No próximo dia 12 de outubro, Oliveira do Hospital celebra mais uma festa da democracia. As eleições autárquicas são sempre um momento de participação cívica e de afirmação da liberdade de escolha, mas também de responsabilidade coletiva. É nessa ocasião que se desenha o rumo do concelho, que se define a forma como queremos viver, trabalhar e projetar o futuro da nossa terra.
Estamos a assistir a uma pré-campanha tímida, feita de outdoors, panfletos e tertúlias, mas ainda com pouco debate de ideias. Alguns, inclusive, parecem preferir o silêncio. Ora, a política não se faz às escondidas — faz-se de confronto de ideias e de transparência perante os cidadãos. Em breve, quando começarem as campanhas porta a porta, ninguém poderá fugir às questões centrais: qual é o vosso projeto para Oliveira do Hospital? Qual é a visão estratégica dos vários projetos políticos? Que futuro querem para a nossa comunidade?
O concelho tem vivido décadas de dedicação e esforço por parte das suas gentes. Temos um tecido empresarial resiliente, uma sociedade civil dinâmica, associações culturais e desportivas que marcam a vida local, uma rede educativa sólida e uma paisagem natural de enorme valor. Mas também temos fragilidades que não podem ser ignoradas: dependência excessiva de setores como o têxtil e a construção civil, baixos rendimentos médios, desigualdades salariais, défice de serviços públicos em algumas áreas e uma vulnerabilidade ecológica que se tornou evidente nos incêndios que tanto marcaram a nossa memória coletiva.
Por isso, estas eleições autárquicas convocam-nos para a o debate focado em ideias transformadoras que tornem o concelho mais próspero, inclusivo e preparado para os desafios do futuro.
Para alimentar este debate democrático, deixo aqui 10 ideias que considero importantes para o próximo mandato autárquico em Oliveira do Hospital e sobre as quais gostaria de conhecer a visão/opinião dos vários projetos autárquicos em disputa:
1. Construção de um novo pavilhão multiusos
Criar um novo equipamento multifacetado, capaz de servir o desporto, a cultura, pensado para grandes eventos empresariais e associativos. Atualmente, a pressão sobre a utilização do pavilhão municipal torna premente a concretização deste projeto, mas é importante interligá-lo ao agrupamento de escolas, colocando o equipamento ao serviço da comunidade. Um equipamento desta natureza deve gerar coesão social, dinamizar a economia local e criar condições para que o concelho seja palco de iniciativas que reforcem a sua centralidade na região.
2. Profissionalizar a marca Oliveira do Hospital
É preciso dar um salto em frente na forma como organizamos e projetamos os nossos eventos e a agenda cultural da Casa da Cultura. A criação de uma entidade dedicada poderia apoiar associações, coordenar agendas, atrair financiamento e valorizar a identidade coletiva. A marca Oliveira do Hospital deve ser assumida como ativo estratégico, associada à qualidade dos produtos, à vitalidade cultural e ao dinamismo desportivo.
3. Gestão florestal sustentável e segura
A floresta é uma das maiores riquezas do concelho, mas também a sua maior vulnerabilidade. As autarquias locais têm um papel relevante no desenho dos planos municipais de proteção civil e, também, nos programas de reordenamento e gestão da paisagem, nomeadamente na ligação aos atores locais. Por isso, é importante concretizar, em parceria com as instituições públicas e os proprietários dos terrenos, a criação de cinturões verdes de proteção em redor das aldeias (por exemplo num diâmetro de 500 metros das aldeias) com árvores autóctones, como carvalhos e castanheiros, entre outros.
Além disso, avançar para a criação de um programa local que financie e implemente a substituição de monoculturas em redor das aldeias por floresta autóctone que permita valorizar a biodiversidade. Esta aposta é também uma política de segurança, porque protege vidas e património contra os incêndios.
4. Projeto educativo local de futuro
A educação deve estar ligada às oportunidades do território e ao mundo. Isso significa apostar em competências digitais, línguas estrangeiras, programação, sustentabilidade e empreendedorismo, tanto no ensino regular como na formação profissional. Preparar os jovens para o mundo global é também capacitá-los para criar futuro em Oliveira do Hospital.
No entanto, não devemos ter uma visão egoísta sobre os nossos jovens. Os jovens oliveirenses devem conhecer mundo, procurar novas experiências e novas culturas, no final, o importante é todos saberem que a “casa Oliveira do Hospital” está a criar condições para quando se sentirem preparados, regressarem. Daí ser relevantíssima a iniciativa de criar um espaço de inovação e empreendedorismo, que trabalhe novas ideias de negócio no território, aproveitando a excelente diáspora de Oliveirenses para transformarmos conjuntamente a economia local.
5. Uma nova estratégia de desenvolvimento económico e industrial
O município deve assumir um papel ativo no apoio à modernização tecnológica das empresas, promovendo programas de digitalização, automação e transição energética que reforcem a competitividade e a sustentabilidade.
Esta visão deve articular autarquia, associações empresariais e empresários em torno de uma diversificação económica capaz de reduzir dependências setoriais, apostando em setores emergentes como energias renováveis, agroindústria sustentável, economia social ou biotecnologia florestal.
A criação de clusters locais nestas áreas e de um fundo de empreendedorismo permitirá fixar jovens empreendedores e gerar emprego mais qualificado, alinhando o concelho com uma economia de maior valor acrescentado. Ao mesmo tempo, é crucial valorizar os recursos endógenos — desde os produtos agrícolas à floresta — e posicionar Oliveira do Hospital como território inovador do interior, capaz de atrair investimento, talento e novas oportunidades.
6. Uma nova abordagem para os lotes industriais e empresariais
Disponibilizar lotes de maiores dimensões é fundamental para permitir o crescimento e a diversificação da base produtiva do concelho, nomeadamente na captação de grandes investimentos que permitam diversificar a economia local. Criar uma abordagem de infraestrutura empresarial com lotes amplos vai permitir dar espaço para empresas instalarem unidades mais eficientes, expandirem a sua atividade ao longo do tempo e melhorarem a sua organização e logística interna – a denominada zona industrial da cordinha tem espaço suficiente para esta abordagem.
Sem terrenos adequados e principalmente de grande dimensão, muitos projetos de investimento não considerarão Oliveira do Hospital como opção, limitando a capacidade de atrair novas iniciativas e gerar emprego qualificado. Zonas industriais modernas, planeadas com infraestruturas adequadas, boas acessibilidades e que permita conjugar com energias verdes, é um instrumento de desenvolvimento económico, capaz de dinamizar o concelho, estimular a cooperação entre empresas e consolidar a sua posição como território de oportunidades na região.
7. Reformar os serviços públicos em Oliveira do Hospital
É importante transformar os serviços públicos municipais numa estrutura moderna, eficiente e próxima, numa lógica de Loja do Cidadão, que funcione como um ponto único de contacto para cidadãos e empresas para os serviços públicos locais e nacionais.
Nesta loja, todos os serviços essenciais — desde pedidos de documentos, informações urbanísticas e licenças até a apoio ao investimento — devem estar disponíveis de forma integrada e digital, com processos claros e prazos de resposta definidos. Outra iniciativa relevante é criar um novo serviço que permita acompanhar empreendedores e investidores desde o primeiro contacto até à concretização do projeto, assegurando apoio técnico, consultoria e articulação com outros serviços da autarquia.
Um Simplex local estruturado desta forma garante não apenas mais eficiência administrativa, mas também reforça a confiança, atratividade e competitividade do concelho como território de oportunidades.
8. Mobilidade urbana mais sustentável
O futuro das cidades passa por transportes mais amigos do ambiente e espaços urbanos mais humanos. Oliveira do Hospital deu um passo significativo na modernização da mobilidade urbana, com destaque para a integração no Sistema Intermunicipal de Transportes (SIT) da Região de Coimbra. É importante continuar a apostar no estacionamento periférico para reduzir a circulação de veículos no centro da cidade, ao mesmo tempo que se desenvolvem ciclovias contínuas, corredores pedonais e zonas de estacionamento pago para não-residentes, incentivando deslocações mais sustentáveis e ativas, que revitalizem o comércio local e a vida na cidade.
9. Serviços de saúde reforçados e próximos
O novo centro de saúde deve funcionar como uma rede integrada de serviços, garantindo acesso rápido e eficiente a consultas, exames e cuidados, em particular diminuindo a necessidade de deslocações ao Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, através da implementação de soluções digitais, como teleconsultas. Reforçar a cooperação com a Fundação Aurélio Amaro Diniz e profissionais de saúde, ampliando a capacidade de resposta, especialmente em cuidados continuados e especialidades médicas, garantindo que toda a população tenha acesso a serviços de saúde de qualidade, humanizados e próximos do seu território.
10. Requalificação da entrada da cidade – Avenida António Afonso Amaral
A entrada em Oliveira do Hospital deve funcionar como um verdadeiro cartão de visita, transmitindo a identidade e a qualidade do concelho desde o primeiro momento. A requalificação da Avenida António Afonso Amaral, com a criação de um corredor verde, ciclável e pedonal que conecte a Catraia de São Paio ao centro da cidade, representaria uma intervenção transformadora.
Esta obra melhoraria a segurança rodoviária, reduzindo o risco de acidentes, e ao mesmo tempo valorizaria a paisagem urbana, criando espaços mais agradáveis para cidadãos e visitantes. A integração de áreas verdes, passeios amplos e ciclovias incentivaria mobilidade ativa, enquanto a harmonização do espaço urbano com iluminação, mobiliário e sinalética adequada reforçaria a atratividade do concelho, promovendo uma entrada na cidade que seja moderna, acolhedora e em sintonia com as necessidades da comunidade.
O que aqui se apresenta não é uma receita única, mas um ponto de partida para reflexão e diálogo. Oliveira do Hospital necessita de estratégia e coerência política, de escolhas que coloquem o concelho no caminho da prosperidade, da resiliência e da sustentabilidade. Cabe aos candidatos demonstrar, com clareza e compromisso, como pretendem transformar estas ideias em políticas concretas e eficazes.
Alexandre Henriques é licenciado e mestre pela Universidade de Coimbra, iniciou a sua vida profissional na Administração da Universidade de Coimbra e nestes últimos anos trabalhou como especialista em transformação digital do Estado na Estrutura de Missão Portugal Digital. Neste momento é responsável de equipa de customer experience numa instituição pública.