Perder alguém pode ser extramente doloroso, principalmente quando acontece de forma inesperada. A verdade é que não existe uma forma “certa” ou “errada” de nos sentirmos ou comportarmos quando sofremos a perda de alguém. Permitirmo-nos sentir zangados e tristes, chorar ou falar sobre a pessoa que morreu, pode ajudar. Mas pessoas diferentes lidam com a perda de alguém de forma diferente.
A dor provocada pela morte de alguém afeta-nos de forma diferente. Primeiro podemos sentir que o nosso mundo se despedaçou – as coisas que fazemos, as pessoas que vemos e os sítios onde vamos podem parecer-nos estranhos e não familiares. Pequenas coisas podem lembrar-nos imediatamente da pessoa que morreu e pode ser difícil conseguirmos pensar noutra coisa. Pode parecer que deixamos de ter controlo sobre a nossa vida e essa sensação, embora normal, é assustadora.
A zanga e um sentimento de injustiça também podem ser comuns quando alguém morre – “porquê aquela pessoa?! Não é justo!”. Podemos perguntar-nos “porque é que isto me aconteceu?” e sentirmos raiva do mundo ou mesmo da pessoa que morreu. Ou simplesmente zangados, no geral. A zanga e a raiva são normais desde que não nos magoemos a nós próprios ou alguém. Pode ajudar fazer desporto, esmurrar uma almofada ou gritar.
Embora a tristeza seja a emoção mais associada à dor de perder alguém, ela pode tomar várias formas. Podemos sentir que alguma coisa falta na nossa vida ou podemos preocupar-nos com o futuro. Nem sempre sentirmo-nos triste significa sermos capazes de chorar. Pode ser difícil para nós chorar ou sentirmo-nos desconfortáveis em chorarmos à frente de outras pessoas.
A perda de alguém também nos pode fazer sentir sozinhos. Até falar com amigos pode ser difícil. Pode parecer que ninguém vai entender como nos sentimos. Ou, por outro lado, podemos desejar ficar sozinhos, sem ninguém por perto.
O arrependimento também é comum e pode ser um sentimento muito perturbador. Podemos preocupar-nos com coisas que dissemos ou fizemos (ou deixámos por dizer e por fazer) e culparmo-nos por não termos sido melhores com a pessoa que morreu. O arrependimento é natural e devemos aceitá-lo e não sermos muito duros connosco próprios.
Na verdade, sobretudo nos primeiros dias depois de perdermos alguém importante na nossa vida, podemos até não sentir nada. Pode ser tão difícil acreditar e aceitar o que aconteceu que nem conseguimos perceber o que sentimos. Esta sensação é muito confusa, mas normalmente acaba por passar. Se persistir é importante procurar ajuda.
A morte de alguém também nos pode provocar dor física. O nosso corpo reage aos nossos sentimentos intensos e podemos notar alguns sintomas físicos. Por exemplo:
- Cansaço e exaustão avassaladoras. Até as tarefas mais simples e diárias – levantar, ir para a escola, falar com outras pessoas – nos podem parecer um esforço enorme;
- Dores de cabeça, dor no peito;
- Ataques de ansiedade;
- Dificuldade em respirar;
- Perda de apetite ou comer em excesso;
- Dificuldade em adormecer ou medo de ir dormir;
- Dificuldades de concentração.
Nos dias, semanas e meses que se seguem à morte de alguém importante para nós o mais provável é que passemos muito tempo a pensar nela. Podemos pensar sobre a forma como contribuiu para a nossa vida, o que significava para nós ou como mudámos depois da sua morte. Podemos questionar o sentido da vida e procurar um significado naquilo que aconteceu. Nalguns dias as coisas parecerão um pouco melhores, noutros podemos sentir-nos horrivelmente mal. Podemos pensar se algum dia seremos capazes de recuperar.
O luto é um processo. Não pára de repente. É um processo saudável de adaptação a uma nova realidade através do qual encontramos formas de lidar com o que aconteceu. Isso não significa esquecer a pessoa que morreu: nunca a esqueceremos. No entanto, à medida que o tempo passa podemos começar a aceitar o que aconteceu e a encontrar de novo sentido na nossa vida. É natural começarmos a sentir-nos gradualmente melhor.
O que podemos fazer para nos sentirmos melhor quando alguém morre?
Não há uma forma certa de fazermos o luto por alguém que morreu. Podemos chorar ou não. Ficar zangados ou não. Preferirmos ficar acompanhados ou sozinhos. Algumas coisas podem ajudar:
- Ver fotografias da pessoa que morreu;
- Visitar a campa no cemitério ou um lugar que era especial;
- Pensar sobre o quanto a pessoa era importante para nós;
- Fazer um desenho ou escrever sobre o que estamos a sentir (por exemplo, escrever uma carta à pessoa que morreu);
- Falar com alguém – um familiar, um amigo, um Professor ou o Psicólogo da escola.
Em caso de necessidade será importante pedir ajuda a um profissional.
Mariana Guilherme – Psicóloga Clínica e da Saúde