Com o novo ano letivo no horizonte, a EPTOLIVA – Escola Profissional de Oliveira do Hospital, Tábua e Arganil concentra-se nos grandes desafios que passam pela modernização tecnológica de todos os espaços escolares e pelo processo de internacionalização, com o acolhimento de alunos da Ilha do Sal (Cabo Verde) . Convidado a fazer o balanço do último ano e a antecipar o que aí vem, o presidente da direção, Daniel Costa, referiu em entrevista à Rádio Boa Nova que “a EPTOLIVA é um mundo desafios”. Com sede em Oliveira do Hospital, a escola reforçou, já no ano passado, a presença em Tábua e o objetivo é crescer nos dois concelhos.
Rádio Boa Nova – A EPTOLIVA está a preparar-se para um novo ano letivo e a apostar na divulgação da oferta formativa e captação de novos alunos. Que balanço faz do ano que agora terminou?
O balanço do ano letivo é extremamente positivo. Superámos os objetivos que tínhamos a vários níveis, nomeadamente ao nível da readaptação para um ano letivo normal, sem constrangimentos. Ao nível pedagógico, os resultados foram bons e ao nível do desempenho escolar também atingimos o nosso objetivo principal que é a sustentabilidade financeira e pedagógica da escola. Foram superados todos os objetivos. Acima de tudo, foi um ano de muita atividade, muito dinâmico, com participação em concursos e outras iniciativas e com excelentes resultados. Para terem uma ideia, fizemos uma média de quase de uma atividade por aluno. Tivemos quase 300 atividades e quase uma atividade e meia por dia naquilo que são as semanas escolares, o que quer dizer que esta escola está sempre em movimento. É uma escola que não para, com participação em concursos, projetos nacionais e internacionais, mobilidades e no dia a dia junto da comunidade. Reforçámos bastante aquilo que é a aposta da escola, que é uma escola diferente, que trabalha para e com a comunidade. Nesse aspeto foi um excelente ano, com excelentes resultados.
RBN – Foi mais um ano de afirmação da EPTOLIVA no território?
Sim, não tenho dúvidas disso, não só no nosso território, mas também a nível nacional e até a nível internacional, com prémios que obtivemos com os nossos alunos e com os nossos docentes. A própria escola, em termos daquilo que é a sua qualidade de ensino, foi reconhecida. Estivemos como oradores, num painel do Congresso Nacional das Escolas, onde estiveram as escolas todas do país, as escolas profissionais, agrupamentos de escolas públicas e escolas privadas.
Estivemos recentemente também no Congresso da ANESPO – Associação Nacional de Escolas Profissionais, com um painel sobre inovação pedagógica, em que fomos convidados a partilhar aquilo que é o nosso modelo de inovação pedagógica hitech, bastante elogiado e que foi alvo de bastante curiosidade por parte de todos.
Estamos hoje a fazer parte de um projeto piloto, no âmbito da parceria que temos com a Ilha do Sal em Cabo Verde, em que estamos a trabalhar com o Ministério da Educação de Cabo Verde para ajudar a implementar também o ensino técnico e de superação profissional.
No fundo, ao nível de alunos, que é sempre esse o nosso foco, foram conseguidos excelentes resultados. Ao nível de docentes também, bem como de reconhecimento da qualidade do ensino da escola.
RBN – Como é que se consegue dinamizar uma escola nesse sentido e muito vocacionada para a área tecnológica? É o corpo docente que está preparado e em constante formação? É o próprio diretor da escola, que tem uma visão mais além para esta escola? O que é que tem contribuído para esta afirmação da EPTOLIVA?
Tal como costumamos dizer, só com o contributo de todos conseguimos ter sucesso. Portanto, não sai de uma cabeça ou de duas, sai de um conjunto de pessoas. Obviamente que a direção tem uma estratégia definida. E depois há o inconformismo que todos temos, que nos leva em cada ano, a querermos fazer algo diferente. Temos novas ideias, novos desafios e um corpo docente que está preparado e motivado para isso. Não tenho dúvidas sobre isso. Temos diretores de curso e diretores de turma excecionais que também nos desafiam diariamente. E depois temos o que é importante, que são alunos que são sempre o nosso foco.
Esta forma de estar da escola, que é uma escola diferente, que proporciona um conjunto de atividades diferentes que os leva a passar menos tempo dentro da sala de aula e mais tempo em contexto de comunidade, em contexto do mundo real fundo, também tem sido muito estimulante para nós e percebemos que muitos destes alunos, nessas atividades, se superam a eles próprios. Costumo dar o exemplo de alunos, que muitas vezes, têm percursos alternativos de educação inclusiva, e depois pegam num projeto e fazem projetos excelentes, com grande qualidade. O que quer dizer que há uma componente que eles privilegiam, que é a componente prática, em que eles são muito bons.
