O epidemiologista Baltazar Nunes considerou hoje que Portugal tem uma “situação epidemiológica controlada” e salientou a elevada eficácia das vacinas para a covid-19 nas pessoas com mais de 80 anos.
Na sua intervenção na reunião de peritos no Infarmed, em Lisboa, Baltazar Nunes referiu que a incidência acumulada de novos casos nos últimos 14 dias está num nível baixo a moderado mas com “tendência crescente”, uma vez que o índice de transmissibilidade (Rt) se encontra acima de 01 em todas as regiões do país menos no Norte e no Algarve.
Salientou que é preciso evitar que esta tendência crescente continue a verificar-se, projetando que se continuar nas próximas semanas, poderá atingir-se “em um a dois meses” uma incidência acumulada a 14 dias acima dos 120 casos por 100.000 habitantes.
No caso de Lisboa e Alentejo, com Rt de 1,14 e 1,16, respetivamente, esse limiar poderá ser atingido mais cedo, num período entre duas semanas a um mês.
O epidemiologista e matemático afirmou que Portugal é dos países europeus com “mais baixas reduções de mobilidade, mantendo níveis de incidência baixos”, com índices de confinamento “ao nível de agosto de 2020”, quase iguais ao que se verificava antes da pandemia.
Para compensar o aumento dos contactos entre as pessoas e da transmissibilidade, é preciso aumentar a testagem, redução de número de contactos fora das “bolhas” familiares, manutenção de medidas preventivas nos locais de trabalho e escolas, aumento da cobertura da vacina e aumento das mensagens dirigidas à população centradas na necessidade de manter a prevenção.
Portugal pode estar a viver um momento de viragem na pandemia de Covid-19 para uma situação de doença endémica, disse hoje o epidemiologista Henrique Barros, que salientou que atualmente a infeção já tem uma menor circulação na população.
“Podemos pensar se esta doença, que emergiu há cerca de ano e meio, de uma fase de evidente epidemia e pandemia, estará ou não a entrar num momento de endemia e de que maneira é que aquilo que identificamos — o facto de a infeção ter um curso agudo – se está a desenvolver como uma síndrome pós-covid ou ‘covid longa’ pela presença de sintomas e de doenças para lá de 12 semanas após a resolução da fase aguda”, afirmou Henrique Barros.
Numa intervenção, o especialista da Universidade do Porto reforçou que endemia significa que “o vírus chegou para viver entre nós”.
“A infeção circula muito menos, a carga de infeção é muito mais baixa, mas temos de estar atentos à natureza cíclica destes fenómenos. Tudo leva a crer que a infeção se tornou endémica, ou pelo menos tornou-se endémica socialmente”, acrescentou.
Segundo Henrique Barros, a mudança na abordagem à Covid-19 pode ser vista não apenas pela sua disseminação ou nível infeccioso, mas também na forma como as pessoas olham para a doença, com uma diminuição dos níveis de ansiedade ou de receio de um eventual contágio com o vírus SARS-CoV-2.
“Muita coisa mudou ao longo do tempo na nossa perceção da doença”, sintetizou o epidemiologista, notando também que a probabilidade de morrer é agora muito mais reduzida entre a população mais idosa, ao passar de um em cada cinco doentes para uma probabilidade atual de um em cada 20 infetados.