Rafael Dias (PSD/ CDS-PP), presidente da Junta de Freguesia de São Gião, é um dos autarcas de freguesia mais novos do país. Eleito quando tinha 21 anos, o jovem autarca confessa que “a paixão à terra” levou a que embarcasse no desafio de presidir esta Junta de Freguesia do concelho de Oliveira do Hospital.
Em entrevista à Rádio Boa Nova, no âmbito do ciclo de entrevistas ‘Junta à Conversa’, Rafael considerou que “a sangria de pessoas” que está nestes “territórios do interior do país” é o “maior desafio, mas ao mesmo tempo a maior motivação”.
“Desde tenra idade” ligado à política, Rafael e o seu “grupo de geração” acharam que “São Gião precisava de sangue novo e de ideias novas”. “Nem tudo foi um mar de rosas, mas se calhar, noutra fase da minha vida não teria tido esse ímpeto natural de me lançar às feras, por assim dizer, e agarrar o desafio”, disse.
O jovem autarca destacou ainda “o património natural e a beleza peculiar” da freguesia, referindo que “muitas vezes as pessoas saem para fora sem perceberem que há uma riqueza por explorar cá dentro”. “Creio que o papel de um jovem autarca também é muito esse, é pegar numa freguesia envelhecida, que às vezes até se esqueceu de si própria e que se esqueceu até da sua existência, dar um bocado esse safanão e dizer, não, estamos aqui e queremos que São Gião exista por mais 40, 50, 100 anos”, afirmou.
Nascido e criado na freguesia de Nogueira do Cravo, Rafael recorda como surgiu a paixão por São Gião: “Desde que me lembro, desde que nasci, sempre fui a São Gião passar largas temporadas. Essa paixão foi-me passada, sobretudo, pela minha saudosa avó, pela minha Maria Alice. Quando ela me pegava pela mão e me levava para as quintas dela, que ela ia cultivar para o monte, e eu ficava sempre impressionado, parecia que estava até numa espécie de desenho animado de um filme, de olhar para aquelas paisagens, ver a água a passar, o rio a correr, daquele ímpeto, daquela imponência que tinham os carvalhos, os castanheiros. Foi isso que acabou por me deslumbrar”.
Na Rádio Boa Nova, Rafael deu conta do que mudou na freguesia desde a sua chegada, considerando que mudou “sobretudo a dinâmica”, dando como exemplo a ativação do Grupo Desportivo Sangianense e a atenção dada às associações culturais e recreativas.
Destaca também a “marca” que foi criada em torno da freguesia. “Hoje fala-se de São Gião”, frisou, defendendo que a Festa do Medronho veio contribuir para isso.
Só em São Gião há mais de 100 casa devolutas e esse também tem sido um desafio que a autarquia tem tentado contornar servindo, muitas vezes, de intermediário.
Na entrevista, Rafael deu conta de algumas obras levadas a cabo pela autarquia, nomeadamente a requalificação no lavadores “já antiquíssimos”, o espaço criado na Rua Fonte Lameira, “uma casa de devoluta que já causava perigo, não só sanitário, como até de risco de derrocada”, que foi demolida, tornando o espaço “completamente harmónico com o resto da arquitetura, através da madeira e do granito e hoje é um espaço de convívio”.
Destacou também a criação do Miradouro de São Gião “ justamente por cima do postal da aldeia”. Outra “obra de grande fôlego” que se vai iniciar são as “instalações sanitárias, o espaço de arrumos”, uma infraestrutura em Rio de Mel”, para dignificar também o Cambeiro, que se realiza após o Natal.
Concluídas estas obras, o autarca considera, “com orgulho”, que o “manifesto eleitoral” fica “90 por cento cumprido”.
“Sinto-me com o dever cumprido e irrequieto por cumprir toda a estratégia que eu quero pôr em prática na freguesia. Mas sinto-me orgulhoso do trabalho que temos vindo a fazer, até porque o meu trabalho ali também foi de crescimento. Aprendi muito. Errei também. Não há nenhum autarca perfeito”.
Rafael assume que não tem “problema nenhum” que as pessoas o abordem “na rua, num café ou em qualquer evento” até porque “é esse o desígnio de um presidente de Junta”. “Não há bem uma hora de atendimento. A hora de atendimento é constante”, justificou.
Numa lógica de proximidade com a população mais idosa, a autarquia proporciona, nas instalações da Junta de Freguesia, sessões de cabeleireiro e de manicure”.
O jovem autarca deu conta de que “a primeira coisa” que o executivo concretizou foi “colocar um terminal de pagamento para as pessoas mais velhas poderem fazer os seus pagamentos com o seu cartão bancário, seja de água, seja de luz”.
Abordou também a Festa do Senhor dos Aflitos, “uma festa que é polarizadora também do Vale e da região” e um “reencontro de gerações”.
“Infelizmente” a Junta de Freguesia “não tem capacidade de intervenção” na Praia Fluvial de São Gião e no Parque de Campismo Fundação Albino Mendes da Silva. No entanto, constata que são pontos atrativos no que à afluência de visitantes diz respeito. Na Rádio Boa Nova, revelou, ainda assim, que “haverão surpresas muito boas para quem visitar aquela praia fluvial, a um nível não só de infraestrutura, mas sobretudo daquilo que são eventos e dinâmicas de lazer”.
Na entrevista foi ainda abordado o projeto “Observatório Astronómico em São Gião”, o grande vencedor do Orçamento Participativo Jovem, um “orgulho” para a autarquia. A propósito, Rafael adiantou que “a Junta de Freguesia vai ter um protocolo com a Universidade de Coimbra justamente porque o maior radiotelescópio amador do país está em São Gião”. “Vamos pela primeira vez receber alunos de Mestrado de Astronomia na nossa freguesia no próximo verão para trabalharem de perto com o radiotelescópio e para ficarem hospedados justamente na Praia Fluvial. É mais uma forma não só de captar novas gentes para a freguesia, mas também de as fazer conhecer a freguesia”, adiantou.
No ‘Junta à Conversa’, Rafael Dias mostrou a sua intenção de se recandidatar ao cargo “por uma última vez”. “Acho que os projetos têm prazo e acho que as pessoas não se devem eternizar no poder e nos cargos”, concluiu.
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