Esta sexta-feira, no habitual espaço de opinião “Ca$h Resto Z€ro”, Vítor Neves, olha para “a banalização do mal” que resulta da medição da pandemia “todos os dias”. Constata que “a vacina pode matar o vírus, mas não mata a miséria em que o vírus nos vai deixar”.
“No medir das coisas que impressionam, nestes dias em que a pandemia nos subtraiu o ar da vida, é a banalização do mal que está no topo daquilo que nos incomoda.
Contamos infetados, na Rádio e na TV, todos os dias.
Contamos mortos, na Rádio e na TV, todos os dias.
Contamos pessoas em cuidados intensivos, na Rádio e na TV, todos os dias.
Contamos internados, na Rádio e na TV, todos os dias.
Medimos a evolução dos números, dos doentes, dos mortos e dos recuperados, numa curva que teima em não achatar, todos os dias.
Fazemos isto todos os dias. Confinados na impotência, na incapacidade e no desconhecimento.
Fechamo-nos em casa, fugimos dos outros, na esperança de que o vírus não nos bata à porta. Assim existimos, agora, todos os dias.
E é o todos os dias que nos habitua. E é o hábito que torna banal. E é o banal que nos gera a indiferença, o cansaço e o egoísmo.
Esta banalização do mal todos os dias de que ninguém fala é assustadora e ameaça ter vindo para ficar.
A vacina pode matar o vírus, mas não mata a miséria em que o vírus nos vai deixar.
Onde é que reside a esperança? Reside na nossa capacidade de ver e de saber, de saber que a recuperação do nosso viver não pode permitir o conviver banal com o mal.”
“Ca$h Resto Z€ro” – Um olhar sobre a política, a economia e as pessoas.