Paulo Rogério, proprietário de uma queijaria artesanal e Luís Miguel Falcão de Brito, empresário agrícola e florestal, foram duas das vozes que, por ocasião…
… do lançamento do livro “Dia 15” da Rádio Boa Nova, deram conta da discriminação em torno do setor agrícola 17 meses após o grande incêndio que devastou o concelho de Oliveira do Hospital.
O conhecido produtor de Queijo Serra da Estrela confessou-se triste por “um agricultor ser tratado como português de terceira”. “Somos discriminados”, afirmou Paulo Rogério, contando que os apoios não chegaram até si e que também não vai “fazer projeto”, por considerar que “os valores da tabela do IFAP (Instituto de Financiamento Agricultura e Pescas) é estarem a gozar com a agricultura”. “Não sei se vale a pena ser agricultor como somos tratados. Vendo bem as coisas ainda não estou curado e não vou estar curado . A corda em vez de alargar ainda aperta no pescoço”, disse Paulo Rogério.
Uma posição que foi partilhada por Luís Miguel Falcão de Brito que se mostrou fragilizado por precisamente naquele dia, 19 de março, ter sabido do resultado da candidatura do projeto que apresentou ao PDR (Programa de Desenvolvimento Rural). “Não vou ter ajudas absolutamente nenhumas”, lamentou o empresário que teve prejuízos a rondar 1,5 milhões de Euros. À Rádio Boa Nova disse que tem força para continuar e que não vai baixar os braços. Mas, avisou: “Não quero mais ouvir os telejornais a abrir a acusarem os autarcas e comandantes dos bombeiros”. “Nós todos sabemos quem são os culpados”.
Diante das queixas, o presidente do Município de Oliveira do Hospital referiu que no processo de recuperação após incêndio “houve coisas que correram bem”, mas “os agricultores estão prejudicados”. José Carlos Alexandrino lembrou que foi em Oliveira do Hospital que houve uma reunião com o Ministro da Agricultura, onde foi aberto o apoio de 50 mil Euros até aos 85 por cento. Mas também notou que “o Governo desperdiçou muito dinheiro no apoio dos cinco mil euros. Garantiu que vai continuar a lutar para que seja atribuída uma verba do Orçamento de Estado aos agricultores e que não seja pelo “complexo processo do PDR”.
Em dia de apresentação do livro “dia 15”, a Rádio Boa Nova contou com a presença de alguns dos lesados pelo incêndio e que foram notícia e constam do livro. Foi o caso dos irmãos Paulo e Cláudio Guerra da empresa J.Guerra que foi totalmente destruída, com prejuízos de 15 milhões de Euros. Paulo Guerra fez por isso um agradecimento muito sentido ao seu pai, Joaquim Guerra, porque é graças a ele que conseguem manter a empresa em atividade. Cláudio Marques, responsável pela empresa instalações elétricas e climatizações com o seu nome, foi dos primeiros a iniciar a recuperação após o fogo. “Ninguém sabia o que nos ia ser dado . Com os próprios meios fomos fazendo o que achei que conseguiria fazer, sem recorrer a bancos, a nada. Foi com a prata da casa. Conseguimos a pouco e pouco e depois veio o subsídio”, contou.
Nuno Nunes, da conhecida empresa NN Motos, perdeu a oficina e 41 motos , sendo que 31 eram de clientes. Já paguei 92 mil Euros de motos de outros clientes, desabafou o responsável que já reergueu a empresa e deu vida ao novo projeto HillStar, dispondo de dois veículos TukTuk e participando em tudo o que é eventos. “Sou pessoa de não estar parado, nem quieto”, partilhou.
Sandra e Nelso Tavares são o casal a quem foi entregue a casa já recuperada na localidades das Seixas. “Estamos melhores. É a nossa casa. Mas, é difícil de recuperar”, comentou a mulher.
Rogério Brito, da empresa Frutas Brito, contou que perdeu a empresa e 18 carros e que começou a trabalhar ao segundo dia, com o apoio de amigos que logo emprestaram seis carros. “Sem eles era impossível estar aqui”, comentou agradecendo o bom envolvimento do presidente do Município de Oliveira do Hospital.
Isabel Brito, da Carpintaria Brito contou que as novas instalações da empresa estão quase prontas, mas contou que foi o seu pai, Fernando Brito, com 74 anos, que logo disse que iriam recomeçar de novo. O pai tinha ficado retido no IP3, mas “quando ele chegou disse que iríamos reconstruir e está quase”.
Carlos Oliveira, da Queijaria dos Lobos referiu que a empresa tem “estado a recuperar devagar. Mas está-se a recuperar”. “Devagar vamos renascer”, afirmou.
Outros lesados marcaram presença na apresentação do livro “Dia 15” que reúne várias histórias e fotografias que foram notícia na Rádio Boa Nova. Foi também o caso de Ricardo Fidalgo, gerente da conhecida discoteca Espíritos, que foi totalmente destruída pelo fogo e não foi possível recuperar por não ser proprietário do espaço. O jovem empresário tem apostado em outros projetos de menor dimensão, marcando presença em vários eventos.
A apresentação do livro “Dia 15” teve lugar no dia 19 de março, à noite, no Aqua Village Health Resort & Spa, contando com a presença de mais de uma centena de pessoas, entre empresários, autarcas, responsáveis institucionais, diretores, colaboradores e amigos da Rádio Boa Nova.