A Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra manifestou uma profunda preocupação com o declínio acentuado da população de lampreias no Rio Mondego, na última reunião do Conselho Intermunicipal (CI), que se realizou no passado dia 22 de março, em Montemor-o-Velho.
A estrutura regional apela à “urgente tomada de medidas por parte das entidades competentes para inverter o declínio da população de lampreias no Rio Mondego, uma vez que a preservação desta espécie icónica é essencial para a saúde do ecossistema do rio Mondego”
“Este fenómeno, que se tem verificado nos últimos anos, coloca em risco a preservação desta espécie emblemática do Rio Mondego, com graves impactos no ecossistema e na economia local”, alerta a CIM Coimbra em comunicado enviado à Rádio Boa Nova.
Pedro Raposo de Almeida, Professor e Investigador do Departamento de Biologia da Universidade de Évora, marcou presença na reunião, onde destacou os impactos prejudiciais dos incêndios de 2017 e da seca prolongada nas populações de lampreia no Rio Mondego e em outros rios portugueses, cujos efeitos começam agora a tornar-se mais evidentes.
Segundo Pedro Raposo de Almeida, a diminuição significativa dos caudais, decorrente de anos de seca, e a escassez de água nos locais mais profundos dos rios, onde as larvas de lampreia se desenvolvem nos sedimentos antes de migrarem para o Oceano Atlântico, representam atualmente uma das maiores ameaças para este peixe ciclóstomo, cuja linhagem remonta aos tempos dos dinossauros.
“A falta de água, associada ao escorrimento de cinzas dos fogos para o leito dos rios e diversas formas de poluição, doméstica ou industrial, matam um número elevado de larvas. Além disso, muitas das larvas que conseguem alcançar os estuários acabam por sucumbir devido à sua debilidade, sem conseguirem alcançar o mar”, explicou o investigador.
O preocupante declínio da população de lampreias no Rio Mondego resulta também de outras causas que afetam diretamente o seu ciclo de vida e a sua sobrevivência. “O desassoreamento e a limpeza excessiva do leito do Rio Mondego e dos seus afluentes têm tido um impacto significativo na população juvenil e larvar, dificultando a sua transição para a idade adulta”. A pesca excessiva de lampreias tem também contribuído para o declínio acentuado desta população.
As consequências deste declínio não se restringem apenas à própria espécie, tendo também “implicações profundas no ecossistema e na economia local”. As lampreias desempenham um papel crucial no equilíbrio ecológico do Rio Mondego e a sua diminuição pode desencadear um efeito cascata, afetando outras espécies e comprometendo a biodiversidade e o funcionamento do ecossistema como um todo.
Além disso, a pesca da lampreia é uma atividade tradicional e economicamente importante para a região. “O declínio da população de lampreias representa uma ameaça à sustentabilidade dessa atividade, bem como aos postos de trabalho que dela dependem.”
O investigador da Universidade de Évora apontou algumas soluções que podem contribuir para atenuar o problema através da implementação de ações de proteção. “É imperativo tomar medidas para preservar as lampreias, como a criação de zonas de refúgio, a melhoria da qualidade da água e uma fiscalização mais eficaz das intervenções nos leitos dos rios”, alertou.