, portanto criada pela Ditadura Militar, 1926-1933), Polícia de Informações do Ministério do Interior (PIMI, 1928), Polícia Internacional Portuguesa (PIP, 1931), Polícia de Defesa Política e Social (PDPS, 1932) e Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, 1933). Já na fase do Estado Novo Marcelista, entre 1969 e o golpe militar de 25 de Abril de 1974, através de uma nova remodelação cosmética — que replicava a encenação de 1945, a qual atribuiu à polícia política um nome mais inócuo, embora lhe tenha conferido um maior profissionalismo —, foi rebatizada de Direção-Geral de Segurança (DGS). 

Importa aqui não escamotear que a Primeira República (1910-1926) também teve uma polícia com funções de vigilância e prevenção de «crimes políticos e sociais», a qual foi reorganizada durante o consulado Sidonista (1917-18). Porém, esta polícia nunca beneficiou dos poderes alargados e discricionários da PIDE, porquanto as suas ações restritas estavam sujeitas ao escrutínio do Parlamento, dos diversos organismos do Governo e da imprensa.

A PIDE foi, gradualmente, incumbida de competências mais vastas. Tornou-se um dos pilares do regime e uma das pedras basilares da sua longevidade. Preveniu, dissuadiu e reprimiu «crimes políticos e sociais» atribuídos a comunistas (que foram as suas principais vítimas), anarquistas, sindicalistas, «reviralhistas», republicanos democráticos de diversas tendências, monárquicos, católicos «progressistas» e grupúsculos de esquerda radical. Vigiou, perseguiu, repreendeu e encarcerou operários, estudantes e «intelectuais» mais politizados, bem como outros setores socioprofissionais. Fiscalizou estabelecimentos prisionais para crimes políticos (Aljube, Tarrafal, Caxias e Peniche). Controlou, nas fronteiras, a legalidade dos passaportes de cidadãos portugueses e estrangeiros e as atividades dos engajadores de emigrantes clandestinos. Espiou «associações secretas» interditas pelo regime e escrutinou e saneou os funcionários públicos civis e militares acusados de expressar convicções «subversivas», «antinacionais» e «antissituacionistas». Colaborou com os serviços de censura. Combateu os movimentos sindicais e fiscalizou a implantação da nova ordem corporativista. Reprimiu a contestação anticolonial, na “metrópole” e no “ultramar” português, e durante a guerra colonial forneceu aos militares portugueses informação privilegiada acerca dos movimentos independentistas.  

Para cumprir com zelo todas as suas incumbências, socorreu-se do contributo de outras polícias, das forças armadas, da Legião Portuguesa e de todas as estruturas do regime e do aparelho distrital e local, assim como do auxílio coercivo ou espontâneo da população. E recorreu aos expedientes mais discricionários que lhe permitiram criar uma ambiência de medo e dissuadir eventuais dissidentes: interceção de correspondência; escutas telefónicas; prisões arbitrárias, sem mandato de captura judicial e muitas vezes escoradas nas denúncias mais ou menos maliciosas de «informadores» (vulgarmente chamados de «bufos»); confisco de livros e de periódicos censurados; desterro forçado das vítimas; recrutamento de uma vasta rede de «informadores»; aferição de informações também oriundas de muitos delatores e cúmplices voluntários; intimidação, coerção e manipulação dos suspeitos de partilharem pensamentos e atos anti-estadonovistas; extração de depoimentos através de interrogatórios violentos, com recurso a torturas («estátua» e privação do sono) e espancamentos, métodos estes que foram sempre negados pelo regime; instrução de processos-crime quase sempre sancionados pelos tribunais plenários, em que as testemunhas de acusação eram elementos da própria PIDE e os arguidos e os seus advogados estavam impossibilitados de fazerem a sua defesa; homicídios, como foram os casos mais mediáticos do general Humberto Delgado, candidato da oposição ao Estado Novo de Salazar nas eleições presidenciais de 1958, e da sua secretária Arajaryr Campos.  