Na EPTOLIVA há esta complementaridade entre as capacidades de cada um dos alunos, a capacidade do corpo docente, a sua experiência e a sua motivação e uma estratégia bem definida da direção.
RBN- A escola persegue a modernização tecnológica, estando já equipada com uma sala tecnológica. Este é um caminho a percorrer? Preparar a escola para os novos tempos?
Sim, o caminho é mesmo este. Aliás, a nossa estratégia 30.30 passa muito por uma metodologia que nós chamamos de hitech, que tem a ver com inovação pedagógica. Temos hoje na escola, várias metodologias de ensino diferenciadas. Não temos um modelo único, temos vário modelos que vamos implementando no dia a dia, de acordo com as características de cada de cada curso, de cada disciplina.
Depois temos a questão da tecnologia, que passa muitas vezes por pequenas coisas do dia a dia , que são por exemplo os materiais didáticos. Fazemos uma grande aposta, a cada ano, nos materiais didáticos, para que os alunos possam ter tecnologias recentes. Exemplo disso é o tablet e o PC que nós oferecemos a cada um dos alunos, foi algo que trouxe uma nova dinâmica, permitindo que todos eles tenham igualdade de acesso às tecnologias. E depois, elementos tecnológicos como impressoras 3D, simuladores virtuais, quadros interativos, que têm uma série de funcionalidades. Portanto, tudo isto, no seu conjunto faz com que a escola esteja sempre à frente do seu tempo e a preparar aquilo que é o futuro.
Ainda recentemente tivemos aqui um debate interno e com a comunidade sobre inteligência artificial. A própria capa da nossa Epto Revista, deste ano, foi feita por inteligência artificial. O ensino de hoje não pode ser o mesmo que tínhamos há 20 anos. Hoje, a cada dia, há novos desafios e nós enquanto escola, temos que acompanhar esses desafios e esse é um dos nossos objetivos.
Concorremos ao programa dos CTES – Centros Tecnológicos Especializados e a nossa candidatura está muito focada para a modernização tecnológica de equipamentos, mas também de infraestruturas. Necessitamos, nomeadamente em Oliveira do Hospital, de dar melhores condições em termos de infraestruturas aos nossos alunos. Em Tábua, temos um espaço de excelência, no CULTIVA, cedido pela Câmara, com todas as condições. O objetivo é replicar aquilo que são as nossas salas tecnológicas a todos os espaços da Eptoliva. Com ou sem candidatura aprovada, temos essa ambição de o fazer e, em princípio, durante o ano de 2024, teremos já algumas dessas salas a serem construídas.
RBN– O CULTIVA é o novo espaço da Eptoliva em Tábua. Foi positiva esta mudança? Há possibilidade de a escola continuar a crescer em Tábua, sendo que neste ano reforçou a oferta formativa com o curso multimédia?
Sim, foi positiva. Tudo conta, mas na verdade, havendo melhores condições, obviamente que os alunos têm maior motivação porque têm espaços mais acolhedores para estar. Acho que é importante que os alunos se sintam bem na escola.
RBN– Também há uma maior ligação à vertente empresarial…
Exatamente. E aquele espaço tendo sido cedido pelo Município de Tábua, foi depois preparado para receber a escola. É um espaço que tem capacidade para receber mais turmas. Já conseguimos, no ano passado, ter um foi feito único, que foi ter duas turmas a funcionar em Tábua. Este ano, o objetivo é manter as duas turmas. O crescimento da Eptoliva em Tábua tem sido um crescimento sustentável, tal como tem acontecido em Oliveira do Hospital. Trata-se de uma estratégia comum de partilhar a escola pelos dois municípios. Em Tábua, temos todas as condições para continuar e reforçar aquilo que é a presença e o trabalho da Eptoliva.
RBN – Em Tábua, a Eptoliva tem também em funcionamento o Centro Qualifica. Tem sido importante para a qualificação dos adultos no território? Qual tem sido o nível de procura?
O nível de procura tem sido até surpreendente. O Centro Qualifica resulta de uma parceria entre o Município de Tábua e a Escola, porque o território não tinha esta resposta. Já passaram mais de 300 formandos pelo Centro Qualifica e já temos várias dezenas de processos de validação de competências, portanto, pessoas que tinham as competências, mas que não estavam no papel e que nós ajudámos a que fossem passadas como habilitação académica.
Temos em funcionamento um RVCC profissional com a Fundação Sarah Beirão, com um curso de “Profissional de Saúde”, em que os próprios colaboradores da Fundação estão a validar as suas competências profissionais, ou seja, vão ficar com competência profissional para aquilo que já faziam durante muitos anos.
