“Reinventar o Interior. Homem, Natureza,Economia” serviu, ontem, de mote ao debate que encheu o auditório do Crédito Agrícola, na cidade de Oliveira do Hospital, …
… numa organização do Departamento de Ciências Sociais e Humanas do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital (AEOH) no âmbito da “Festa da Primavera”.
Especialistas em Geografia Física e Humana, e em História da Economia foram chamados ao debate, que também contou com a participação de responsáveis pelo Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE) e o vice- presidente do Município de Oliveira do Hospital. Vítor Neves, da Rádio Boa Nova, foi o moderador.
No arranque do debate, realizado ao fim da tarde e transmitido em direto pela Rádio Boa Nova, Carlos Carvalheira, diretor do AEOH explicou que ainda que se fale de “Festa da Primavera” o que a escola pretende é “sensibilizar para que a sociedade tenha um olhar diferente”. “Temos a obrigatoriedade de alertar para esse grande desiderato de fazermos algo diferente para não cometermos os erros que no passado cometemos”. Em causa está o “dia 15” que levou à “necessidade de todos pensarmos e olharmos diferente e agir diferente”.
Vítor Neves, oliveirense e diretor da Rádio Boa Nova, foi chamado a moderar o debate, ficando logo preso à consideração defendida por João Luís Fernandes, especialista em Geografia Humana da Universidade de Coimbra que na primeira intervenção identificou como primeiro “paradoxo”, o facto de os pais educarem os filhos para se abrirem ao mundo, “mas há também o direito a ficarem e a construírem a sua vida no espaço que lhe é familiar”.
“Quem é daqui, quem gosta de estar aqui, quem se realiza aqui tem o direito de ficar aqui”, comentou Vítor Neves, considerando ter sido um começar de colóquio com “chave de ouro”. Pegou, porém, no relatório “Movimento pelo Interior” datado de 2018 para alertar que “na faixa litoral está concentrada 83 por cento da riqueza produzida, 89 por cento dos alunos do ensino superior e 89 por cento das dormidas de turistas”.
Ao desafio de como “reinventar o interior”, António Amaro, especialista em História Económica da Universidade de Coimbra, que já se tinha demorado na defesa da regionalização, considerou que “ninguém tem a solução na mão”. Disse que gostava de ver “alguma radicalidade” nas pessoas “no sentido de despertar consciências para a necessidade de uma reforma do Estado, “de alto a baixo, para que possamos conhecer o nosso território e ver as pessoas a ter um papel ativo”.
Para João Luís Fernandes é “muito importante a cultura territorial e o conhecimento do seu património” como forma de defender o interior, entendendo que “é preciso trabalhar aquilo que existe em algum lugar, e não partir daquilo que falta”. O especialista em Geografia Humana já tinha também alertado para as consequências políticas que decorrem das assimetrias. “A falta de gente é penalizar o interior”, avisou, alertando para a necessidade de se banirem termos como “subsídios e discriminação positiva”. “O papel do eleitor é muito importante: temos eleitores há serviços. Não temos eleitores não há serviços”, referiu.
Por terras do interior, Lúcio Cunha, especialista em Geografia Física da Universidade de Coimbra deitou por terra o “mito do turismo redentor”. “Andamos há 30 anos a reinventar o Turismo no interior do país… e não conseguimos que eles (turistas) durmam por muitos dias, comam e gastem”. Para o especialista, a criação do Geopark Estrela “vai ser uma forma importante de impulsionar o turismo. “Enquanto o Parque Natural constrange, o Geopark abrange e dilata”, comentou Lúcio Cunha, considerando ainda que o que faz falta ao interior “é dinheiro, empreendedores e a reinvenção da indústria”.
“Sem soluções” para a reinvenção do interior que não é rico, José Conde e Ana Fonseca, do Centro de Interpretação da Serra da Estrela consideraram que “há margem para progressão”. “É importante promover a animação ambiental, o desporto de natureza. Estas atividades podem ser muito importantes na dinamização da economia local”, referiu José Conde que também considerou fundamental uma rede de percursos pedestres, assim como o “aumento da empregabilidade, a melhor gestão florestal que pode evitar incêndios e o desprezo pelo interior”. Ana Fonseca acrescentou ainda a importância da qualificação dos recursos humanos”.
Num colóquio em que também se ouviram as inquietações de alguns jovens sobre o seu futuro no interior do país, José Francisco Rolo, vice-presidente do Município de Oliveira do Hospital disse ter registado ideias que espera que resultem em fundos para o interior, centrando-se também no paradoxo do “direito de sair e o direito de ficar”. “Eu saí temporariamente e regressei”, referiu o responsável, assegurando que “tudo fará para que os Projetos de Interesse Nacional (PIN) possam ser só projetos para a faixa interior de Portugal”.