O Município de Oliveira do Hospital tem sinalizados, no âmbito do projeto “Igualdade Local- Cidadania Responsável”, 22 casos de violência de doméstica.
Os números foram revelados esta manhã por Ana Rodrigues, coordenadora do projeto, no programa realizado na Rádio Boa Nova destinado a assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher.
Os 22 casos que estão a ser acompanhados correspondem à “realidade que nos chega”, mas Ana Rodrigues refere que a equipa está muito mais preocupada com aquilo que não se sabe, porque os casos que são conhecidos estão a “ser tratados por várias instâncias”. No programa “Outras Conversas” desta manhã, a responsável referiu, a tomar por base os dados disponibilizados pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), que “alguma coisa está a falhar” quando se tem conhecimento de violência efetivada no namoro. “Temos que agir nas escolas, nas famílias”, frisou Ana Rodrigues, referindo que no concelho, o projeto Igualdade Local- Cidadania Responsável procura “agir o mais precocemente possível”.
No programa destinado a assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, a Rádio Boa Nova contou com a participação de Patrícia Santos, Jurista do projetos Igualdade Local- Cidadania Responsável que destacou a importância de sinalizar os casos de violência contra as mulheres, já que se trata de um crime público. GNR, Ministério Público ou próprio Município são os locais onde a vítima ou outra pessoa conhecedora do caso pode denunciar a situação que considera que “não é normal e correta”. Para além do número de apoio da APAV, Ana Rodrigues lembrou o número de apoio disponibilizada pelo município (238 605 260) onde é garantida confidencialidade total.
Teresa Serra, Conselheira Municipal para a Igualdade, integrou o programa desta manhã. Aconselhou os jovens que “se amam” a tomarem atenção aos primeiros sinais de ciúme pelo outro que servirá de alerta. Alertou ainda para as situações do divórcio, em que cada um segue a sua vida, mas depois usam o filho como “bola de pingue-pongue” e são os que mais sofrem. No arranque do programa, Teresa Serra destacou a necessidade de proteção da vítima de violência doméstica, mas mostrou-se também preocupada com o acompanhamento que deve ser prestado ao agressor.
Célia Franco, médica psiquiatra, responsável pela consulta de Saúde Mental que é assegurada no Centro de Saúde de Oliveira do Hospital também integrou o programa desta manhã. Constatou que sociedade foi ficando mais frágil e “a hierarquia já não é o que era”. “Com muita facilidade as pessoas se insultam entre si”. “ Assusta-me muito que os miúdos mais novos não desenvolvam o respeito pelos outros. É uma cultura de desrespeito que está instalada”, afirmou a conceituada médica psiquiatra. Associado a este facto, Célia Franco identifica em muitos casos, o consumo de substâncias como o álcool que leva a “alterações de comportamentos” e predispõe a “agressões e a ideias de ciúmes”. “É muito frequente em pessoas que bebem bebidas alcoólicas”, frisou.
Refira-se que dados do Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), revelam que mais de 500 mulheres foram assassinadas nos últimos 15 anos em contexto de relações de intimidade em Portugal, e só neste ano ( de 1 de janeiro a 12 novembro) já morreram 28, algumas baleadas, outras estranguladas ou espancadas, a maioria vítima de violência doméstica.
Tendo como fonte as notícias publicadas pela imprensa nacional, o OMA contou 28 mulheres assassinadas em contexto de relações de intimidade ou familiares, além de outras duas mortas em diferentes contextos, e 27 tentativas de homicídio.
Contas feitas, significa que, em média, houve três mulheres assassinadas todos os meses e uma média de cinco mulheres vítimas de formas de violência extrema.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou em cinco anos mais de 100.000 crimes em contexto de violência doméstica e apoiou mais de 43.000 pessoas, a maioria (86%) mulheres.