Na comemoração do 45º aniversário do 25 de abril de 1974, o presidente do Município de Oliveira do Hospital referiu, esta manhã, que “felizmente estamos a virar a página”.
Há um ano, o autarca oliveirense disse que o concelho tinha pela frente a “revolução do renascimento”.
Numa sessão evocativa que iniciou com o hino nacional e com a canção de abril “Grândola Vila Morena” pelo Coral de Sant’Ana, José Carlos Alexandrino olhava assim para o caminho percorrido pelo concelho após o grande incêndio, fazendo alusão àquilo que o próprio presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, referiu aquando da sua última visita ao concelho, de que o povo oliveirense está a recuperar do grande incêndio.
“Felizmente, estamos a virar a página, mas o incêndio continua a marcar o nosso dia a dia”, afirmou o autarca, lamentando que algumas reportagens televisivas “tentem desacreditar o nosso trabalho”. “Uma pessoa sente-se ferida”, confessou Alexandrino, informando que até ao momento está concluída a recuperação de 95 habitações e 27 estão em execução, estimando que até ao final de junho todas as habitações estejam recuperadas. Destacou ainda o apoio de 20 milhões de Euros que foram canalizados, através da CCDRC, e que têm possibilitado a recuperação de 97 empresas afetadas. De um modo geral, a atuação do executivo foi no sentido de suprir as necessidades das “pessoas mais desfavorecidas”.
José Carlos Alexandrino recordou que foi sob a sua liderança que o Município começou a comemorar o 25 de Abril e assegurou que enquanto for presidente, o executivo continuará a comemorar “sempre” o 25 de abril. “Houve uma fase em que parece que quiseram apagar o 25 de abril”, comentou o autarca que, ao mesmo tempo, que se mostrou grato pelos que fizeram a revolução, lamentou ainda haja quem desconheça quem foi Salgueiro Maia”. “É preciso que as escolas ensinem como foi conquistar a liberdade e quem a conquistou”, afirmou o autarca. A encerrar a sessão comemorativa do 25 de abril, o autarca oliveirense considerou que “a nossa democracia não será plena enquanto tivermos uma morte por violência doméstica”. “Muitas vezes as mulheres são esquecidas”, lamentou José Carlos Alexandrino que quer ver edificado no concelho um monumento de homenagem a todas as mães de Oliveira do Hospital.
A importância que a mulher passou a ter após o 25 de abril já tinha sido destacada na sessão evocativa por Patrícia Lopes, representante do PS, mostrando o seu orgulho por ser mulher e mãe de uma menina e, enquanto professora poder ensinar e educar outras meninas. A educação acessível a todos foi uma das conquistas destacadas pela socialista, que sem ter vivido a revolução dos cravos, nos seus 38 anos entende que “certamente muito há ainda muito para fazer” e “não se pode dar a democracia como adquirida”.
A representar o PSD, a jovem Bárbara Coquim, agradeceu as conquistas de abril, mas questionou se os ideais estão a ser cumpridos: “será o povo que mais ordena?”. “Temos muito que fazer. É tempo para agir”, comentou a jovem social-democrata que apontou o dedo ao Serviço Nacional de Saúde “ineficaz”, ao sistema educativo igual ao de alguns anos atrás, “escolas frias e com poucas condições” e ao “interior deserto e despovoado”. “ Após o ensino superior, são poucos os jovens que regressam às suas terras”.
Preocupações que esta manhã foram também partilhadas pelo jovem Rafael Dias, representante do CDS-PP. “Não creio que seja para isto que se criou o 25 de abril”, afirmou, defendendo lutar por “um Portugal mais justo e mais coeso”.
Na comemoração do 25 de Abril em Oliveira do Hospital, onde a CDU não se fez representar, a presidente da Assembleia Municipal, Dulce Pássaro considerou que, entre os jovens, “há ainda um trabalho mais aprofundado a fazer”. “Não se valoriza e não se sabe o que é viver em liberdade”, afirmou a antiga ministra do Ambiente, que de entre as várias conquistas de abril destaca a o florescimento do poder local que é o que equivale à “vontade do povo”.
António Campos, oliveirense que foi perseguido pela PIDE e chegou a estar preso em período de ditadura, foi convidado especial da comemoração do 25 de abril. A recordar que “em Oliveira do Hospital estava (instalado) um centro de fascismo por excelência”, António Campos apelou a que agora aconteça uma “mudança de mentalidades”. “Fizemos a revolução da democracia e da liberdade. Hoje as pessoas têm medo e não têm ambição. Nenhum país se constrói pelo medo, tem que ser sempre pela ambição”, afirmou.
A comemoração do 45º aniversário do 25 de abril ficou ainda marcada pela participação de Lucinda Maria e Álvaro Assunção na entoação de poemas, assim como das pequenas Maria Inês e Madalena que leram excertos do livro “O Tesouro”. Abel Gouveia também explicou o material que tem exposto no Salão Nobre da autarquia, entre fotografias, documentos e provas da censura.
Ao final da manhã, foi ainda inaugurado o painel de azulejos alusivo à temática do 25 de abril e que foi realizado no âmbito do curso ministrado pelo CEARTE em Oliveira do Hospital.
Devido ao mau tempo, várias iniciativas que estavam agendadas para hoje e que deveriam decorrer ao ar livre foram canceladas. Destaque para o encontro de filarmónicas que deveria decorrer no Jardim Oliveira Mano, no centro da cidade, e que foi adiado, devendo acontecer no dia 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas.