A Língua Azul está a afetar os ovinos um pouco por todo o país. A doença já matou milhares de animais e, segundo a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), o vírus já atingiu todos os distritos de Portugal continental. A doença viral, provocada por uma picada de mosquito, leva à febre catarral ovina e, consequentemente, à morte dos animais.
A patologia tem gerado muita preocupação entre os agricultores e pastores, uma vez que os animais não estão vacinados contra este vírus. Uma preocupação que se estende à Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE). “Isto preocupa-me porque a vida de pastor já é difícil, eles já têm grandes dificuldades”, refere Manuel Marques, presidente da ANCOSE.
Para o responsável, o que se verifica no país já se traduz num “surto”, sobretudo “na região do Alentejo”. Segundo Manuel Marques, na Região Demarcada da Serra da Estrela já há dois casos identificados, nomeadamente no concelho de Oliveira do Hospital. “O nosso médico veterinário Miguel Miranda foi chamado à instalação, recolheu o sangue para análise e, de facto, provou-se que é mesmo a doença da Língua Azul”, explica.
O presidente da ANCOSE esclarece que, estando o ovino doente e afetado por esta doença, a situação é quase “irreversível”. “O ciclo imediato da doença é efetivamente a morte do animal. Todos nós temos visto, através da televisão, os casos que estão a acontecer no Alentejo, onde se vê animais mortos aos montes”, verifica.
Tendo em conta esta dura realidade, Manuel Marques sublinha a importância da prevenção. Assim, a ANCOSE “já está a recomendar aos seus associados para que façam uma desinfeção nos estábulos onde os animais pernoitam, onde estão instalados, que é fundamental”. No entanto, o responsável defende que “o bom seria a vacina, uma forma preventiva para que os rebanhos não apanhem esta doença”. No seu entender, “a vacina é muito cara, custa três euros por animal”.
“Ora, os pastores já vivem com algumas dificuldades, portanto, três euros por cada animal, fora a mão de obra da intervenção ou da aplicação da vacina, não é fácil”, afirma, considerando que o Governo, nomeadamente a DGAV, deve “financiar a compra das vacinas e a própria ANCOSE assumiria os custos da aplicação por médicos veterinários”.
Segundo Manuel Marques, a Associação já entrou em contacto com a DGAV e espera que a situação “seja resolvida a curto prazo”. O presidente defende que “a vacina da Língua Azul deve tornar-se obrigatória e não facultativa”. Manuel Marques garante que “não vai parar na defesa dos pastores e na defesa do interior”.
“Filho e irmão de pastores”, o presidente da ANCOSE assume que lutará “até à última consequência” e “se algum dia se verificar que os interesses dos pastores estão em causa”, estará “à porta da Assembleia da República”.
Refira-se que a Região Demarcada da Serra da Estrela conta com cerca de 70 mil animais, dos quais 24 mil são de raça bordaleira, responsável pela produção do leite para Queijo Serra da Estrela, um “produto fundamental para a gastronomia da região”. “Se não houver um bom rebanho, não há bom Queijo Serra da Estrela”, justifica.
A ANCOSE, que “hoje respira uma saúde financeira inigualável, se tivesse condições de pagar todas as vacinas aos seus associados”, assim o faria. “Mas para 80 mil animais, com a vacina a três euros cada, quanto é que daria?”, questiona, considerando, por isso, “incomportável para a associação”.
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