Luís Filipe Torgal, professora de História do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, apresenta um texto em memória da professora Célia Lourenço, que faleceu ontem, aos 60 anos.
“A vida é uma peregrinação e uma romaria, em que cada um de nós vai enfrentando momentos de frustração e agonia e instantes de bem-estar e felicidade.
Nessa viagem cruzamo-nos com muitas pessoas. Umas são-nos indiferentes. Outras dececionam-nos. Outras ainda surpreendem-nos e cativam-nos, a ponto de passarem a fazer parte do nosso quotidiano e de ficarem gravadas no lado solar das nossas memórias.
Conheci a Célia Lourenço há 24 anos.
A Célia era uma pessoa discreta e recatada. Por esse motivo, demorei a conhecê-la.
À medida que a fui conhecendo, fui compreendendo a sua dimensão humana singular.
A Célia foi uma professora notável e uma colega extraordinária — colaborou na formação de sucessivas gerações de alunos que nunca mais se esqueceram dela; trabalhou com muitos professores que a vão recordar para sempre.
Os alunos evocarão a sua dedicação, tolerância, vocação didática, aptidão científica, serenidade e sentido maternal. Os colegas recordarão o seu profissionalismo, vitalidade cultural, lealdade e dimensão ética.
Evidentemente, a nossa escola teve muitos e bons professores. Alguns deles partiram demasiado cedo e hoje fazem muita falta à escola, fazem-me muita falta.
Mas devo confessar que não conheci nenhum com a elegância humanista da Célia.
Fui colega e, sobretudo, tive o privilégio de me tornar amigo da Célia. Testemunhei as suas excecionais aptidões profissionais. Beneficiei da sua enorme generosidade. Acompanhei o seu combate contra a doença. Observei a luta heroica que travou, com uma dignidade inquebrantável, que, creio-o bem, poucas pessoas conseguem revelar nestas circunstâncias.
Não sou crente, mas também não me considero ateu. Tenho, por isso, uma secreta esperança que a morte não signifique o fim.
Lúcia, a minha mulher, sonhou com a Célia nas vésperas de ela falecer. Sonhou que encontrou a Célia de boa saúde e com um semblante alegre e renovado. Costumo dizer que a minha mulher foi contemplada com o dom da premonição que está reservado apenas aos grandes profetas. Quero, por isso, acreditar que ela soube, previamente, que a nossa Amiga Célia partiu para uma outra dimensão espaciotemporal e está agora a fruir de um renovado bem-estar.
Até sempre, Grande Amiga Célia! Nunca te esquecerei, porque tu soubeste sempre indicar-nos os caminhos certos que os seres humanos mais completos podem e devem trilhar nas suas vidas, para tornar o mundo melhor”.
Luís Filipe Torgal