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Águas Públicas da Serra da Estrela promoveu debate sobre a gestão sustentável da água

A Águas Públicas da Serra da Estrela (APdSE) organizou, no passado dia 25 de setembro, no Auditório do Centro de Interpretação da Serra da Estrela, em Seia, a conferência “O valor da água: entre o saber e o fazer”. O evento reuniu vários especialistas para discutir a importância da água enquanto recurso essencial e refletir sobre estratégias práticas que promovam a sua valorização e uso sustentável.

A conversa foi conduzida pelo Eng. Ricardo Campos, presidente do Fórum da Energia e Clima com a participação da Dra. Vera Eiró, presidente da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), do Eng. Nuno Bravo, Diretor da Administração de Região Hidrográfica do Centro, do Dr. Eduardo Anselmo de Castro, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, do Dr. Nuno Moita, vogal da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, e da professora Isabel Andrade, da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE), que representou a Direção Regional de Educação do Centro.

Sob o mote “entre o saber e o fazer”, a conferência procurou sublinhar a necessidade de ultrapassar o debate teórico em torno da gestão da água, direcionando-se para a implementação de soluções concretas, através de uma reflexão sobre o “valor da água” assente em diferentes perspetivas: a regulação e tarifação da água pela ERSAR, o papel da educação na promoção do uso consciente da água, a importância da gestão municipal, e a visão estratégica para a região Centro, representada pela Comissão de Coordenação e pela Administração de Região Hidrográfica.

Ricardo Campos reforçou que não basta compreender o valor da água enquanto recurso vital, é crucial transformar esse entendimento em ação, aplicando políticas e práticas que assegurem a sua proteção e preservação para as gerações futuras, defendendo que os consumidores têm de saber “guardar a água e geri-la cada vez melhor porque ela já não vai estar disponível como antes” acrescentando que é “um grande desafio para as entidades gestoras, gerir as redes com cada vez mais eficácia não permitindo que haja perda de água nas redes porque essa água custou muito dinheiro para captar, bombar, tratar e distribuir”.

Durante o debate, Vera Eiró sublinhou a importância do trabalho da ERSAR na definição de tarifas justas e no controlo da qualidade dos serviços de água e resíduos, salientando que as contas que a ERSAR faz “não são para atribuir um valor à água, que naturalmente não é possível valorizar pela sua essencialidade”. A regulação eficaz foi destacada como um fator chave para garantir o equilíbrio entre a acessibilidade e a sustentabilidade, para Vera Eiró é atribuir um valor “de quanto custa levar água, desde a sua origem até às nossas casas”.
A presidente do Conselho de Administração da ERSAR defendeu que os serviços de abastecimento de água “são prestados em regime de monopólio” mencionando que “seria muito fácil, para a entidade que presta o serviço, cobrar o preço que quisesse, porque na verdade a pessoa em casa não podia escolher, pagava o que fosse preciso”, reforçando a posição da ERSAR como entidade reguladora que garante “que os preços são justos e que não se cobra nem mais, nem menos pelo serviço”.

Nuno Moita, representante da ANMP, enfatizou o papel crucial dos municípios na gestão eficiente dos recursos hídricos, destacando a necessidade de cooperação entre entidades locais para implementar soluções eficazes no terreno.

No término da sua intervenção, Nuno Moita foi ao encontro das declarações de Vera Eiró para alertar que “os territórios não são todos iguais” aludindo ao facto de que “distribuir água em sítios como Condeixa ou Coimbra, é diferente de distribuir água em locais com maior dimensão territorial, mas com menor densidade populacional, por ser mais complexo de garantir os custos de recuperação na ordem dos 90%” defendidos pela ERSAR.

“Portugal é um país muito centralizado, com um governo central que manda em muita coisa. Um país onde há tradição municipalista, mas depois no intermédio essa tradição é fraca. Faz falta, para uma boa gestão da água, esse nível intermédio”, destaca Eduardo Anselmo de Castro, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), apontando para a importância estratégica da água no desenvolvimento regional, uma vez que Portugal tem um sistema irregular “onde a precipitação média do país é superior, muito superior à média da Europa. Primeiro não é igual no país todo. Chove em alguns sítios do norte, e nas montanhas do norte, mais até do que seria bom, e chove muito pouco no sul”. Outro problema apresentado pelo dirigente da CCDRC está relacionado com o período em que a precipitação ocorre “chove muito em certos anos e não chove nada nos outros”.