Temos também o PLA – Português Língua de Acolhimento, com uma grande procura por parte de toda a região, muitos migrantes, pessoas que já estão aqui no território, para que pudessem ter os níveis básicos de português para se poderem integrar melhor na comunidade. O curso decorre em Tábua, mas também pode ser online. A propósito, tivemos uma experiência interessante, quando fizemos a parceria com a Fundação Benfica, com os refugiados ucranianos, em que tínhamos uma formadora em Lisboa e tínhamos também o modelo híbrido, que também podemos replicar.
Também temos uma vertente importante que é o “Acelerador Qualifica” que permite às pessoas aumentar a sua habilitação académica e profissional em todos os ciclos. O próprio governo está a dar um incentivo superior a 600 Euros para quem fizer essa revalidação de competências.
Agora foi também renovado o funcionamento do Centro Qualifica até final de 2025. É sinal de que foi reconhecido o trabalho dos anos anteriores. E estamos a aguardar os termos de aceitação para uma candidatura que fizemos aos “Projetos Locais Promotores de Qualificações”, que é uma outra medida que também permite a qualificação de ativos e desempregados. Estamos a falar de um conjunto de desafios só no Centro Qualifica para os próximos dois anos. Este é mais um serviço público que nós prestamos não só a Tábua, mas a toda a região.
RBN – A propósito de Cabo Verde, este é um início de internacionalização da EPTOLIVA? Qual é o objetivo deste protocolo com o Município da Ilha do Sal?
O caminho de internacionalizar a escola já se está a fazer com os projetos Erasmus e a participação em concursos internacionais. A professora que tem acompanhado os projetos é a embaixadora de projetos europeus.
Esta parceria com a Ilha do Sal, em Cabo Verde, nasceu da geminação de Tábua com a Câmara Municipal da Ilha do Sal. Temos, neste momento, protocolos assinados com todas as escolas que têm ensino secundário. Neste momento, uma das funções da Eptoliva é apoiar na educação e formação destes jovens de Cabo Verde. Identificámos várias necessidades. Fizemos inquéritos para todos os alunos que frequentam o 9º ano nessas escolas. Estamos a falar de um universo de cerca de 500 alunos com os quais contactámos e ficámos a par das suas formações ao nível do turismo, desde logo, porque a Ilha do Sal tem muito potencial turístico, muita atividade turística, mas também ao nível da saúde, de mecatrónica, instalações elétricas, por exemplo, são cursos que foram identificados. E também Desporto. São cursos de que os alunos gostam. O que fizemos foi identificar as necessidades com as escolas e a Câmara, para perceber de que forma é que nós poderíamos, obviamente, depois também colaborar. E há um dado novo. É que por via da legislação e como opção do Governo, foi retomado o financiamento do ensino profissional para alunos PALOPs.
Nesta fase, alunos que tenham interesse em vir para a escola podem frequentar a EPTOLIVA, quer em Oliveira do Hospital, quer em Tábua, nos cursos que eles escolherem. E, depois temos um conjunto de protocolos com as escolas que nos permite ter intercâmbio de experiências.
Tivemos também várias visitas e encontros com agentes hoteleiros, com empresas privadas, com instituições de várias áreas que também mostraram interesse em que a escola possa ajudar a formar esses alunos online, por exemplo, ou presencialmente, se assim for o caso…
RBN – A escola poderá, então, vir a ministrar cursos na Ilha do Sal?
Sim, é uma das hipóteses que está em cima da mesa. Também poderemos fazer formação de adultos, se a legislação assim o permitir. Mas, agora, o foco é mesmo nestes jovens que necessitam de qualificação, porque o ensino profissional, pelo menos na ilha do Sal não existe. Visitámos vários agentes da ilha, que nos deram conta de que têm necessidade de formação específica. Neste momento, também necessitamos de trazer pessoas para o nosso país e, portanto, acho que conseguimos conjugar basicamente aquilo que são as nossas necessidades, com as necessidades dos alunos de Cabo Verde. À partida, este ano, teremos o projeto piloto a funcionar com a vinda de alguns alunos para a escola e, a partir daí, novos desafios teremos.
RBN – A EPTOLIVA é uma referência no que respeita ao ensino profissional e áreas de formação que disponibiliza com destaque para a mecânica, eletrónica e outras. Há contudo outras respostas ao nível do ensino profissional no concelho e na região. Como é que a escola faz face a esta concorrência?
