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Seis meses após o grande incêndio: “Acho que é um luto que eu tenho de fazer, que ainda não fiz, e não sei se algum dia o vou fazer”

Faz amanhã seis meses, exatamente num domingo, que Hélder Correia, de 59 anos, viu o fogo consumir o que construiu a vida toda.

A residir na vila de Avô, naquele final de tarde de 15 de outubro só arredou pé do que era seu quando já não havia nada a fazer. Passados seis meses, Hélder não consegue precisar as suas maiores perdas. “Ainda nem pensei bem nisso. Acho que é um luto que eu tenho de fazer, que ainda não fiz, e não sei se algum dia o vou fazer”, desabafou.

Atento e estupefacto com a dimensão e velocidade com que o fogo avançava, Hélder nunca pensou que pudesse chegar ao seu terreno pois “até ao fim, há sempre a esperança que não chegue”, ainda para mais “estava tudo muito limpo” ao seu redor.

Hélder e a sua mulher perderam a casa de habitação, vários anexos, um estabelecimento de alojamento local que era a fonte de rendimento de ambos e uma vasta área onde produziam agricultura biológica. Vinho, azeite, legumes, fruta e jeropiga. Tudo o que tinham e nada sobrou. Tudo o que lhes permitia viver, sem ter receio do dia de amanhã e que, hoje, nem restou para recordar.

Atualmente a viverem numa “casita pequenita com 20 e tal metros quadrados que não ardeu incrivelmente”, apesar de o processo de recuperação ser “muito lento e por vezes desesperante”, Hélder tem força para continuar. Já submeteu a candidatura para recuperar as suas perdas agrícolas, porém continua no terreno a tentar reconstruir o que perdeu com ajudas “basicamente de amigos”. Quanto à informação que lhe chega, Hélder afirma que “é um bocado incompreensível e de uma insensibilidade muito grande por parte de quem decide”.

De momento, o casal não exerce nenhuma atividade profissional. Questionado se pretende abrir de novo o seu estabelecimento hoteleiro caso os apoios do Estado cheguem, Hélder não consegue dar uma resposta imediata. “Ainda temos até a outubro para pensar. Sendo aquela a nossa principal fonte de rendimento, de certeza que nem daqui por dois anos vai estar pronta. E durante dois anos como é que vamos viver?”, questiona, afirmando que terão “de arranjar alternativas”. “Com o fogo aprendemos muitas coisas. Uma delas é que eu nunca mais vou trabalhar tanto porque acho que não vale a pena”, disse o gestor hoteleiro com a desilusão patente no seu olhar.

Onde mora, bem lá no cimo da encosta, avista-se o monte negro que o incêndio de 15 de outubro deixou. Parece que foi ontem, mas já se passaram seis meses. Hoje, Hélder já não recorda pormenorizadamente aquele fim de tarde. “Eu não me lembro muito daquela noite. Às vezes lembro da forma como o fogo vinha”, contou Hélder Correia, referindo que “é nostálgico” pois já não se lembra “como é que ficou a paisagem logo a seguir ao fogo”, uma vez que “agora está bastante verde”, que é o que lhe “serve de consolo”.

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