A ANCOSE – Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela está preocupada com a possível “perda do Queijo Serra da Estrela”.
As preocupações foram expostas por Manuel Marques, presidente da associação, em entrevista à Rádio Boa Nova, salientando os “graves problemas” que surgiram desde de 2017 com os incêndios. O dirigente destaca agora, a par da pandemia, da guerra e da seca, os preços do leite que se mantêm “inalterados”, e que não permitem o aumento do rendimento dos produtores.
“Devido à guerra na Ucrânia, dizem que tiveram de aumentar o preço dos combustíveis, dos adubos e das rações para suportar os custos de produção. E quem aumenta os custos de produção dos pastores, no fabrico do queijo, do requeijão e do leite?”, questionou o presidente da Associação.
Orgulhosamente filho de pastores, o responsável prevê “momentos difíceis” para os associados da ANCOSE, no imediato e no futuro, uma vez que, devido à seca extrema, “os fardos não cresceram para serem ceifados e depois guardados para alimentação”.
Face a estes constrangimentos, Manuel Marques já entrou em contacto com a Ministra da Agricultura pedindo a “isenção da Segurança Social para pastores”, a “valorização da raça através do aumento do valor por cabeça animal” e o apoio na vacinação.
A esta altura, e por ocasião da realização da Festa do Queijo de Oliveira do Hospital, o presidente confessa-se “preocupado” e com “medo” quanto ao futuro de uma das “grandes maravilhas gastronómicas de Portugal”. “Poderemos perder o Queijo Serra da Estrela e os hábitos ancestrais do seu fabrico”, lamentou.
Num olhar sobre os últimos seis anos, Manuel Marques constata uma “redução do efetivo animal” na região demarcada da Serra da Estrela. À Rádio Boa Nova revelou que, neste momento, contabilizam-se 70 mil animais e “há cerca de cinco ou seis anos eram 120 mil”, quase metade.
Para fazer face a estas perdas significativas, a ANCOSE criou, logo após os grandes incêndios, o Centro de Recria com o apoio do Município de Oliveira do Hospital, para “repor animais que morreram queimados” e encontra-se a “distribuir animais para incentivar a criação de rebanhos bordaleiros Serra da Estrela”. A associação nacional suporta, ainda, o transporte animal e a vacinação em 0,08 cêntimos”.
“Os pastores precisam de incentivos. Se uma atividade não for rentável, as pessoas não aderem”.
Com a função de “zelar pela raça animal”, a ANCOSE defende que “enquanto o leite da ovelha não for para os dois euros por litro e o queijo não for vendido a 35 euros, não haverá hipótese e as pessoas deixarão de fazer o Queijo Serra da Estrela”.
“A ANCOSE só tem razão de existir se ajudar os pastores e produtores. Não tem condições para alimentar todos os animais da região, mas não faltará pão em cima da mesa das famílias de pastores”.
Com três mil associados nos 18 concelhos da Região Demarcada da Serra da Estrela, 222 constam no livro genealógico por possuírem só raça bordaleira.
Nas suas instalações, na Bobadela, a associação conta com um rebanho com cerca de 40 animais e com uma queijaria e, por isso, marcará presença na maior Festa do Queijo no próximo fim-de-semana, em Oliveira do Hospital.
A defender que “não é pastor quem quer, mas é pastor quem sabe”, Manuel Marques deixou ainda uma palavra de apreço aos autarcas da região pela realização deste tipo de certames que acabam por “apoiar os produtores”.