O facto de que muitos políticos de sucesso sejam mentirosos não é exclusivamente um reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, somente mentirosos podem satisfazê–las– Thomas Sowell
Quando os estadistas preferem a sua própria consciência aos seus deveres públicos, estão a levar o país ao caos por um atalho- Thomas More
Ser-se justo é impossível mas ser-se coerente é possível. É essa coerência que me leva a ter respeito pelos homens e mulheres da classe política, pelo seu altruísmo e pela sua disponibilidade para o serviço público, como acontece com os nossos autarcas de Oliveira do Hospital. Bem hajam!
A maioria de nós recusa o serviço público mas está sempre pronta para acusar, o que não quer dizer que não se deva ter uma forte consciência crítica sobre a atuação de quem se presta a servir os outros. Não é uma questão de política, é uma questão de ética.
Estamos vivendo tempos em que os nossos políticos não demonstram ter carácter e integridade e, portanto, nem merecem a nossa confiança, como evidenciam os recentes escândalos da TAP entre ministros, secretários de estado e assessores!
Chegámos a uma situação em que, depois de ganha a liberdade individual e política, com o 25 de Abril, a Sociedade Civil não valorizou, como seria expectável e desejável, estas conquistas e demitiu-se do escrutínio, de votar, de participar.
De facto, a nossa participação nos Partidos, cada vez mais ocos e fechados sobre si mesmos, foi deixada para aqueles que vivem à sua sombra e que não representam senão os próprios interesses.
Vivemos numa época meritocrática em que pensamos que ser inteligente é tudo. Obter um MBA numa conhecida Universidade abre todas as portas e ser academicamente muito credenciado é prioritário a ser um Homem ou uma Mulher com carácter e integridade confiáveis.
As pessoas muito credenciadas normalmente não correm riscos, pois é fácil arranjarem empregos. Tornam-se facilmente consultores daqueles que correm e assumem verdadeiros riscos: os empreendedores!
São também assim a maioria dos nossos políticos de Lisboa que, pelo seu percurso e vivências, estão muito distantes e alheados dos problemas das pessoas. Os nossos autarcas estão bem mais próximos das populações que servem mas, muitas vezes, observamos um seguidismo relativamente a Lisboa que não podemos aceitar.
Há poucos semanas atrás encontrei-me com um nosso dirigente autárquico que, de forma subtil, me dizia: Sabes, o concelho precisa de empresas que paguem mais do que o salário mínimo, empresas tecnológicas!
Por alguns momentos fiquei até sem fôlego, pois percebi que se estava a referir aos salários praticados na indústria de Confecções, o que considero uma barbaridade social, económica e política! Percebi que este nosso autarca estava a ser “fiel” a Lisboa, esquecendo a realidade da sua terra, sem quaisquer condições para albergar as tão desejadas novas empresas a pagarem salários “milionários”!
Foi isto que também me levou a escrever este artigo por não entender como este autarca pretende receber essas “novas empresas” com esta realidade:
-Temos um pavilhão sobrelotado que já não tem capacidade e disponibilidade para a grande oferta de modalidades em recinto coberto, com a sociedade civil a reclamar não ter espaço para praticar aqui qualquer tipo de modalidade de lazer.
-Temos uma piscina coberta de 16x8m, sobrelotada devido à ocupação de escolas, associações e jardins-de-infância, o que não permite a sua utilização por quem lá queira ir dar umas braçadas.
-Temos uma casa da cultura fechada há anos, sem espaço para a realização de diversos tipos de eventos e sem cinema, obrigando os jovens, e não só, a irem para Tábua, Seia e mesmo Coimbra na procura do grande ecrã e outros eventos. Há quantos anos, fora umas festas “Pimba”, que o Povo gosta, não existe um espectáculo decente na nossa terra, como assistimos nos concelhos à volta, com especial destaque para Tábua? E de quem é a responsabilidade?
-Temos uma oferta de saúde com doentes num verdadeiro rodopio entre FAAD, Seia, Arganil e CHUC, para as respostas urgentes com intervenção direta do 112;
-Temos falta de profissionais na área da saúde, principalmente médicos, no maior concelho a norte de Coimbra. Os médicos preferem outros locais para exercer. O interior não é desafiante nem estimulante, nem lhes dá incentivos para se poderem fixar.
-Temos uma oferta habitacional insuficiente, não só para quem procura casa auferindo apenas o salário mínimo, mas também para os “munícipes ”colaboradores de empresas que pagam altos salários.
