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Especialista em fogos diz que “falhámos todos” nos incêndios de Junho e de Outubro

Domingos Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais e responsável pelo relatório ao grande incêndio de Pedrógão Grande disse em Oliveira do Hospital que, quer naquele incêndio, quer no de outubro, “falhámos todos”.



A participar no debate “A Floresta – Presente e Futuro” promovido pelo Departamento de Ciências Socais e Humanas do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, Xavier Viegas recordou as circunstâncias do incêndio de junho e que incluiu no relatório àquele incêndio com a indicação de que “aquele tipo de circunstâncias de Junho poderia vir a repetir-se”. “Mal sabíamos que nos mesmos dias em que escrevíamos (o relatório) estava a acontecer esta tragédia. A nossa pergunta foi como é que isto aconteceu?”, referiu  o especialista que apontou o dedo ao elevado número de ocorrências de incêndios florestais, à falta de limpeza dos terrenos e às condições excecionais do tempo que foram comuns a junho e a outubro, não deixando também de responsabilizar a EDP por descargas elétricas que terão estado na origem de focos de incêndio. No caso de outubro, destacou o furacão Ofélia que “ganhou grande intensidade passou pela costa do país e causou esta forte desgraça”.

“Poderiam cá estar cinco mil ou 50 mil bombeiros que ardia tudo”

“Logicamente que todos teremos responsabilidades. Mas o fenómeno que existiu aqui, nunca existiu na nossa história”, reagiu o presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, verificando que o que aconteceu no concelho “não foi um grande incêndio”, mas antes uma “catástrofe, um ciclone de fogo que nunca tinha existido em Portugal”. José Carlos Alexandrino admite que “poderia ter-se feito mais”, referindo que naquela manhã pediu “meios ao secretário de Estado” que lhe disse que “os meios aéreos não tinham teto para voar devido aos ventos”.

Dadas as condições excecionais, o autarca não tem dúvida de que naquele fogo “poderiam cá estar cinco mil ou 50 mil bombeiros que ardia tudo”. Observou, porém que Oliveira do Hospital era um concelho modelo na forma como trabalhava a floresta mas “não estávamos preparados para este ciclone de fogo”.

Uma posição que já antes tinha sido defendida por José Vasco Campos, presidente da CAULE recordando que naquele dia “tudo ardia”. “Com aquelas condições de fogo e de vento nada, nada havia a fazer”, referiu.

Uma ideia não corroborada por Luís Lagos, que do mesmo modo se manifestou contra a primeira mensagem saída do relatório sobre os incêndios de outubro, de que “não havia nada a fazer”. Considerou, por isso, que o documento é “perigosíssimo” porque é “preciso que se perceba o que falhou para que não se volte a falhar”.

Emídio Camacho, comandante dos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital não esconde a sensação de “impotência” que sentiu naquele dia ao ver “243 km quadrados de área a ser dizimada”. Aponta como causa o êxodo rural e verifica que diante de um fogo como o de 15 de outubro “não haveria bombeiros que o conseguissem segurar”.

Após a tragédia, o caminho passa por sensibilizar os proprietários para a importância da limpeza e ordenamento florestal. Marco Pereira, sargento do Destacamento Territorial da GNR da Lousã disse que o momento é de “fiscalização exaustiva não virada para as coimas, mas para a sensibilização”

Num debate moderado por Vítor Neves e transmitido pela Rádio Boa Nova impunha-se saber para quando será possível que um território como o do Vale do Alva volte a ser aquilo que era. “Vinte ou 30 anos”, reagiu Xavier Viegas, considerando no entanto José Vasco Campos, da Caule que “o tempo da floresta, não é o tempo dos homens” que com a avidez do lucro optaram, nos últimos anos, por espécies mais rentáveis que permitiram que acontecesse a tragédia que aconteceu.

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