Nos últimos anos temos vindo a fazer aqui um trabalho de concertação, que considero muito importante. Quero deixar aqui também o nosso reconhecimento ao trabalho dos Municípios de Tábua e de Oliveira do Hospital, nas pessoas das vereadoras da Educação, de se juntarem à Eptoliva para concertar uma oferta formativa sempre em prol dos alunos. Porque, não faz sentido termos nos mesmos concelhos cursos replicados. Faz sentido é termos uma oferta diferenciada em que os alunos possam ter várias opções. Isso tem sido conseguido.
Acho é que falta algo, que nós enquanto escola vamos implementar, que é um modelo de orientação vocacional totalmente diferente, porque há uma coisa que eu tenho dito em vários fóruns, tanto no Conselho Municipal de Educação, mas até a nível nacional, no Congresso de Escolas, é que não faz sentido que sejam muitas vezes as próprias escolas e orientarem os alunos para aquilo que eles querem. O que faz sentido é que eles tenham uma abrangência daquilo que é a oferta formativa concelhia e da região e depois poderem escolher. Perante aquilo que têm, devem ser esclarecidos, e informados sobre o que pode vir a ser o seu futuro académico e profissional. Tem que ser um trabalho conjunto de todas as escolas, públicas e privadas, em parceria com os Municípios.
Durante o próximo ano, iremos iniciar um novo modelo interno da orientação vocacional que passará muito por ouvir a comunidade, em detrimento de nos ouvirmos a nós próprios.
RBN– Nas últimas semanas, a escola voltou a apostar no ciclo de conferências EPTO FUTUROS, que se realizaram fora da escola. Esta é uma forma de aproximar a EPTOLIVA da comunidade?
Sim, os EPTO FUTUROS são uma estratégia desta direção. O objetivo foi sempre esta partilha de experiências, conhecimentos e competências com a comunidade. E o modelo foi evoluindo. Iniciámos as conferências internamente junto dos alunos, chamando pessoas à escola. Depois tivemos um modelo online durante a pandemia, com milhares de visualizações. E agora decidimos também, no nosso inconformismo, renovar e refrescar o conceito. Este ano, optámos por fazer todos os EPTO FUTUROS fora da escola, junto da comunidade, das empresas e instituições de carácter social, em espaços públicos, abertos à comunidade, sempre com o mesmo objetivo de trazer experiência e conhecimento, figuras públicas e especialistas em várias áreas.
Este ano, os EPTO FUTUROS foram bastante fora da caixa. Correram muito bem e houve uma grande aceitação, as empresas e instituições abriram-nos as portas. É mais um conceito que nós iremos reforçar. E para o ano, teremos o conceito das freguesias que já temos planeado e em condições para avançar. Junto de cada uma das freguesias queremos dar a conhecer o património histórico, turístico e cultural, e ao mesmo tempo os alunos saírem e conhecerem o seu próprio território.
RBN– Há pouco falou das condições físicas da escola em Oliveira do Hospital A EPTOLIVA tem margem para crescer em termos de instalações?
O espaço tem as condições necessárias para acolher os alunos. Nós temos um edifício sede que era a antiga escola primária que já teve modernizações. Temos vários espaços também à volta onde lecionamos aulas. Adquirimos um espaço onde construímos uma sala tecnológica. Os espaços, nesta fase, são os suficientes atendendo ao número de alunos que temos. Obviamente que numa perspetiva de futuro e de reforço do número de alunos, teremos que fazer aqui algumas ampliações e requalificações. Já temos tudo em projeto, falta a questão do financiamento. Por via dos CTES é uma hipótese, mas se assim não for, a escola usará os meios próprios para fazer a melhoria desses espaços. Faz-nos falta um refeitório. Antes tínhamos um protocolo com a ESTGOH, mas por razões várias hoje não é possível. Qualquer melhoria será sempre neste espaço e espaços envolventes que já usamos para lecionar aulas, mas também para formação com o IEFP.
RBN -Como perspetiva o próximo ano?
Acho que vai ser um ano de grande exigência e de grandes desafios, principalmente por termos este desafio de modernização tecnológica de todos os espaços da escola. Temos também o desafio da internacionalização. E acima de tudo temos o desafio claro de reforçar a qualidade do ensino profissional. Vamos trabalhar no sentido de podemos ter cursos profissionais mais apelativos, diferentes, com mais tempo junto das empresas, junto da comunidade e dos muitos promotores.
A Eptoliva é um mundo de desafios. E estamos sempre inconformados. A cada ano aparecem novos desafios e se não aparecem, nós também os arranjamos, porque é essa a nossa forma de estar.
O ensino profissional é uma alternativa de grande qualidade, é mais uma via de ensino, tal como cientifico-humanístico ou o artístico e especializado. Mas, eu acredito mesmo que o ensino profissional é o ensino do futuro.