-Temos uma gestão autárquica sem qualquer desculpa razoável para o abandono a que foi votada a ligação ao IC6…Como se pode aceitar que os concelhos à nossa volta tenham usufruído de ligações modernas e potenciadoras de desenvolvimento, como Tábua, Carregal do Sal, etc, etc, e Oliveira tenha sido ostracizada, num esquecimento que raia o absurdo do conformismo próprio de quem vê o poder como se de um tacho se tratasse?
Os custos de oportunidade, as dificuldade em trazer os potenciais clientes e investidores, os custos acrescidos de transporte que as empresas radicadas no Concelho suportam, a quem devem ser imputados?
-Temos uma gestão desportiva que prima por distribuir pelas diversas modalidades, o mais equitativamente possível, a verba municipal destinada ao desporto concelhio, de forma a ficarem todos pobres. Esta táctica assegura votos mas o resultado não é positivo porque o meritório foi substituído, de forma populista, pela mediocridade.
-Temos uma gestão autárquica que continua assente num conceito de hierarquia em vez de heterarquia, uma gestão partilhada e colaborativa, consultando os agentes dinâmicos da sociedade, na construção de parques industriais, de centros de saúde, na definição das políticas do desporto, da habitação, do comércio e, em particular, do ensino.
Mas, a responsabilidade dos poderes locais na situação a que se chegou não se fica por aqui pois competiria a esses poderes tentar galvanizar a sociedade civil, agrupá-la, motivá-la, dar-lhe ânimo, potenciá-la e, nesse particular, o que se passou nestes últimos 30 anos?
Pois eu respondo que absolutamente nada. Um quase divórcio e, por vezes, até mesmo um certo fomento de pequenas divisões, apenas e somente para benefício imediato de interesses politiqueiros, que nada de útil acrescenta ao futuro coletivo.
Oliveira do Hospital já teve reunidas todas as condições para aqui nascer um mini-cluster industrial, estético, criativo e moderno na área das Confecções mas, para isso, seria necessário que, nessa época, os poderes locais e a sociedade civil se unissem rumo a esse objetivo.
E se quisermos interrogar-nos ainda mais, impõe-se perguntar o que fizeram os poderes locais para introduzir cursos da área têxtil, por exemplo, na EPTOLIVA?
Os Oliveirenses não são nem piores nem melhores que todos os cidadãos deste maravilhoso País; apenas tiveram o azar, nestes últimos 30 anos, de escolherem, para seus representantes nos poderes locais, políticas e políticos de vista curta, para quem a prioridade nunca foi o desenvolvimento económico, mas sim a simples conquista e manutenção do voto e isso obtém-se com pequeníssimas coisas.
Os indicadores que seguidamente se referem são consequência e traduzem o resultado desta falta de visão e estratégia para o concelho:
-Uma diminuição do crescimento económico em que passamos de 297.693 em 2009 para 337.713 em 2021 ou seja de 6º maior no distrito para o 8º.*
-Nos valores de Bens Importados e Exportados das empresas passamos, no distrito, de 4º lugar (1993) nas importações para o 15ª (2022) e nas exportações passamos de 3º lugar (1993) para 15º (2022). Tudo por “culpa” das Confecções e dos salários baixos! *
-Uma população envelhecida que passou de 132,6 idosos /100 jovens em 2001 para 260,5/100 em 2021.*
-Uma população de 22.584 em 1991 para 19.413 em 2021.*
Porém, quero ter fé e um forte desejo que a construção do novo Campus Educativo, “o maior investimento municipal de sempre, onde os alunos terão as melhores condições de aprendizagem”,** mas sem um pavilhão coberto e com medidas adequadas para qualquer modalidade de salão, que “pela primeira vez temos a planificação do crescimento da cidade num horizonte de 30 anos, isto é, não planificamos para hoje”**, venha ainda a tempo de evitar o “funeral” do nosso Concelho.
Precisam-se Presidentes e vereadores de Câmara com estratégias de futuro, que corram riscos, que assumam os erros, com humildade intelectual e democrática, para podermos acreditar que ainda estamos a tempo de sobreviver!
carlosbritopt@yahoo.es…….. C.C. nrº 01477686
*Dados da Pordata
** Folha do Centro-17 Nov 2020- discurso do Sr. Prof. José Carlos Alexandrino na apresentação da Obra.