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O mundo do trabalho está a mudar e isso é uma oportunidade para Oliveira do Hospital

Alexandre Henriques, Opinião

Devem existir poucos assuntos, independentemente do ideário político dos líderes das autarquias, tão consensuais e transversais para as 308 câmaras municipais do país como a necessidade de captar investimento e fixar empresas nos diversos territórios do país. Essa necessidade intensifica-se no interior do país, uma vez que o emprego, preferencialmente cada vez mais qualificado, é o fator chave para fixar pessoas nestes locais.

Em territórios do interior do país, como é o caso de Oliveira do Hospital, esta necessidade torna-se ainda mais evidente para mitigar a perda de população crónica e tentar, de alguma forma, reequilibrar a distribuição da população no país – de acordo com dados do Censos de 2021 cerca de 20% da população concentra-se nos 7 municípios mais populosos e esses municípios representam apenas 1,1% do território português.

Este é um objetivo estratégico comum a inúmeras autarquias locais e esse facto resulta, naturalmente, na existência de concorrência entre os próprios territórios na procura de investimentos que valorizem e criem riqueza para as regiões.

Não existem receitas únicas para garantir bons resultados nas políticas públicas de atração de investimento, mas há algumas medidas interessantes que têm sido adotadas por várias autarquias ao longo dos anos, tais como:

– A disponibilização de boas infraestruturas de transportes, telecomunicações e de energia;

– A qualificação de mão de obra, por via de um maior direcionamento do desenvolvimento de competências para os setores-alvo definidos;

– A atribuição de incentivos fiscais e apoios à fixação de empresas (Oliveira do Hospital, por exemplo, está no leque reduzido de municípios que não aplica a derrama do IRC);

– A disponibilização de espaços industriais que permitam investimentos em escala.

Em paralelo com estas medidas de base, torna-se fundamental definir uma estratégia clara e abrangente para os territórios atraírem investimento, identificando setores-alvo prioritários com base nas competências disponíveis e futuras (em breve terei a oportunidade de escrever sobre este tema) e na complementaridade à economia existente, realizando a promoção proativa em feiras, exposições e missões empresariais.

Este trabalho de atração de investimento e fixação de empresas, embora seja premente, não é assim tão fácil como muitas vezes consideramos, isto porque existem outros fatores que não são controláveis pelas autarquias locais e, naturalmente, pela concorrência entre os vários municípios, daí ser relevante trabalhar em rede com autarquias limítrofes e, claro está, encontrar outras alternativas para a fixação de pessoas – a forma como o mundo do trabalho se transformou nos últimos anos, em particular com o choque originado pela crise pandémica, é na minha opinião mais uma via possível para trazer e fixar pessoas para o território.

O que a pandemia mudou: hoje é possível atrair cidadãos, e não só empresas

A crise pandémica mundial foi globalmente nefasta para a humanidade, mas se é possível tirar alguns aspetos positivos dessa época de má memória, um deles foi o impulso digital no dia a dia das organizações e, naturalmente, alguma transformação da cultura organizacional das instituições, nomeadamente a aceitação por parte das lideranças do teletrabalho, permitindo assim a prestação do trabalho à distância como um novo normal. Esse facto, claro está, oferece a oportunidade às autarquias locais de não se focarem em exclusivo na atração de empresas, permitindo direcionar as suas estratégias para a atração de cidadãos. Esta realidade é, sem margem para dúvidas, uma excelente oportunidade para diversificar as políticas de fixação de pessoas no território.

Embora não sejam conceitos novos que surgiram da pandemia, trabalhar a partir de casa ou de um coworking e ser nómada digital são tendências que aceleraram (perto de 1 milhão de portugueses mantinham o teletrabalho no final de 2023) no pós-pandemia e vieram para ficar no mundo do trabalho, oferecendo novas oportunidades e desafios para trabalhadores e empregadores.

Para territórios como Oliveira do Hospital, essas tendências representam mais do que simples mudanças no ambiente laboral – elas oferecem uma oportunidade para reter e fixar na região uma nova geração de cidadãos, com anseios naturais de ter uma vida económica estável, que não conhece fronteiras e que trabalha numa economia cada vez mais global, onde as empresas internacionais recrutam com condições inigualáveis em Portugal.

Por isso, é importante alinhar a estratégia para esta nova realidade, criando condições para que pessoas naturais ou com raízes na nossa região queiram trabalhar a partir daqui e, sobretudo, prestar atenção e trabalhar para atrair a comunidade mundial de nómadas digitais [1] (cerca de 35 milhões de pessoas), estes dois mundos são conciliáveis através da generalização de espaços de coworking (felizmente já existe no nosso território um espaço de coworking), assegurando qualidade da conetividade, promovendo uma comunidade de networking e, essencialmente, através da promoção de Oliveira do Hospital como um sítio idílico para estar e viver.

Em Oliveira do Hospital, encaro esta tendência como uma boa oportunidade para atrair pessoas para a região durante períodos longos, enquanto oferecemos um produto de excelência que valoriza e preserva o nosso rico património natural e histórico. Os nómadas digitais são atraídos por destinos que proporcionam um estilo de vida equilibrado, com acesso a espaços naturais e uma atmosfera tranquila. Neste sentido, Oliveira do Hospital pode oferecer uma autêntica experiência de imersão na natureza durante todas as estações do ano, o que é de facto diferenciador pela nossa proximidade à Serra da Estrela.

O nosso território tem para oferecer uma marca diferenciadora que valoriza as características autênticas da região, destacando-se pela gastronomia local, caminhos pedestres, rios e praias fluviais, beleza natural, património histórico e, essencialmente, um estilo de vida relaxante e seguro. Este é o cenário apetecível para os nómadas digitais que procuram um refúgio tranquilo, sem comprometer a produtividade profissional.

Ao reconhecer e abraçar as tendências emergentes do trabalho remoto e do nomadismo digital, temos a oportunidade de posicionar a região como um destino de eleição para uma nova geração de cidadãos. A ideia não é só atrair novos habitantes ou cidadãos que venham trabalhar para a região durante um longo período, e isso não é coisa pouca, mas é, também, começar a posicionar-nos como um território ligado à inovação e ao mundo digital – é nesse “jogo” que nos devemos posicionar para as empresas do território serem mais competitivas e acrescentarem mais valor para a economia.


[1] O fenómeno do nomadismo digital oferece aos viajantes a liberdade de explorar novos destinos, durante períodos longos de estadia, enquanto mantêm seus empregos e carreiras através da tecnologia digital – Lisboa foi durante muito tempo o destino preferido mundialmente desta comunidade, mas neste momento locais como a Ponta do Sol (Madeira), Costa da Caparica, Ericeira, Porto, Lagos, entre outras, reúnem a preferência em Portugal.

Alexandre Henriques  é licenciado e mestre pela Universidade de Coimbra, iniciou a sua vida profissional na Administração da Universidade de Coimbra e nestes últimos anos trabalhou como especialista em transformação digital do Estado na Estrutura de Missão Portugal Digital. Neste momento é responsável de equipa de customer experience numa instituição pública.
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