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Docentes do AEOH fazem greve e apelam à valorização da profissão

Esta manhã, dezenas de professores reuniram-se à entrada da escola sede do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital (AEOH) em manifestação para reivindicar, tal como acontece por todo o país, pela valorização da profissão. Em causa está o sistema de avaliação dos docentes, a municipalização dos concursos e a não progressão da carreira. Recorde-se que há um mês, os mesmos docentes avançaram com a primeira manifestação numa altura em que, desde 9 de dezembro, pelo país está em curso uma greve por tempo indeterminado.

A greve acabou por fechar as Escolas Básicas da Ponte das Três Entradas e da Cordinha, assim como a Secundária, que apresentou cerca de 90% de adesão.

Esta manhã, em declarações à Rádio Boa Nova, Luís Torgal, professor de História há 27 anos, sublinhou que, em causa, “está um desígnio nacional de todos os professores por uma escola melhor, diferente, onde os docentes não se sintam burlados e envelhecidos, à beira de um ataque de nervos”. Frisou que os professores “querem uma mudança imediata na estrutura da profissão” e que “o Ministério tem que arquitetar um novo sistema educativo que pense nos professores e nos alunos”. “Professores esgotados não hão-de ser grandes professores. Não é uma questão apenas de dinheiro”, afirmou. No que diz respeito à municipalização, o docente defendeu que são “a favor de uma triagem seletiva que tem de ser feita em função das capacidades e currículo profissional e académico e não em critérios subjetivos”. “A municipalização não vai trazer isso porque nós sabemos que somos um país de bandos costumes que institucionalizou o amiguismo. Por mais que os autarcas e diretores achem que isso não vai acontecer, nós sabemos que, no momento da verdade, da escolha, vão existir critérios que não têm a ver de facto com a qualidade e currículo dos professores”, explicou. Luís Torgal lamenta que a “maior parte da opinião pública ache que os professores trabalhem só na escola”. “Não é verdade”, frisou, sublinhando o tempo em casa dedicado à “preparação de aulas, testes e redação de atas”. “Há um manancial de trabalho em casa sistemático que nos está a esgotar”, disse.

Quanto à deslocação de “100 ou 200 quilómetros” que muitos dos docentes fazem, o professor de História garante que é “esgotante” e que rouba tempo ao “trabalho sagrado de preparação de aulas” que “exige investigação, pesquisa e planificação”. “Como pode um professor nestas condições, desempenhar uma pedagogia personalizada e individualizada? Não existe isso. Só na cabeça dos políticos que não pisam o chão da sala de aula todos os dias como nós”, concluiu.

Professora de Português há 39 anos, Isaura de Oliveira desloca-se para o AEOH há 21, num “trajeto difícil, mas sempre a acreditar que chega ao Oliveira do Hospital com o mesmo deslumbre como quando começou a lecionar”. À Rádio Boa Nova, lamentou a falta de “respeito pela carreira e pelo ensino” e defendeu que o Governo tem que respeitar os professores e vê-los como educadores e formadores”. “A tutela tem de pensar, criar condições para todos, sobretudo para os mais velhos que estão cansados e desgastados porque investiram a sua vida no ensino”, afirmou.

Na opinião da docente de Português, “contratar um professor não é mandá-lo para um local que ele desconhece, com o qual não tem ligação absolutamente nenhuma, sem condições monetárias”. Apesar de “falar na primeira pessoa com muita mágoa”, Isaura de Oliveira continua de “pedra e cal” a fazer o que melhor sabe, lecionar.

A participar na manifestação, Susana Faria, presidente da Associação de Pais do AEOH, afirmou que os encarregados de educação “estão solidários com a luta dos professores e por esta situação que se arrasta há demasiado tempo, que se reflete na qualidade de ensino da escola pública”. “Como parte integrante da comunidade escolar, devemo-nos solidarizar com esta luta dos professores que tem toda a razão para acontecer”, justificou.

Também os alunos se juntaram aos professores nesta manifestação. Dinis Pegado, aluno do 12º ano, avançou à Rádio Boa Nova que “é importante estar ao lado dos docentes” que, dia após dia, dão o seu melhor para contribuir para um futuro mais risonho dos alunos. Considera que é fundamental ouvir as reivindicações dos mesmos.

Amanhã, sexta-feira, os docentes deverão fazer, de novo, greve.

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