Estará o interior condenado ao abandono?
Estará Região de Coimbra definitivamente arredada de um futuro tão vistoso como o seu passado?
Quero acreditar que não e que vamos a tempo de combater o inverno demográfico que afeta o nosso país, com indicadores não menos preocupantes na Região e distrito de Coimbra.
Verifica-se uma tendência na população em idade ativa, particularmente na faixa etária até aos 35 anos, de migrações dentro e, principalmente, para fora do nosso país, que faz soar os alarmes há já algum tempo. O primeiro tipo destas migrações é a migração para os centros urbanos. O segundo tipo, para o qual o primeiro também contribui, é a emigração. Abordo este assunto enquanto jovem cidadão do concelho de Oliveira do Hospital – o concelho mais interiorizado do distrito de Coimbra -, cuja atividade profissional (e académica) se vai estabelecendo na capital de distrito. À semelhança da minha experiência, centenas de milhares de jovens passam pelo mesmo, neste e noutros concelhos, deste e doutros distritos.
Não é desproporcional que as capitais de distritos, ou cidades médias que os incorporam, assegurem uma quantidade significativa de postos de trabalho e concentrem em si os principais serviços essenciais, comerciais e recreativos. Desproporcional é não encarar distritos como o de Coimbra de forma integrada, concentrar os principais serviços essenciais e comerciais na sua capital, sem haver um complemento de acessibilidades e mobilidade adequado. Este distrito, infelizmente, não dispõe de uma rede de transportes públicos, muito menos de infraestruturas, adequada aos interesses da população. É praticamente impensável trabalhar no centro urbano deste distrito e residir em concelhos periféricos, principalmente em concelhos menos litoralizados ou centralizados. Este mesmo problema, de falta de acessos infraestruturais adequados, afeta os concelhos em si, que não se tornam atrativos para captar empresas e organizações.
A concentração de grande parte da oferta nestes espaços urbanos, sem acessibilidades adequadas ao redor, faz aumentar o custo de vida nos mesmos, o que contribui para mitigar o seu fator de atratividade. O caminho para a Região Centro, e para o distrito de Coimbra em particular, para que não se torne mera paisagem desertificada, passa por algo como uma “Área Metropolitana” de Coimbra. É assim que imagino o futuro desta Região: uma área integrada, com facilidade e comodidade nos acessos a serviços e bens essenciais, comerciais e recreativos, com uma rede de transportes públicos robusta e adaptada às necessidades populacionais; uma área onde o cidadão do concelho mais interiorizado tem tantos acessos e garantias de cumprimento dos seus direitos como o cidadão do concelho mais centralizado.
Recolocando o foco na juventude, o triste Fado que a assola não é (apenas) de Coimbra. Em Portugal, os jovens recebem uma espécie de questão com resposta de seleção de itens, deste género: “escolha até três dos seguintes itens: a) carreira na área; b) salário digno; c) habitação própria; d) vida social; e) constituir família; f) ficar perto dos pais.”. E sorte daqueles que conseguirem escolher três!
Quando a capital de distrito não consegue corresponder, a solução passa, muitas das vezes, pelo Porto, Lisboa ou, cada vez mais frequente, emigrar. A verdade é que o nosso país não se preparou e não se adaptou à mudança das características e das necessidades da população em idade ativa. As normas laborais estruturantes e a organização do mundo do trabalho, os seus setores e serviços, pouco modificaram desde há três décadas. No entanto, o mundo lá fora e cá dentro mudou. Atualmente, saem do Ensino Superior, por ano, quase cinco vezes mais diplomados do que há três décadas. A população em idade ativa é diferente. Permitam-me ser claro: é um enorme avanço civilizacional o aumento de qualificações e o aumento da acessibilidade ao Ensino Superior. No entanto, esta falta de adaptação ao nível do mundo laboral cria problemas para o desenvolvimento do país e para a felicidade das pessoas.
É fundamental dar oportunidade às pessoas para conhecer a “sociedade”, ou o “mundo” se assim entendermos, sem as obrigar a deixar a sua “comunidade”. Cada vez mais, teremos de reforçar a capacidade cidadã de saber estar com o outro e com o mundo. As pessoas precisam de tempo de ócio para crescer enquanto individualidades pertencentes a coletividades, num mundo globalizado, mas que não deve ser distante, e para isso precisam de espaços e oportunidades.
Continuarei a sonhar com uma realidade que se aproxime a esta ou que, pelo menos, não nos condene aos desertos.
João Pedro Caseiro
Ex presidente da Associação Académica de Coimbra
Doutorando em Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra