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Carta Aberta: “Provas de Aferição no 2º ano de escolaridade. É necessário banir este disparate para defender as nossas crianças”

– Carta Aberta de João Dinis

            Exmº Senhor Ministro da Educação e Ciência.

            Exmº Senhor Presidente da Comissão  de Educação e Ciência.

“Provas de Aferição” – no 2º ano de escolaridade.

É necessário  banir este disparate para defender as nossas Crianças !

Excelências :

As Crianças que frequentam o 2º ano da Escola Básica (ex- Escola Primária) estão a ser sujeitas às chamadas “provas de aferição” em matérias como: Educação Física – Música – Expressões – estas já efectuadas e a seguir –  Português – Matemática – Estudo do Meio.

Sim, as nossas Crianças, enfim, com 8 anos e ainda sem especiais defesas na situação, estão já a ser precocemente submetidas a “stress” e a cargas de ansiedade.  É uma violência institucional – escolar – tão desaconselhável quanto desnecessária.  Mas é “isto” que o sistema manda que aconteça!

Eu sou encarregado de educação de uma dessas Crianças (8 anitos) e tenho assistido a manifestações de preocupação e de ansiedade da parte dela, para mim motivos mais do que suficientes para contestar este processo em curso das ditas “aferições”.  Mas todo o contexto é ainda pior… 

A minha Criança e outras frequentam uma Escola que faz parte do Agrupamento Escolar de Oliveira do Hospital e, neste, da Escola da Cordinha embora fique situada numa outra povoação que não aquela onde funciona a Escola principal.

Afirmo que é importante manter as “pequenas” Escolas a funcionar e que, para isso, é preciso dotá-las de boas condições práticas para o efeito.  E quase sempre é mais fácil fazer deslocar um professor do que deslocar os alunos…

Ora, as Crianças do 2º ano escolar dessa Escola foram deslocadas para a Escola principal para as ditas “provas de aferição” de Ginástica e de Expressões como a Música, por exemplo. Porém, na “prova” de Ginástica foram colocadas no Ginásio escolar para usarem “aparelhos” como o Pelinto, os Espaldares e etc, com os quais não estavam familiarizadas que na Escola diária delas não há nada disso.  E também tiveram uma “prova” de Música quando na Escola diária, por norma, não há essa valência.  E para piorar tudo, foram classificadas, ao que julgamos saber, com pontuações valorativas tipo “Bom” e “Muito Bom” e também numéricas, classificações essas que ficaram registadas na Escola e nem sequer sabemos exactamente porquê e para quê. 

Então, estes casos começam por exibir uma manifesta incongruência – um disparate – e seja lá qual for o ângulo por que se analise.  Quer dizer, a Escola coloca as nossas Crianças a executar exercícios, em estilo de “provas” em “disciplinas” que as Crianças não têm no seu dia a dia escolar ?!  Provavelmente, as Crianças que frequentam a Escola principal, neste caso da Cordinha, têm acesso frequente a tais exercícios pois têm Ginásio ali à mão e ao pé…  E assim sendo, fica demonstrado um atentado ao princípio Constitucional (Artigo 74º . Ensino – da Constituição da República Portuguesa)  da “igualdade de oportunidades” pois para as haver de facto é primeiro necessário proporcionar igualdade de condições práticas para as assegurar.  Ainda por cima, em provas com pontuações e classificações que ficam registadas na Escola.  E aqui chegados nós, afirmo que a “envenenar” a psico das Crianças com cargas nocivas de ansiedade pois até lhes é criado um ambiente específico diferente do mais habitual e do ponto de vista físico e psicopedagógico.  E já estamos à espera, com ansiedade redobrada, das provas de Português, Matemática e Estudo do Meio, estas ao que parece a realizar através de computador e menos susceptíveis de envolver aspectos lúdicos como as Crianças tanto apreciam.  

Neste contexto específico, o pior de tudo é haver Crianças que, perante as dificuldades inesperadas que lhes colocam, intuam para dentro delas o critério da chamada “autodesvalorização” – o do “não sou capaz” – que, se instalado, pode mesmo afectar, muito negativamente, o seu comportamento individual e social com sequelas para toda a vida.

Os próprios Professores envolvidos são mais vítimas que culpados.

Estamos em crer que o Ministério da Educação o que mais pretende é “classificar”, também desta forma, as Escolas e os Professores.  Esquece que a Constituição da República consagra uma Escola de cariz democrático e não de “policiamento” a alunos, a professores e a funcionários.  

É que estas “provas de aferição”, embora de forma enviesada, acabam por ir atrás de desempenhos das Escolas e dos seus Professores mais até do que de alunos tão novos.  Porém, para conseguir isso, o Ministério da Educação está a usar Crianças como “cobaias” o que constitui uma perversão e um inadmissível abuso de poder !  É uma violência pedagógica com impacto desumano !

Por tudo isso, é necessário que a Escola afectada saiba fazer convergir encarregados de educação e professores na tarefa democrática de se banir este tipo de “aferições” da Escola e assim melhor fazer respeitar e defender as nossas Crianças. 

Basta de disparates !     Não e não a estas “provas de aferição” !  

Com os melhores cumprimentos.

7 de Maio de 2023

João Dinis

(Encarregado de educação de uma Criança sujeita a “provas de aferição” )

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