Nas décadas de 60 e 70 do século XX, a PIDE beneficiou de uma rede imensa e fundamental de «informadores» (não menos de vinte mil), recrutados ou voluntários, provenientes dos mais diversificados setores sociais e profissionais, mas não terá excedido os três mil funcionários administrativos e policiais, geralmente providos de pouca instrução e originários das classes sociais mais baixas, os quais eram dirigidos por diretores que respondiam perante o ministro do Interior e, sobretudo, diante de Salazar, o chefe do Governo. Assim, a PIDE não terá sido um «Estado dentro do Estado», mas um instrumento eficaz ao serviço de um regime político autoritário, oligárquico, burocrático e ultracentralizado no seu ditador. Salazar que numa entrevista concedida em 1933 a António Ferro, a propósito da repressão contra os seus opositores, subscrevia a tese de «meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras», que inspirou a epígrafe deste texto. António Ferro que dirigiu o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) e foi o argumentista “oculto” d`A Revolução de Maio (1937), um dos mais emblemáticos filmes de propaganda do Estado Novo, que retrata a conversão de um revolucionário bolchevique ao regime de Salazar testemunhada por agentes de uma polícia política bem organizada, civilizada, compreensiva e humana.     

Se, por um lado, foi propagada, logo após o 25 de Abril (e, até antes disso, por alguns setores mais radicais do próprio Estado Novo), uma representação memorialista, por vezes hiperbólica, de um organismo policial tenebroso, omnipotente e omnisciente, que incutiu o terror nos portugueses, coagindo-os a obedecerem e a submeterem-se à ordem vigente. Por outro lado, é também possível aquilatar que, durante o Estado Novo, uma grossa fatia de portugueses não deixou de se acomodar, de interagir amiúde com a PIDE e até de, oportunisticamente, a instrumentalizar. Prova disso é, por exemplo, o número relevante de cartas de denúncias voluntárias recebidas nesta polícia, motivadas por vingança, inveja, rivalidades ou alegado dever de lealdade com a suposta pureza moral e ideológica do regime, as candidaturas espontâneas de gente desempregada que ambicionava ingressar nos quadros da PIDE, e as petições dirigidas a agentes desta polícia para que resolvesse abusos patronais e conflitos pessoais. Estes documentos, coligidos e analisados por Duncan Simpson, foram encontrados dispersos pelos processos do Arquivo da PIDE/DGS depositados na Torre do Tombo e pelo Arquivo do Ministério do Interior, que tutelava a polícia política (Duncan Simpson, Cartas portuguesas à PIDE, 2022).

A PIDE tem sido objeto de sucessivos trabalhos de investigação historiográfica que se complementam e têm vindo a oferecer uma perspetiva mais objetiva, problematizadora, polifónica e holística sobre a sua ação.

Não obstante, tem também sido motivo de uma acesa polémica académica. De um lado estão Rui Ramos e Duncan Simpson (e outros), que relativizaram a violência política salazarista, sustentaram que a maioria dos portugueses foram mais «cúmplices» do que «vítimas» desta polícia e acusaram alguns historiadores de produzirem uma história ortodoxa da PIDE (e do próprio Estado Novo) inquinada por interesses memorialistas antifascistas e por proselitismo político (podcast O resto é História, de Rui Ramos e João Miguel Tavares, «Duncan Simpson e as cartas portuguesas para a PIDE», e Duncan Simpson, op. cit., 2022). Do outro lado encontram-se Irene Pimentel e Fernando Rosas (e a maioria da comunidade académica), que, afinal, não menosprezaram, na sua obra, o tratamento das formas de ligação entre a PIDE e setores da população, considerando até Rosas serem estas ligações um dos segredos da longevidade do regime (Irene Pimentel, A História da PIDE, 2007, Informadores da PIDE, 2022, e Fernando Rosas, Salazar e o poder, 2012). Pimentel acusou Simpson de «apropriação, deturpação e falsificação» do seu trabalho (Público, 21-02-2021). Rosas considerou que Ramos construiu uma História «desproblematizadora», «superficial», «historicamente insustentável», dirigida ao «grande público», que está «empapada de ideologia». «Uma ideologia que faz passar a visão da Primeira República como um regime ditatorial, “revolucionário” e de “terror”, por contraponto a um Estado Novo ordeiro e desdramatizado, quase banalizando a sua natureza política e social, transfigurado em ditadura catedrática, em regime conservador moderado e aceitável, apesar de um ou outro abuso» (Público, 5-09-2012). Na linha de Rosas e Pimentel, outros acusaram Ramos e Simpson de pretenderem fazer uma História «cor-de-rosa» ou mesmo revisionista ou até negacionista do Estado Novo. Versão da História deste período que, acrescente-se, pode tornar-se especialmente perigosa, numa época em que a memória dos portugueses sobre os 41 anos de ditadura salazarista e marcelista se vai desvanecendo e os movimentos populistas vão, cada vez menos sorrateiramente, ganhando lastro…

