Num comunicado enviado à Rádio Boa Nova este sábado (4), a Junta de Freguesia de Meruge condena “as quatro fábricas de queijo situadas na Catraia de São Romão / Carragosela” por aquilo que descreve como “uma criminosa descarga de efluentes industriais” no leito do Rio Cobral.
A autarquia liderada por João Abreu (CDU) qualifica a ação como “um crime ambiental reiterado e impune há mais de 20 anos”. “Acabou a safra do Natal, os tanques das fábricas estão cheios, vá-de lhes abrir, pois sabem que têm as ‘costas quentes’ e por isso o crime compensa”, continua.
“Nem as autoridades municipais, nem os serviços do Ministério do Ambiente, nem as autoridades policiais fazem nada para travar esta manifestação de arrogância e desrespeito pelas mais elementares leis e regras de responsabilidade ambiental”, acusa. “As entidades oficiais, Câmara de Seia, Ministério do Ambiente, GNR, Agência Portuguesa do Ambiente e outras entidades não podem fazer vista grossa a esta reiterada e gravosa poluição dos prados, dos lençóis freáticos, das margens do Rio Cobral, que põem em risco a saúde e a qualidade de vida das populações ribeirinhas das localidades de Torrozelo, Várzea de Meruge e Meruge”, salientam.
“Os governos e as autoridades têm mão pesada para quem ‘rouba um pão’ num supermercado porque tem fome, mas são complacentes com aqueles que do cimo do seu poder económico agem fora da lei, absolutamente impunes”, condena a mesma missiva.
“O dito Queijo da Serra”: edilidade põe em causa autenticidade do produto, que afirma “feito com leite importado de vários países”
Na nota que fez chegar às redações, o executivo da freguesia diz que “quem protege os prevaricadores” é “quem licencia e não fiscaliza as fábricas de produção do dito Queijo da Serra”, e põe mesmo em causa a autenticidade do produto ali fabricado, afirmando que é “feito com leite importado de vários países”.
O Queijo Serra da Estrela DOP, para cumprir as regras de certificação, é obrigatoriamente produzido com leite de ovelhas das raças bordaleira ou churra mondegueira, proveniente dos concelhos de Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Manteigas, Penalva do Castelo, Mangualde, Nelas, Carregal do Sal e Oliveira do Hospital e ainda algumas freguesias dos concelhos de Aguiar da Beira, Trancoso, Guarda, Covilhã, Tondela, Viseu, Arganil e Tábua, não podendo por isso ser produzido com leite estrangeiro.
ETAR coletiva é solução proposta pela Junta
Na mesma nota, além das críticas que faz à atual situação, a Junta de Freguesia de Meruge sublinha que “tem protagonizado o caminho das soluções para este problema” e por isso reafirma a proposta de “construção de uma ETAR colectiva (para todas as fábricas), dotada dos mais modernos métodos de tratamento dos efluentes lácteos”, sublinhando que “têm de ser as autoridades municipais e governamentais a impor a solução aos industriais”, sob pena de prevalecer a prática das “descargas ilegais” para o Rio Cobral.