Os presidentes das secções regionais das Ordens dos médicos e dos enfermeiros da região Centro lamentaram hoje que o aumento do número de camas em enfermaria e unidades de cuidados intensivos não esteja a ser acompanhado de mais recursos humanos.
“Não temos ainda a avaliação do número [de profissionais em falta] concreto, mas é completamente insuficiente, dando uma sensação de segurança errada aos doentes”, criticou Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM).
Em declarações à agência Lusa, este responsável mostrou-se “muito preocupado” com o aumento sistemático de camas na região para doentes com covid-19, sem contratação de mais profissionais, o que obriga a “correr riscos”.
Segundo Carlos Cortes, “o aumento do número de camas dá a sensação de que não se entrou em colapso e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda tem grande capacidade de resposta, o que é mentira”.
“Até podíamos abrir 10 mil camas, que se não aumentassem o número de profissionais de saúde o efeito era zero”, sublinhou o dirigente, considerando que a solução não é aumentar camas “sem aumentar as contratações”.
O presidente da SRCOM considera que, no atual cenário, as soluções passam por organizar melhor os hospitais e os serviços, criando uma coordenação das camas a nível nacional e “não hospital a hospital”, e pedir ajuda externa, como admitiu na segunda-feira a ministra da Saúde, Marta Temido.
Carlos Cortes criticou ainda o apelo de Temido, que pediu aos cidadãos com sintomas da covid-19 para recorrerem aos Centros de Saúde, contrapondo que o correto é ligarem para a Linha SNS 24 ou para os Centros de Saúdes antes de se deslocarem.
Também o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros recordou que, em plena pandemia, entre os meses de julho e dezembro de 2020, o Governo “deixou emigrar mais de 1.200 enfermeiros, negando aplicar medidas similares aos parceiros europeus, quando alteraram os padrões remuneratórios e procederam à contratação de todos os profissionais disponíveis, inclusive enfermeiros portugueses”.
“No início da pandemia, tomámos várias posições, tendo em conta o que se passou em países como Itália e Espanha, mas a resposta foi que o SNS era suficiente, criando a ilusão de que era elástico e que dava resposta às necessidades”, disse Ricardo Correia de Matos à agência Lusa, lamentando que o Governo tenha deixado emigrar cerca de 1.200 profissionais, dos quais 350 eram da região Centro.
De acordo com o dirigente, em setembro e outubro de 2020, Portugal “oferecia contratos de quatro meses, quando todos os países da Europa contratavam todos os recursos disponíveis”.
Salientando o cenário “catastrófico” em alguns hospitais da região Centro, Ricardo Correia de Matos referiu que agora “não existem profissionais no mercado para contratar” e que o país “vai viver situações dramáticas até ao final do ano”.
Além do baixo rácio de enfermeiros, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros frisou o facto de, atualmente, estarem ausentes “todos os dias centenas de enfermeiros por isolamento profilático ou quarentena, o que aumenta as dificuldades”.
“Não existe nenhum hospital do país que consiga garantir a segurança de quem lá vai”, sublinhou o responsável, alertando ainda para o cansaço daqueles profissionais, “pelo que não é possível assegurar a devida qualidade sem rotatividade dos enfermeiros para descanso”.
Para Ricardo Correia de Matos, a solução passa por criar condições e projetos profissionais para que os profissionais emigrados regressem ao país, mesmo não “sendo com as condições muitas boas que têm nos países de acolhimento”.
“É lamentável que Portugal seja um país que importa ventiladores e exporte profissionais de saúde e, brevemente, provavelmente também doentes”, enfatizou.