O breve texto de divulgação aqui editado foi escrito a partir de trabalhos de investigação assinados por Maria da Conceição Ribeiro, Irene Pimentel, Fernando Rosas, João Madeira, Luís Reis Torgal, Luís Farinha, Renato Nunes, Paulo Marques da Silva e Duncan Simpson.

Uma das mais recentes obras de investigação que versa sobre a PIDE é o livro «Brandos Costumes… O Estado Novo, a PIDE e os intelectuais», que será editado, em finais de setembro, pela Temas e Debates. Foi coordenado por Luís Reis Torgal e tem a participação de Heloisa Paulo, Julião Soares de Sousa, Luís Reis Torgal, Luís Filipe Torgal, Paulo Marques da Silva, Renato Nunes e Vítor Neto. O livro recorreu aos processos individuais da PIDE/DGS existentes na Torre do Tombo, bem como a outras fontes, para analisar como algumas «figuras “exemplares” do panorama cultural português» — Tomás da Fonseca, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Miguel Torga, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Namora, Jorge de Sena, Natália Correia, Amílcar Cabral e Luís de Stau Monteiro — foram escrutinados pela PIDE.    

Luís Filipe Torgal

redacao

redacao

Leia também

Ricardo Cruz faz balanço positivo e garante que “FACIT ainda tem potencial para crescer”
Destaque

Ricardo Cruz faz balanço positivo e garante que “FACIT ainda tem potencial para crescer”

30 de Junho, 2025
Tábua contesta deslocalização de helicóptero de Emergência Médica de Viseu para Ovar
Informação

Tábua contesta deslocalização de helicóptero de Emergência Médica de Viseu para Ovar

30 de Junho, 2025
Oliveira do Hospital “é o maior bastião do CDS-PP a nível distrital”
Destaque

Oliveira do Hospital “é o maior bastião do CDS-PP a nível distrital”

30 de Junho, 2025
Utentes da ARCIAL recebem batismo de voo
Informação

Utentes da ARCIAL recebem batismo de voo

30 de Junho, 2025
“Oliveira está no bom caminho. Vamos continuar a fazer mais”, afirma José Francisco Rolo
Informação

“Oliveira está no bom caminho. Vamos continuar a fazer mais”, afirma José Francisco Rolo

30 de Junho, 2025
 Posto de Turismo de Seia e Cineteatro reabrem ao público
Informação

Seia celebra feriado municipal a 3 de julho com distinções e concerto de Paulo Gonzo

30 de Junho, 2025
Pedro Coimbra preside a Comissão Parlamentar de Economia e Coesão Territorial
Informação

Pedro Coimbra preside a Comissão Parlamentar de Economia e Coesão Territorial

30 de Junho, 2025
 Região: GNR deteve homens suspeitos de dois incêndios devido ao uso de rebarbadoras
Informação

Mais de 90 concelhos do continente em risco máximo de incêndio

30 de Junho, 2025
Região de Coimbra apresenta Rota do Medronho. Abrange nove Municípios, entre os quais Oliveira do Hospital, Tábua e Arganil
Informação

Região de Coimbra apresenta Rota do Medronho. Abrange nove Municípios, entre os quais Oliveira do Hospital, Tábua e Arganil

29 de Junho, 2025
Carregar Mais
Seguinte
GNR reforça ações de fiscalização ao cumprimento das medidas COVID-19

Distrito Coimbra: 14 detenções, 478 infrações e 87 acidentes na última semana

Município oferece 50 toneladas de alimentação a produtores e pretende “alargar freguesias beneficiárias de ajudas”

Município oferece 50 toneladas de alimentação a produtores e pretende “alargar freguesias beneficiárias de ajudas”

DESCARREGUE A NOSSA APP

As nossas Freguesias

Vice Versa – o debate político na Rádio Boa Nova

Opinião

João Pedro Caseiro: “Porque é que não conseguimos fixar jovens qualificados em Oliveira do Hospital?”
Opinião

Caseiro e atleta José Carlos Pinto integram comissão de honra de Marques Mendes

por redacao
25 de Junho, 2025
0

O jovem lagarense João Pedro Caseiro integra a Comissão de Honra Nacional da candidatura de Luís Marques Mendes à Presidência...

Ler mais
Candidatura “Oliveira, O Motivo” vai estar em debate no Vice-Versa

Candidatura “Oliveira, O Motivo” vai estar em debate no Vice-Versa

17 de Junho, 2025
“Olhando para cima”. Carlos Brito analisa situação desportiva em Oliveira do Hospital e Tábua

Opinião: “Mediocridade – a condição de alguém que podendo fazer o melhor se contenta ao possível”   

14 de Junho, 2025
João Pedro Caseiro: “Porque é que não conseguimos fixar jovens qualificados em Oliveira do Hospital?”

Opinião: “É importante saber em que é que o candidato do CDS-PP discorda do candidato do PSD”

11 de Junho, 2025

O programa do Agrupamento de Escolas

Um projeto para moldar o futuro digital da Europa

As nossas rubricas

original

Seja amigo da Rádio Boa Nova!

PODCAST

Pub – Oferta Formativa EPTOLIVA

Super Pista: oiça aqui o Podcast dos programas

As mais recentes

Ricardo Cruz faz balanço positivo e garante que “FACIT ainda tem potencial para crescer”

Ricardo Cruz faz balanço positivo e garante que “FACIT ainda tem potencial para crescer”

30 de Junho, 2025
Tábua contesta deslocalização de helicóptero de Emergência Médica de Viseu para Ovar

Tábua contesta deslocalização de helicóptero de Emergência Médica de Viseu para Ovar

30 de Junho, 2025
Oliveira do Hospital “é o maior bastião do CDS-PP a nível distrital”

Oliveira do Hospital “é o maior bastião do CDS-PP a nível distrital”

30 de Junho, 2025
Utentes da ARCIAL recebem batismo de voo

Utentes da ARCIAL recebem batismo de voo

30 de Junho, 2025
“Oliveira está no bom caminho. Vamos continuar a fazer mais”, afirma José Francisco Rolo

“Oliveira está no bom caminho. Vamos continuar a fazer mais”, afirma José Francisco Rolo

30 de Junho, 2025
 Posto de Turismo de Seia e Cineteatro reabrem ao público

Seia celebra feriado municipal a 3 de julho com distinções e concerto de Paulo Gonzo

30 de Junho, 2025

Pub

A Rádio Boa Nova no Rally de Portugal

Os nossos livros

Rádio Reportagem


COOPERATIVA RÁDIO BOA NOVA, CRL
Av. Calouste Gulbenkian, s/n
3400-060 Oliveira do Hospital
IBAN-PT50 0045 3380 40167960882 18

Telf/ 238605200/2/3/4/5-Fax/ 238605201  “chamada da rede fixa nacional”
E-mail:  radioboanova1002@gmail.com

Site:  radioboanova.sapo.pt

NIF – 501 843 019

N.º Registo na ERC: 423098

CAE: 60100   /  SIC: 4832

ANACOM:
N.º Licença Serviço de Radiodifusão – 20370
Serviço Fixo  : 505018
Registo INPI N.º 643805

  • A Rádio Boa Nova
  • Empresa
  • Editorial
  • Liga de Amigos
  • Programação
  • Contactos

Copyright © Radio Boa Nova - Todos os Direitos Reservados | Desenvolvido por Inovve Agência Web Design

No Result
View All Result
  • Passou na Boa Nova
  • Desporto
  • Oliveira do Hospital
  • Tábua
  • PODCASTS
  • Mais
    • Informação
    • Programas
    • Região
    • Política
    • Cultura
    • Sociedade
    • Educação
    • Nacional
    • Opinião
    • Vídeos

Copyright © Radio Boa Nova - Todos os Direitos Reservados | Desenvolvido por Inovve Agência Web Design