“Percebi que as pessoas que se mantêm inabaláveis, muito disciplinadoras, são em geral pessoas que têm pouca ou nenhuma cultura ideológica, filosófica e política. Ou têm falta de autoconfiança, têm medo de encontrar uma ideia nova que ponha tudo em causa, ou então são manipuladoras. Recuso-me ser qualquer uma destas coisas…”
Rui Tavares-Historiador (entrevista ao Público em 2022/01/02)
II- Porque temos comportamentos conservadores?
Amiúde recorremos ao provérbio “vale mais um pássaro na mão do que dois a voar” como conselho ou como justificação.
Por uma questão cultural somos conservadores ao querermos “guardar” o que já temos, e, por natureza, pelo “medo” em não se perder o que se tem.
Contribuímos assim para reforçar o nosso egoísmo, o nosso individualismo e pouco lutamos para mudar e melhorar a nossa vida ou a vida dos que nos estão próximos.
Nos momentos eleitorais somos mais facilmente influenciados pelo risco de perder o que se tem (a reforma, o privilégio, o Poder…), do que pela vontade de mudar ou de mais se poder usufruir.
Aos velhos se assopram receios, aos jovens se insuflam promessas.
De onde vêm esses ventos?
De quem já está no Poder, ou seja, dos que têm hábitos conservadores, dos “mais velhos” que não sabem sair no tempo certo dos partidos, das empresas, das Instituições, que se recusam a deixar de influenciar quem foi mandatado para tal e deve efetivamente mandar.
São os Felipe Vieiras do futebol, os Mário Nogueiras dos sindicatos, os senadores dos partidos, etc.
Pessoas que não querem mudar estão satisfeitas com a maneira como vivem, aceitam a vida com os seus prós e contras e são relutantes em aceitar as novidades e mudanças, pois consideram-nas prejudiciais e desnecessárias.
Para estas pessoas, a vida individual representa rotina, receiam o progresso e as consequências da mudança para preservar os seus privilégios. Para elas ouvir é pesaroso, conflituoso, confuso.
Na política, os guardiões do poder buscam a realidade presente e imediata. Mantêm a sociedade dentro dos padrões existentes (festa do queijo, festa da sopa, festa do chafariz, voltas ciclísticas…),” pois basta passar-lhes junto à boca um engodo insignificante. É espantoso como a sociedade se deixa levar pelas cócegas. ( La Boétie- Discurso sobre a servidão voluntária)
Tentam preservar a sociedade e a economia existente no Concelho, baseando-se em valores tradicionais de diversão e pouco se preocupando com o crescimento económico das pessoas e empresas.
Assim vejo o nosso Concelho nos últimos 30 anos!!
Do ponto de vista social, o progresso social nasce da luta dos opostos, dos antagonismos sociais, mas isso é firmemente negado pela doutrina clássica conservadora.
Não ficar amarrados ao passado e acreditar que a experiência dos agora jovens poderá ser mais rica do que a nossa é uma atitude a ponderar.
Sabemos que a mudança tem sempre riscos, mas é a única forma de se corrigirem erros e paralisias, bem visíveis no nosso Concelho.
As próximas eleições são uma oportunidade para candidatos visionários e autarcas bem informados procederem às mudanças económicas, sociais e políticas adequadas à nossa identidade enquanto Concelho, para melhorar as suas condições de crescimento e desenvolvimento.
No próximo artigo abordarei o tema: “Porque correr riscos?”
Carlos Brito
Setembro, 2025

