Marta Temido apresentou formalmente a demissão ao primeiro-ministro, António Costa, “por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo”. O anúncio foi feito pelo ministério da Saúde em comunicado, enviado às redações, na madrugada desta terça-feira.
Refira-se que Marta Temido demitiu-se depois de se tornar público a morte de uma grávida após ser transferida de hospital sem vaga para bebé. A mulher de 34 anos morreu no sábado após sofrer uma paragem cardiorrespiratória durante uma transferência de ambulância do Hospital de Santa Maria para o Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa. O Hospital de Santa Maria não tinha vaga para internar o bebé à nascença. Criança acabou por sobreviver graças a uma cesariana realizada de urgência.
Pouco depois, o gabinete do chefe de Governo dava conta da decisão de Costa de aceitar o pedido. “Respeita a sua decisão e aceita o pedido, que já comunicou ao senhor Presidente da República”, pode ler-se.
O primeiro-ministro “agradece todo o trabalho desenvolvido” por Marta Temido, “muito em especial no período excecional do combate à pandemia da Covid-19” e garante ainda que “o Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses”.
Ministra dos três últimos executivos de Costa, sobreviveu à pandemia e esbarrou na falta de médicos
Marta Temido iniciou funções como ministra da Saúde em outubro de 2018, sucedendo a Adalberto Campos Fernandes.
A ministra demissionária é doutorada em Saúde Internacional pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Gestão e Economia da Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e é licenciada em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Marta Temido também foi subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e presidente do conselho diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde, assim como membro do conselho de administração de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde.
Durante os seus mandatos, Marta Temido esteve no centro da gestão da pandemia, que começou em 2020, mas também atravessou várias polémicas. Recentemente, o encerramento dos serviços de urgência de obstetrícia em vários hospitais por falta de médicos para preencher as escalas pressionou a tutela.
Substituição de Marta Temido na Saúde “não será rápida”
A substituição da ministra da Saúde “não será rápida”, disse à Lusa fonte próxima do primeiro-ministro, adiantando que António Costa gostaria que fosse Marta Temido a concluir o processo de definição da nova direção executiva do SNS.
“O primeiro-ministro gostaria que ainda fosse Marta Temido a levar ao Conselho de Ministros o diploma que regula a nova direção executiva do SNS” e que considera uma “peça central da reforma iniciada com a aprovação do Estatuto em julho passado”, disse à agência Lusa a mesma fonte.
A aprovação “só estava prevista para o Conselho de Ministro de dia 15” [de setembro] e António Costa receia que a substituição de Marta Temido “atrase a aprovação” de um diploma que considera essencial, acrescentou a fonte.
A substituição de Marta Temido, que se demitiu esta madrugada, “não será rápida”, até porque António Costa estará “totalmente ocupado a concluir a preparação do Conselho de Ministros extraordinário da próxima semana para aprovar o pacote de apoio às famílias, que anunciará em setembro”, no parlamento, explicou.