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Incêndios florestais: Equipa da UC realiza ensaios sobre explosão de garrafas de gás

Uma equipa da Universidade de Coimbra (UC) realizou diversos ensaios de campo, com botijas de gás doméstico, para estudar o seu comportamento face a um incêndio florestal.

A equipa do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), realizou os ensaios em Mirando do Corvo, numa pedreira da empresa Sabril. A empresa acompanhou todo o processo, de maneira a garantir “toda a segurança”, juntamente com a Proteção Civil da Câmara Municipal de Miranda do Corvo, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo e os Bombeiros Voluntários de Coimbra.

Em comunicado enviado à Rádio Boa Nova, a UC explica que “foram testados três tipos de garrafas, com e sem sistemas de segurança, para libertação de gás pelo aumento da pressão ou da temperatura no interior da garrafa”, sendo que “duas das garrafas eram de construção metálica e uma de material polimérico”.

“Cada uma das garrafas foi instrumentada com sensores de pressão e temperatura ligados a sistemas de registo de imagens e de dados, colocados remotamente, e sujeitas a um foco de incêndio, em condições tipicamente observadas em incêndios na proximidade de habitações” é explicado.

Domingos Xavier Viegas, responsável pelo laboratório da ADAI e coordenador do projeto, indicou que em dois casos “os sistemas de proteção funcionaram como previsto e houve libertação de gás sem explosão da garrafa. Deve referir-se que a libertação do gás produziu durante algum tempo um jato de chama de grande intensidade, com mais de seis metros de comprimento, que em caso de incêndio na proximidade de uma habitação ou de vegetação, poderia ter efeitos destrutivos significativos”.

“O caso potencialmente mais grave, no entanto, ocorreu numa garrafa que ao não dispor de um dispositivo de proteção, que pudesse limitar o aumento de pressão na botija, esta explodiu com grande violência. Produziu-se uma bola de fogo a mais de sete metros de altura e a projeção de duas peças metálicas da garrafa a mais de cem metros de distância, justificando plenamente as medidas de segurança adotadas pela equipa, na realização dos ensaios”, concluiu.

A equipa da ADAI está, de momento, a analisar os resultados deste ensaio.

Thiago Fernandes Barbosa, investigador do projeto, sublinha que as observações realizadas “confirmam a perigosidade que já havia sido identificada anteriormente, associada com a presença deste tipo de recipientes de gás dentro ou junto de casas expostas ao perigo de incêndio florestal. Os ensinamentos retirados irão ser incorporados na formação que a ADAI ministra a agentes de proteção civil e a cidadãos, no sentido de contribuir para a sua maior segurança”.

Domingos Xavier Viegas explica ainda que estas observações servirão também como “suporte para a proposta de medidas de segurança”, em desenvolvimento pela ADAI: “para o emprego deste tipo de dispositivos, de forma a evitar a repetição de acidentes como os que ocorreram na Madeira em 2016 e em Portugal Continental em 2017”.

A equipa da ADAI refere que, já há vários anos, ao estudar acidentes ocorridos em incêndios florestais na interface urbano florestal, alguns deles com vítimas mortais, conseguiu identificar “o rebentamento de garrafas de gás como estando associado a danos em habitações e podendo ter uma grande importância no desfecho destes acidentes”.

No âmbito do doutoramento de Thiago Fernandes Barbosa, a ADAI, em 2019, deu início a “um projeto de investigação, para analisar as condições em que este tipo de explosões pode ocorrer, utilizando garrafas de gás mais usadas em Portugal, ao nível doméstico, sobretudo nas regiões rurais, e sobre formas de evitar essas explosões”.

Jorge Raposo e Domingos Xavier Viegas, do Departamento de Engenharia Mecânica da FCTUC, são os coordenadores deste projeto.

Estes ensaios estão inseridos no “programa de investigação aplicada sobre os incêndios florestais”, desenvolvido na Universidade de Coimbra pela ADAI, desde 1985, que conta com apoio de diversas instituições e projetos de investigação.

O estudo adjacente a estes ensaios faz parte do projeto europeu “FirEUrisk – Developing a Holistic, Risk-Wise Strategy for European Wildfire Management”.

O FirEUrisk, é atualmente “o maior projeto europeu de investigação científica sobre a temática dos incêndios florestais, do programa Horizonte 2020”, tendo-se iniciado no passado mês de abril e concluindo-se daqui a quatro anos.

Este projeto europeu é coordenado pela ADAI e envolve cerca de 40 entidades. Neste projeto estuda-se “o problema da segurança das populações quando afetadas por incêndios de grande violência, como os que se têm verificado, cada vez com maior frequência, nos últimos anos”.

Rita Tavares (Jornalista Estagiária)

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