“A criança tem o direito a uma educação que a forma como ser humano completo, e não apenas como futuro profissional.”
John Dewey-filósofo e pedagogo
Este é o título de um artigo do NYTimes, do dia 5 de Novembro, escrito por Jessica Grose, que me chamou a atenção e que li com todo o interesse.
Transcrevo uns parágrafos: “A infelicidade dos jovens trabalhadores foi tão acentuada no último ano — seja por causa da rápida ascensão da IA, da incerteza do mercado ou de alguma outra combinação desagradável de mal-estar pós-Covid.”
Outra: “os jovens esperam ser mais felizes do que as gerações anteriores, em parte porque usam as redes sociais para se compararem com alguns dos seus pares, para depois se dececionarem com o tédio dos seus próprios empregos das 9h às 17h. Mas outra hipótese está de acordo com o que tenho ouvido dos jovens: o ambiente de trabalho está consideravelmente pior.”
E só mais outra: “A geração Z parece estar a ter reações bem distintas deste cenário. Tanto Stevens quanto Yoon disseram-me que veem o empreendedorismo como potencialmente mais seguro do que o trabalho corporativo, neste momento”
A leitura deste artigo sobre o clima de trabalho na América transportou-me, por deformação profissional, para Oliveira do Hospital (já não estamos hoje, felizmente, a décadas de distância dos centros mais adiantados) para uma conversa tida com dois empresários, há cerca de 2 semanas, na mesa da Pastelaria Primavera.
Um, da minha geração, chamada “silenciosa”, comentava que hoje, por qualquer admoestação que se faça ao trabalhador, este fica melindrado e se vai embora. O outro, da geração chamada “X”, lamentava-se por os trabalhadores não serem como “antigamente” e, na última sexta-feira, um neto empresário, da geração “Z”, informava-me que uns casais de trabalhadores se despediram da sua empresa em menos de 24 horas!
Para complementar este cenário, os noticiários desta semana informam ter sido anunciada uma greve geral contra as intenções de o governo pretender alterar as leis de trabalho.
Não queremos perceber que, não só a tecnologia está em grande evolução, mas também a sociedade de que todos fazemos parte, está em plena revolução social, a acompanhar as mudanças tecnológicas. Vivemos tempos revolucionários!
Pretender acarinhar, comprar, utilizar a tecnologia, a robotização e a automatização e não acompanhar esta evolução tecnológica no nosso comportamento com a família, amigos e trabalhadores, seja no universo empresarial ou no estatal, não parece lógico ou, no mínimo, correspondente.
Ganhei experiências de vida como empregador e, como tal, não posso deixar de aceitar que essa formação profissional se atravesse nos meus comentários e opiniões. Porém, antevejo o aparecimento de uma crescente necessidade de a sociedade procurar “humanizar” nas suas vidas, nas suas relações de trabalho, como oposto ao “robotizar”
É nesse sentido que constato assistir nas gerações Z, em especial naquelas com maior formação académica, a uma fuga à cultura “pirâmide” que herdámos desde que o Homos Sapiens começou a conviver em tribos, na procura de atividades que lhes permitam usufruir de maior liberdade, autonomia, independência.
Um exemplo bem à vista de todos nós, já em Oliveira do Hospital, é a quantidade de jovens a deixarem lugares de chefia ou bem remunerados para abrirem a “sua” barbearia, a “sua “alfaiataria, o “seu” pequeno restaurante, enfim, o “seu” negócio, em troca do “conforto” de ser funcionário público, gerente bancário ou diretor de grandes empresas.
A nossa educação ainda é feita com base em modelos pós-revolução industrial, onde ainda se metem os alunos em escolas e locais de trabalho, como se fossem “prisões”, obrigados a aprender e a fazer o que os “chefes” ordenam ou obrigam.
Não percebo a euforia dos nossos responsáveis políticos, sindicais e empresariais se vangloriarem pelas “colmeias “onde metem crianças e adolescentes a aprenderem, sindicalistas a pugnarem por leis laborais desajustadas e empregadores a manterem linhas de produção humanas como se fossem robotizadas.
Que bom seria ver as gerações anteriores à geração Z apoiarem, bem cedo, estes jovens, a ganhar experiência e conhecimento para assumirem o poder político, económico e cultural do nosso Concelho o mais breve possível!
Carlos Brito
Novembro 2025

