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“Disseram que eu tinha possibilidade de sobrevivência de 20 por cento” (com vídeo)

Carlos Conceição foi um dos queimados muito graves do grande incêndio de 15 de outubro, no concelho de Oliveira do Hospital. Ao cair do dia, foi apanhado por uma “língua de fogo”, em Avô, e as hipóteses de sobrevivência eram de apenas 20 por cento.

Quase um ano depois do grande incêndio, foi na sua casa, em Avô, que Carlos Conceição recebeu a Rádio Boa Nova para contar o que lhe aconteceu no fatídico dia 15 de outubro. Em jeito descontraído refere que “é sempre bom um gajo contar a história”. Mas, recuando no tempo, recorda que aquilo por que passou “não foi nada bom, nem nada agradável”. “Mas, se morresse seria bem pior”, conta.

Ao final daquela tarde de 15 de outubro, Carlos Conceição correu em direção à quinta para salvar o trator. Mas, o fogo que parecia estar longe, logo chegou. “Passei a última casa da povoação e passados 10 metros rebenta aquela língua de fogo nas minhas costas e não tive hipótese. Senti o calor… e o barulho que aquilo fazia?! Fazia um remoinho. Aquilo foi uma coisa impressionante. Só quem viu é que sabe explicar. A única coisa que eu dei conta, foi quando cheguei ao pé de duas moças a pedir para me deitarem água, e vi duas unhas a arrancaram-se. De resto, não me apercebi de nada. Quando cheguei a casa, deitei-me num sofá. Dizem que eu senti muito frio, mas adormeci e não me doía nada. Não dei conta de mais nada”.

Esperou 14 horas para ser socorrido. “Fui assistido na tenda provisória, depois fui para Gaia e depois para o Hospital de S. José de helicóptero. Só passado mês e meio é que dei conta que estava vivo”. Carlos Conceição esteve em coma induzido e o diagnóstico inicial fazia temer o pior. “Disseram ao meu genro que eu tinha possibilidade de sobrevivência de 20 por cento. Foi este o cenário que apresentaram do estado em que eu estava”.

Carlos Conceição esteve internado no S. José até ao dia 15 de maio de 2018. Regressou a Avô, no concelho de Oliveira do Hospital, no mês de agosto. “É sempre bom um gajo contar a história. Mas, não foi nada bom, nada agradável”, conta, mostrando o documento que trouxe do S. José e que dá conta de queimaduras de segundo e terceiro grau na face, região cervical, abdómen, membros superiores e inferiores e dorso.

“Todo o corpo tem marcas que ficarão para toda a vida. Quanto a isso não posso fazer nada”. Carlos Conceição usa, diariamente, mangas e luvas de compressão necessárias à recuperação, que o próprio adquiriu. Garante que até agora não recebeu qualquer apoio para fazer face às despesas que já ultrapassam os dois mil Euros. Só em cremes, Carlos Conceição tem uma despesa mensal de mais 100 Euros. Já avaliado medicamente pelo Instituto de Medicina Legal, Carlos Conceição tem procedido ao envio de todas as despesas para a Provedoria da Justiça, mas até agora “nada”.

Carlos Conceição está agora a fazer sessões de fisioterapia no Hospital da Fundação Aurélio Amaro Diniz. “Isto é uma recuperação muito lenta. Mas, olhando para há três ou quatro meses, está diferente. Para melhor”.

Ao homem não falta a força de vontade para superar o que aconteceu. Aos 67 anos, e com o apoio da família, não se deixa abater. “Eu conto o que aconteceu, mas não penso nisso. Levo isto num à vontade e numa boa. Porque isso não leva a nada, não é?”.

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