“Quando eu era miúdo” é a nova rubrica que pretende explorar as memórias de infância de várias gerações. Quais os desenhos animados que mais via? Qual é a brincadeira de criança de que mais tem saudade? Qual era o seu brinquedo favorito?
“Quando eu era miúdo” é então uma conversa repleta de memória e saudade, de carinho e graça, numa procura por respostas sobre a infância de tão distintas gerações. Para ouvir na Rádio Boa Nova à terça-feira às 16h15, à quinta-feira às 08h30 e à sexta-feira às 21h00.
Nesta segunda semana, Maria Fernanda Gouveia Tavares, reformada, com 81 anos.
Lembra-se do primeiro desenho-animado que viu? O primeiro-desenho animado que tenha visto na sua adolescência ou na sua infância? Lembra-se quando começou a ver televisão?
Comecei a ver televisão com 16 anos, em 1956. Foram as primeiras que vieram para Portugal. Onde eu estava, na minha patroa, eu estava a servir, compraram uma televisão e a gente via sempre à noite.
Havia coisas engraçadas, filmes, novelas. Na rádio lembro-me da novela da escrava Isaura.
Qual é a brincadeira que tinha em criança de que mais tem saudade?
Brincar à macaca, naquele tempo chamava-se “às capelas”.
Saltar muros, porque éramos sete irmãos e ia um, iam todos. Iam os mais velhos e depois iam os mais novos todos atrás. Como eu era das mais velhas, só havia outra mais velha, nessa altura, eu era a primeira e depois iam todos atrás de nós. Saltávamos todos.
Outra vezes jogávamos à bulha, outras vezes abraçávamo-nos. E erámos assim, era assim, antigamente era assim. Os nossos pais punham-nos a trabalhar muito cedo que era para não termos tempo para andarmos à bulha uns com os outros.
Qual era o seu brinquedo favorito?
Jogar à bola feita com uma meia ou uma boneca de trapos.
Quando eu comecei a ter sete, oito anos comecei a fazer renda, que era o que eu gostava de fazer. Era o meu passatempo favorito.
Qual é a publicidade que passava na televisão ou na rádio que não lhe sai da cabeça desde a sua infância?
Eram as publicidades do TIDE.
Quando começou a aparecer o TIDE, que era um detergente para lavar a roupa, dava muito aquela publicidade.
Qual foi a maior tramoia que arranjou quando era criança?
Isso arranjei muitas!
Com os irmãos, com a mais velha, andávamos sempre à bulha uma com a outra, ela tem ano e meio a mais do que eu, e nessa altura nós éramos como cão e gato.
Cresceu com quantos irmãos? Como é que era a vossa infância? Brincavam todos juntos, encobriam-se uns aos outros?
Cresci com sete irmãos. Brincávamos todos juntos, fazíamos asneiras daquelas maiores, depois levávamos porrada!
Eu como saí de casa muito cedo, com sete anos, a servir, já não tive muito tempo para brincar com eles.
Qual é a maior diferença que vê entre a infância das gerações mais novas e a sua infância?
A minha infância era castigo demais, e agora acho que têm mimo demais. Hoje as pessoas têm tudo.
Eu tive isso tudo, mas era a senhora, a patroa onde eu trabalhava, que me dava. Ela comprava para os filhos dela, e quando comprava uma tablete de chocolate , dividia pelos filhos e por mim.
Nao fui das que tive uma juventude mais ruim, mais castigada. As minhas irmãs tiveram uma juventude muito castigada.
Hoje as crianças têm tudo. Naquele tempo não tínhamos nada.
Rita Tavares (Jornalista Estagiária)