Permitam-me que realize uma declaração de interesses prévia ao artigo: fui atleta da ARCED – Escola de Futebol e de Futsal, do Futebol Clube Oliveira do Hospital, da Associação Desportiva Nogueirense e da Associação Desportiva de Lagares da Beira. O desporto – particularmente o futebol – fizeram sempre parte da minha vida e a ligação entre desporto, comunidades e política é um dos assuntos que mais interesse me desperta.
Oliveira do Hospital é um interessante estudo de caso desportivo, tanto pelos resultados ou concretizações desportivas, como pela diversidade que os caracterizam. Neste município, de baixa intensidade populacional, comumente negligenciado pelas elites políticas, é de louvar o esforço e o mérito de todos aqueles que, por virtude da sua paixão – e muitas vezes altruísmo -, se dedicam à preservação e fortalecimento das instituições desportivas destas terras.
A existência de entidades desportivas bem-sucedidas no município constitui não apenas um motivo de orgulho concelhio, bem como uma oportunidade de dinamização empresarial e demográfica, com benefícios a nível territorial. Neste sentido destaca-se particularmente, devido ao peso da modalidade no contexto nacional, o FCOH e a sua sucessiva manutenção na Liga 3. A elevação da marca do concelho foi um dos benefícios “colaterais” do alcance deste patamar, por parte do FCOH. A presença de uma equipa do concelho neste patamar do futebol nacional deve ser sinónimo de orgulho e projeção da marca concelhia. Os benefícios que se colhem, resultantes de investimento nos equipamentos desportivos, por exemplo, são o apoio à continuação da projeção da marca a nível nacional, mas também a aposta na economia local – tanto momentânea, em dia de jogo; como a médio prazo, com a atratividade para stakeholders. Neste sentido, a impreparação do Estádio Municipal para o acolhimento de jogos desta natureza – obrigando a equipa a disputar jogos “em casa” no concelho vizinho – é incompreensível e lamentável.
Não é só a marca Oliveira do Hospital que ganha com a aposta no desporto: é, também, o território e as pessoas. O nosso desporto prestigia nos significativamente com o Sampaense, no basquetebol, que há décadas permanece honrosamente nos patamares cimeiros da sua modalidade; com o Hóquei do Oliveira do Hospital (agora através da Associação Desportiva OH Sports), que recentemente se sagrou campeão da série norte “B” e ascendeu à segunda divisão da modalidade; mas também com a ARCED, a Sociedade Recreativa Ervedalense, a ADN, a ADLB, o Grupo Desportivo Sangianense, o Grupo Desportivo Bobadelense, ou o Clube Desportivo e Recreativo Vasco da Gama, que no futsal (os dois primeiros) e no futebol (os restantes) mantêm, cada um nas suas missivas, as respetivas modalidades próximas das gentes das suas terras e formam atletas, contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal de uma forma muito valorosa.
Estas verdadeiras instituições, que muitas das vezes são motivo de um determinado orgulho “bairrista” que tanto caracteriza a pluralidade deste nosso concelho, são preservadas pela paixão, pelo esforço e dedicação pessoal e coletivas das gentes das nossas terras, que pouco pedem em troca além de dignidade e reconhecimento. Posto isto, penso que além do imprescindível investimento, do merecido reconhecimento em homenagens e palavras, seria também digna a realização de um estudo de caso sobre as gentes das nossas terras e a sua ligação às entidades desportivas e os sucessos que daí advêm. Esta é, também, parte da nossa matriz cultural e devíamos conhecê-la melhor. Fica o repto.
João Pedro Caseiro
Ex-presidente da Associação Académica de Coimbra
Doutorando em Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra