A Comissão Coordenadora Distrital de Leiria do Bloco de Esquerda considera que o país “não se preparou minimamente” para evitar incêndios de grandes dimensões como os de 2017 e acusou de negligência, esta segunda-feira (12), os sucessivos governos.
“Seis anos passados após a primeira vaga de grandes incêndios rurais em 2017, com início em 17 de junho em Pedrógão Grande, o país não se preparou minimamente para evitar incêndios desta dimensão”, referiu o BE em comunicado. Segundo o BE, aquele “foi um ano catastrófico, com mega incêndios em junho e outubro, períodos que habitualmente estão fora das épocas de maior risco de incêndio”.
O partido recordou também as perdas humanas e materiais provocadas por fogos “impossíveis de combater, mas perfeitamente possíveis de evitar com medidas de prevenção”.
Em 17 de junho de 2017, os incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande e alastraram a concelhos vizinhos provocaram a morte de 66 pessoas, além de ferimentos noutras 253, sete das quais graves. Estes fogos destruíram cerca de meio milhar de casas e 50 empresas. No mês de outubro do mesmo ano, na região Centro, particularmente em Oliveira do Hospital e concelhos adjacentes, os incêndios originaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.
Para a comissão distrital do BE, “seis anos passados, quem hoje visitar os distritos de Leiria, Coimbra, Viseu ou Castelo Branco encontra territórios e paisagens fortemente marcadas pelas chamas e dominadas por áreas florestais abandonadas e ocupadas por espécies invasoras, das acácias aos eucaliptos, gerando elevadas concentrações de material combustível que potenciam, fortemente, os riscos de incêndio”.
“Quem habita estes territórios sofre com o abandono”
O BE disse que “quem habita nestes territórios sofre com o abandono da política pública e com a permeabilidade do Governo aos grandes interesses económicos”. “Desde então, multiplicaram-se os estudos e comprovou-se o expectável, a uniformização da paisagem com extensas e contínuas monoculturas florestais de crescimento rápido (eucalipto e pinheiro-bravo), associada aos eventos meteorológicos extremos, faz escalar, fortemente, o risco e a perigosidade dos incêndios”.
Para o BE, “nestas circunstâncias, o papel da proteção civil fica praticamente reduzido ao salvamento de vidas humanas, pois o avanço das chamas torna-se imparável por ação humana”.
“Este quadro resultou de muitos anos de negligência dos sucessivos governos que decidiram apoiar a indústria da celulose, entregando-lhes facilidades e muito dinheiro público, ao mesmo tempo que recusavam apoio aos pequenos agricultores e proprietários florestais da região Centro, que eram garantia de fragmentação da paisagem com áreas agricultadas e pela gestão de matos por via da pastorícia e da articulação entre práticas de gestão agrícola e florestal”.
O BE advertiu que, “com o avançar da crise climática e com o território rural cada vez mais despovoado, a situação agrava-se a cada ano”, observando que “as populações rurais, já fortemente discriminadas ao nível do acesso a serviços públicos e privados e ao emprego, são também as mais expostas a muitos riscos decorrentes das alterações climáticas”. A Comissão Coordenadora Distrital de Leiria do BE sublinhou que, “até à data, os governos do Partido Socialista nada mudaram neste panorama”, acusando-os de se dedicarem a “criar ilusões e a enganar as populações rurais”.
Por exemplo, “criaram a Florestgal, empresa pública que sediaram em Figueiró dos Vinhos, com a promessa de recuperação de territórios ardidos, mas até à data não se conhece uma única ação de recuperação de áreas ardidas em toda a região do Pinhal Interior que tenha beneficiado da ação desta entidade”, referiu o partido, considerando, por outro lado, que o financiamento das Áreas Integradas de Gestão da Paisagem é “medíocre”.
Para o BE, a política agroflorestal continua “com riscos de incêndio de elevada perigosidade cada vez maiores”.
/// Lusa