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Opinião: Carlos Andrade, um exemplo de vida

Roubava dinheiro ao meu Pai para entregar ao Sr. Albano, do café Brasil, afim de jogar bilhar com o Carlos Andrade, que eu conhecia como barbeiro onde hoje está, creio, o talho do Sr. Adriano. Ele ganhava-me sempre.

Aos 12 anos afastámo-nos e só tornámos a conviver depois de ele ter regressado da vida militar, quase toda feita em Paris, enquadrado nas forças armadas da NATO.

Regressou muito mais evoluído que os da sua geração que por aqui ficaram. Encantava-me ouvi-lo falar italiano e francês, muito melhor que eu, e continuámos a jogar bilhar. Continuava sempre a ganhar-me.

Foi trabalhar na Portiviga, propriedade do Sr. Eng. António Loureiro, outro exemplo de vida em Oliveira do Hospital, onde foi desempenhar a função de “encarregado de portas pré-fabricadas”.

Corria o ano de 1969 e, após quatro anos de serviço militar, fui iniciar a minha vida profissional na Brialex, propriedade do meu pai. Passado algum tempo, fui falar com o Sr. Eng. A. Loureiro para que dispensasse o Carlos Andrade para ir para a Brialex, como era seu desejo.

Pouco tempo estivemos na Brialex e, em 1973, fomos começar uma nova empresa, a Eurofato, onde Carlos Andrade passou a desempenhar, pela confiança de que era merecedor, as funções que hoje se designam de CEO, onde “era rei e senhor”, como ele me costumava dizer.

Foi o início de novas aventuras, conquistas, vontades, que o tornaram uma referência em Oliveira do Hospital até que, no ano 1981, novos ventos lhe sopraram ao ouvido para se emancipar e criar uma empresa sua.

O Carlos Andrade não quis ser medíocre, não quis ficar pelo possível e aceitou o repto, abrindo uma fábrica, a bem conhecida AMMA, em Arganil.

Nas conversas que tivemos ao longo destes anos, sempre lamentou a falta de apoio político que teve para implantar a sua fábrica de confeções em Oliveira do Hospital, como era seu desejo.

Não houve, na altura, visão política suficiente para evitar a sua ida para outro Concelho, nem houve nunca, por parte dos honestos, diga-se a verdade, mas medíocres, na minha visão, decisores políticos do Concelho, para entenderem e fortalecerem essa tão importante indústria Oliveirense- As Confecções.

Arganil, que o recebeu de braços abertos, tornou-se mais rica, mais conhecida, mais evoluída, com a criação de riqueza gerada pelos postos de trabalho criados e pelo pagamento dos impostos correspondentes.

Não lhe bastando tudo isto, Carlos Andrade veio mais tarde a desempenhar funções políticas, apoiando o social e o desportivo, sempre ao serviço da sociedade Arganilense.

Na sequência o Carlos Andrade tornou a AMMA conhecida em toda a Europa ao produzir para importantes marcas europeias e a marca Carlo Visconti passou a marcar presença em todas as capitais de distrito do nosso País, tendo-se também lançado na abertura de lojas com a marca Carlo Visconti, bem como no imobiliário.

O Carlos Andrade foi um vencedor, foi um exemplo de coragem, atrevimento, vontade de dar tudo o que tinha e sabia, de permanente luta contra as circunstâncias, não aceitando limitar-se a fazer o possível, tão normal na maioria de nós.

Porém, o sucesso cega e não lhe permitiu ver, como me dizia no nosso último telefonema de há cerca de três meses, os oportunistas, os falsos amigos e os erros que cometeu, o que muito o abalou e entristeceu nos seus últimos anos de vida.

Hoje, pela primeira vez, sinto que ganhamos este desafio que nos propusemos, bem cedo, jogar. Carlos Andrade será por mim lembrado com alegria e como exemplo motivador.

Até um dia destes, Carlos Andrade.

Nb

O Dr. Fernando Brito, em boa hora, idealizou editar um livro sobre a Indústria de Confeções no nosso Concelho. Nele estará inserido o testemunho de vida do Carlos Andrade, que ele ditou a sua filha Sandra, há cerca de um mês, e que mostra que não tinha vergonha das suas origens, outra das suas qualidades, característica de grandes homens.

Carlos Brito

Nov,18 de 2025

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