André Duarte Pereira, filho único de Célia Lourenço que hoje faleceu, aos 60 anos, partilha uma nota de pesar pelo falecimento da sua mãe. “Este é o resumo do fim da minha mãe e que ela gostava que se fizesse saber”, refere na nota enviada à Rádio Boa Nova.
“Nota de pesar pelo falecimento da Professora Célia Maria Duarte Lourenço
Possivelmente morta pelo amianto das escolas onde trabalhou, nunca permitiu que o ataque de sucessivos governos à sua profissão justificasse a diminuição do seu esforço e empenho. Morre com anos de carreira congelados, e foi aposentada por incapacidade um mês antes de falecer. A Educação em Portugal cumpre os mínimos olímpicos de uma democracia enferma às expensas dos profissionais.
Numa luta de três anos contra uma doença invencível, foi apoiada pelo Instituto de Proteção e Assistência na Doença (ADSE), criado em 1963, e para o qual descontou durante uma carreira superior a três décadas. Ainda assim, alguns tratamentos que lhe prolongaram a vida, foram investimentos pessoais de milhares de euros, que a ADSE apenas veio a suportar parcialmente e a posteriori. A saúde é um negócio e a ADSE está a ser desmantelada.
A Professora Célia Lourenço passou três anos a caminho de Lisboa, onde era acompanhada na augusta Fundação Champalimaud por profissionais de excelência. Fazer mais de 10 mil de quilómetros, por vezes em agonia, conduzida pelo marido, em carro próprio, tornou evidente que viver no interior é uma expiação. A alternativa seria requisitar uma ambulância aos bombeiros, mas levar um doente a Lisboa pode custar até 400 €, cada corporação faz o seu preço.
No dia 03 de Agosto de 2023 morre em Seia, porque em Oliveira do Hospital não existem serviços paliativos. Fica, no entanto, uma nota de agradecimento pela solidariedade e profissionalismo das respetivas equipas e direções da Fundação Aurélio Amaro Dinis e da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Nossa Senhora da Assunção em Seia, que muito ajudaram a professora Célia Lourenço ao longo deste percurso. São os cidadãos solidários, os profissionais dedicados e as instituições fraternas que salvaguardam a dignidade desta nação.
Residente na freguesia de Aldeia das Dez, concelho de Oliveira do Hospital, a Professora Célia era uma força da natureza, cujas ações definiam o Valor e a Honra.
Mestre em História e autora da tese «A visão da mulher asiática no século XVI através do olhar de Duarte Barbosa e de Tomé Pires», deu muito à comunidade sem levar nada em troca. Era uma funcionária pública profissional e dedicada. Era uma professora assídua e pontual, com grande disciplina e que influenciou gerações. Era conhecida por corrigir os testes dos alunos de um dia para o outro, e de fazer as revisões dos exames nacionais Verão a dentro.
Membro ativo da sociedade, Professora de História no Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital (AEOH), fundadora do Clube de Rádio do AEOH e promotora de um sem número de atividades de interesse público. Morreu Célia Maria Duarte Lourenço, aos 60 anos, vítima de doença prolongada.
A saúde é um estado transitório que não augura nada de bom(1), por isso, sirva esta nota de pesar como uma antecipação daquilo que nos espera e de como o sistema nos vai falhar.
O Filho,
André Duarte Pereira
(1)Médico-cirurgião Eduardo Manuel Barroso