Eduardo Anselmo de Castro diz que a região centro é muito favorecida em termos hídricos. “Tem um anel de serras, que são sítios com grande pluviosidade e no meio desse anel está o planalto da Beira, que significa que é favorável, porque a água escorre toda para esse planalto e é fácil com uma ou duas barragens que essa água seja aproveitada”, defende o vice-presidente da CCDRC. Para o dirigente a aposta na construção de barragens tem a vantagem de “evitar cheias”, alertando que o controlo das cheias no vale do Mondego será mais eficaz com a “construção da barragem de Girabolhos, que servirá também para abastecer água”.

A valorização da água passa por adotar uma “política de acumular água”, considerada crucial por Eduardo Anselmo, dado que a zona centro do país é uma “região estratégica da água, pela sua pluviosidade e pela sua proximidade à zona seca”. Além disso, é fundamental mudar mentalidades, uma vez que as “pessoas têm de começar a aceitar que estes investimentos (construção de barragens), que se pagam no futuro, têm interferência no valor da água”.

“Portugal precisa de 6 mil hectómetros cúbicos de água, em média, para todas as suas utilizações”, expôs Nuno Bravo, diretor da Administração da Região Hidrográfica do Centro, referindo que “existem desafios na qualidade das massas hidrográficas com menor volume disponível de água” onde se verifica um decréscimo de qualidade.

Para o dirigente da ARH do Centro “a qualidade da água depende muito do serviço que é prestado no Ciclo Urbano da Água” através do aperfeiçoamento no tratamento que é dado às águas utilizadas nesse fim, rematando que essas melhorias “têm um preço que tem de ser pago”.

Nuno Bravo destacou ainda a aposta nas Águas Para Reutilização (APR), para fins não potáveis, reforçando a posição desta medida com projetos futuros onde a utilização de água para fins “como as regas dos parques públicos podem ser realizadas com a totalidade da água tratada numa ETAR”.
A educação também tem um papel fundamental de sensibilização das pessoas. Isabel Andrade, da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE), discutiu o papel vital da educação na promoção de uma cultura de responsabilidade no uso da água desde cedo, sublinhando que “a água está vertida em alguns referenciais, que traçam o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória e que estabelece os principais objetivos para o desenvolvimento integral dos alunos”.

A valorização da água está presente na aprendizagem essencial, por exemplo no pré-escolar “com as orientações curriculares, este tema é trabalhado e explorado através de historias, teatros, desfiles, concursos e artes plásticas” enumera a representante dos estabelecimentos escolares, acrescentando que nos restantes ciclos preparatórios este tema é trabalhado nas diferentes disciplinas e projetos,
destacando o Eco Escolas “um projeto que os estabelecimentos escolares tanto acarinham, e que os Municípios são os grandes parceiros”.
Segundo Isabel Andrade “as escolas fazem um diagnóstico inicial, quer às instalações, quer através de inquéritos aos alunos”, reúnem os resultados e “identificam o ponto em que se encontram” para que sejam adequadas as ações de sensibilização “desde colocações de dísticos de apelo ao consumo racional da água, redutores de caudal, analisam os consumos de água, fazem gráficos, fazem divulgações e trabalhos no âmbito desta temática”.

A conferência permitiu um debate rico e construtivo sobre a importância de transformar o conhecimento sobre a água em ações concretas, promovendo uma gestão mais sustentável e consciente deste recurso essencial.

A conferência “O valor da água: entre o saber e o fazer” encerrou com uma mensagem clara e urgente: é necessário transformar o conhecimento sobre a água em ações concretas e eficazes. A discussão multidisciplinar realçou a importância de uma gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos, onde a regulação justa, o papel da educação para o uso consciente e a inovação tecnológica são cruciais. O evento destacou ainda o papel fundamental, com necessidade urgente, da mudança de mentalidades na valorização e proteção dos recursos hídricos.

A Águas Públicas da Serra da Estrela, ao promover este evento, reforça o compromisso de todos os intervenientes em garantir a preservação e o uso consciente da água, assegurando o seu acesso e disponibilidade para as gerações futuras.

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